Conimbriga e os Suevos

Abstract: There are several places in Galicia and northern Portugal called Cumbraos, Cumbrans and Coimbrões, documented in the Middle Ages in the form Colimbrianos or Conumbrianos, that is 'People from Conimbriga', actual Coimbra. We don't know for sure when or why the people from Coimbra founded these places, but a notice from the chronicle of Hidatius (Vth century) opens an explanation: after a Suebi raid on the city, which partially wasted it, some of the inhabitants were captured and conducted abroad.


Som vários os topónimos chamados Cumbraos, Cumbráns, Coimbrões e Columbrianos espalhados pola Galiza, o Berço e mais o norte de Portugal. O seu étimo é bem conhecido, já que se apresentam nas fontes alto-medievais de começos do século IX: Colimbrianos, quer-se dizer, gentes de Conimbriga, a velha Coimbra que veu trasladada na alta idade média sé e topónimo para a próxima Aeminium, que é a actual.

  • Cumbráns (115 hab.- Maçaricos, Crunha)

  • Cumbraos (20 hab.- Vedra, Crunha)

  • Cumbraos (7 hab.- Lugo, Lugo)

  • Cumbraos (12 hab.- Tavoada, Lugo)

  • Cumbraos (42 hab.- Silheda, Pontevedra)

  • Sam Martinho de Cumbraos (freguesia com 34 hab.- Monte Roso, Lugo) ˂ 'dominus Simon de Coynbraos' (Vilar de Donas, 1260)

  • Sam Jiao de Cumbraos (freguesia com 271 hab.- Sobrado, Crunha) ˂ 'iuxta flumen Mandeum usque in terminos de Colimbrianos, et inde in terminos de Ruadi' (Sobrado 803); 'uilla que est usque in terminos de Colimbrianos, et inde usque in terminos de Roadi' (Sobrado 817); 'in monte qui est iuxta flumen Mandeum in terminos de Colimbrianos' (Sobrado 860); 'in uilla que dicitur Colimbrianos, subtus monte Anara, territorio Presares' (Sobrado 920); 'Marzane, Codessoso, uilla de Rechar, ecclesia Sancti Iuliani de Colimbrianos media cum uilla Petrauco, Sancti medie, uilla de Felgoso' (Sobrado s.d.); 'donationis quam fecit rex Fernandus de ecclesia beati Iuliani de Colimbrianis domno Martino archiepiscopo Compostellano.' (Sobrado s.d.)

  • Santa Maria de Cumbraos (freguesia com 243 hab.- Messia, Crunha)


No Berço:

  • Columbrianos (1869 hab.- Ponferrada, León)


Em Portugal:

  • Coimbrões (Vila Nova de Gaia, Porto)

  • Coimbrões (Viseu, Viseu)

  • +Colimbrianos (extinto? Entre Neiva e Cávado, Portugal), em 'ripa Nauie, uilla Cendoni cum adiunctionibus suis; villa Britello et Colimbrianos; in ripa de Catauo, uilla Caretello (Sobrado 959); 'ripa Neuie, uilla Cendoni cum adiacentiis suis, uilla Britello et Colimbrianos. in ripa de Cadauo, uilla Caretello' (Sobrado 977).

    Por certo, que aqui vemos que o antigo nome do Neiva era Navia (como vários rios galegos e como a Deusa pre-romana).


A evoluçom dos topónimos galegos tem sofrido idêntica reduçom de ditongo [oi] ˃ [u] que a verba curmao:

curmao ˂ *cõirmão ˂ congermanum

cumbraos ˂ coymbraos ˂ colimbrianos

Mais se sabemos quê som e qual é o étimo destes topónimos, nom sabemos o quando nem o por quê da sua formaçom. Examinemos esta questom, indo dumha data máis recente a outra máis antiga:


1º) Tenho lido a atribuçom destes topónimos aos cristiáns que teriam fugido da cidade quando esta foi tomada polos muçulmáns de Almançor perto do ano 1.000. Mais como vimos, estes topónimos som conhecidos desde o ano 803, dous séculos antes, e sabemos pola documentaçom do momento que nom se produziu um êxodo dos habitantes de Coimbra cara ao norte. Tamém poderíamos pensar que estes topónimos som devidos á conquista muçulmana do século VII. Mas entom, por quê nom hai tamém outros topónimos com referência à gentes de Lisboa, Santarém, ou outras cidades importantes? E porquê havíamos achar coimbrões refugiados ao sul do Douro? Contudo, temos um documento galego moi antigo onde um home saído de Coimbra a fins do século VIII funda várias igrejas na Galiza: 'ego Roderigo Diagunus egressus fuit de Colimbria civitas, et pervenit in Galletia riba Ameneda rivulo subtus Monte Cervario' (CODOLGA, ano 787). Mais esta fugida é umha aventura individual, nom um movimento de povoaçom a grande escala.


2º) A meados do século VII Coimbra, Viseu, Lamego e Idanha passam de depender da provincia de Galiza, com capital em Braga, cabeça da igreja herdeira da igreja sueva, a depender de Mérida, capital da Lusitánia visigótica. Podia ter sido umha ocasiom menor para que algumhas gentes saíram cara ao norte do Douro, mas voltamos à mesma dúvida, por quê nom hai reflexos toponímicos das gentes de Lamego, Viseu ou Idanha, todas elas sés episcopais dos suevos?


3º) Recuando inda máis no tempo, achamos o grande momento para a apariçom destes topónimos nos sucessos dados em Coimbra o ano 468, isto é, o assalto à cidade por parte dos suevos, coa parcial demoliçom das suas muralhas e casas, o que as excavaçons arqueológicas mostram que ocasionou o abandono por parte da sua povoaçom. O cronista Hidácio informa-nos:

'Conymbriga in pace decepta diripitur. Domus destruuntur cum aliqua parte murorum, habitatoribusque captis atque dispersis et regio desolatur et civitas.' (Hid. Chron. 236: '[ano 468] Coimbra é saqueada [polos suevos] trás ser surpreendida por um engano: as casas som destruídas junto com partes das muralhas, os habitantes presos e espalhados, e a regiom desolada co território da cidade').

Quer-se dizer, nom só foi destruída parcialmente a cidade, sendo parcialmente abandonada (o que é confirmado pola arqueologia), senom que tamém os seus habitantes forom capturados e espalhados. Na minha opiniom, os nossos topónimos Cumbraos, Cumbráns, Columbrianos e Coimbrões, som todos estabelecimentos dados naqueles lugares a onde forom conduzidos como servos parte dos antigos habitantes da cidade, logo de serem capturados. Os que quedarom refundarom Coimbra onde hoje é Condeixa-a-Nova, no entanto o bispado e o topónimo ia-se mudar para a cidade de Aeminium, a umha quinzena de quilómetros, a actual Coimbra. E nesta teoria explicativa coincidem os feitos conhecidos cronisticamente (assalto da cidade, espalhamento dos habitantes), arqueologicamente (abandono da cidade, destrucçom e saqueo, presença de elementos germánicos, nomeadamente fivelas de tipo armbrustfibeln) e cronologicamente. Por outra banda, sabemos por Hidacio doutras expediçons suevas de saqueo das que retornaram com prisioneiros, por exemplo da provincia Tarraconense:

'Rechiarius mense Iulio ad Theodorem socerum profectus Caesaraugustanam regionem cum Basilio in reditu depraedatur. Inrupta per dolum Elerdensi urbe acta est non parva captivitas.' (Hid. Chron. 134: 'Requiario no mês de Julho parte ao seu sogro Theodoro [Theodorico], e ao retorno saquea a regiom de Saragoça junto com Basílio. Entrando com traiçom na urbe Ilerdense [Lérida] leva a cabo a captura de nom poucos')

'rex Suevorum Rechiarius cum magna suorum multitudine regiones provintiae Terraconensis invadit acta illic depredatione et grandi ad Galleciam captivitate deducta.' (Hid. Chron. 165: 'o rei suevo Requiario cumha grande multitude dos seus invade as regions da província Tarraconense, levando a cabo ali saqueos, sendo levados como prisioneiros os poderosos à Galiza'.

Poderiam ser topónimos como Bardaos ˂ Barretanos e Barredaos lembrança destes assaltos sobre o Mediterráneo? O sufixo -etani é típico dos nomes das povoaçons do leste e sul da península: Ausetanos, Bergistanos, Cerretanos, Laietanos, Iacetanos, Turdetanos, Lusitanos...


  • Sam Juliam de Santalha de Bardaos (freguesia de 32 hab.- Oíncio, Lugo) ˂ 'alia villa in Sumoza de Lemabus, villa in Barretanos' (Samos 1074); 'prope aula sancte Eolalie de Bardanos' (Samos 1075)
  • Sam Joám de Bardaos (freguesia de 47 hab.- Oíncio, Lugo)
  • Barradaos (7 hab.- Silheda, Pontevedra)
  • Santa Maria de Bardaos (freguesia de 279 hab.- San Sadurninho, Crunha)
  • Santa Maria de Bardaos (freguesia de 631 hab.- Tordoia, Crunha)


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Umha reflexom histórica final: Paradoxalmente a destruçom sueva tem preservado até os nosso dias as ruínas de Conimbriga, provavelmente a cidade romana melhor conservada da nossa península.


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