As outras Brigantias (II)






B.1.- Baiobre (58 hab.- Arçua e Touro, Crunha)

De *Bad-yo-bris 'Castro Dourado' (PIE *badjo, IEW: 92) ou de *Bāg-yo-bris 'Castro da Loita' (PIE *bhegh-, IEW: 115). Cfr. Irlandês antigo bāg 'combate', buide 'dourado'. Nom sei se terá relaçom com outros topónimos galegos como Baiom, ou Baiona.




B.2.- Banhovre / Bañovre (8 hab.- Guitiriz, Lugo).

Veja-se o seguinte, idêntico.




B.3.- Banhovre / Bañobre (272 hab.- Minho, Crunha)

Prósper (2002: p. 377) pensa vir este topónimo, 'sin duda', de *Bannobris 'Castro do Monte', sem reparar em que em galego nunca o grupo -nn- da umha nasal palatal, que procede em geral na nossa língua dum grupo de n mais iode [ny] (Espanha ˂ latim HISPANIAM), ou dumha [i] ou [e] em hiato (minha ˂ mia ˂ latim MEAM. dialectal senha ˂ sia ˂ sea 'seja'). Vejam-se as oposiçons gal. pena / esp. peña ˂ latim PINNAM, gal cana / esp. Caña ˂ latim CANNAM... Um étimo como *Bannobrim teria dado **Banovre em galego.

Só acho duas citas antigas (para a segunda que penso que já o ˂n˃ é grafia dumha nasal palatal ˂nh˃):

'et est ipsa hereditate in villa que vocitant Baniovre, territorio Prucii' (CODOLGA: Caaveiro 1143)

'Vermudo in Villar et in Nogueirosa et in Banobre et do ibi habere meum' (CODOLGA: Pontedeume 1151)

Possível etimologia: de *Bānyobris, 'Castro-branco'. Cf. antigo irlandês bān 'branco', de PIE *bhā- 'brilhar' (IEW: 104-5), veja-se máis adiante Vendabre, e repare-se nos topónimos Vilalva, Casa Branca...




B.4.- Baralhovre / Barallobre (18 hab.- Betanços, Crunha)

Ver os seguintes.




B.5.- Baralhovre / Barallobre (8 hab.- Friol, Lugo)

Ver o seguinte.




B.6.- Santiago de Baralhovre / Barallobre (freguesia com 1859 hab.- Fene, Crunha) 'Castro da Assemblea'
Este último dispom de boa documentaçom medieval:

'in ecclesia Sancti Iacobi de Baralouvre' (CODOLGA: Caaveiro 1107)

'Froyla presbiter ecclesie sancti Iacobi de Baraliobre confirmo. Froyla presbiter ecclesie sancti Mametis de Laragia confirmo. Iohannes presbiter ecclesie sancte Marine de Seliobre confirmo. Ordonius presbiter ecclesie sancti Saluatoris de Seliobre confirmo.' (Historia Compostelana 1110)

'et est ipsa hereditate in terra de Bisaquis, secus flumen Iubia, sub aula Sancti Iacobi de Baralovre' (CODOLGA: Caaveiro 1115)

'in terra Bisauquis de aecclesia sancti Stephani de Herenes, de medietate aecclesia ipsius quinta, et alia medietate sexta, similiter et laycali hereditate. de aeclesia sancti Jacobi de Francia quarta integra. de aecclesia sancti Jacobi de Barallobre porcionem nostram totam.' (CODOLGA: Júvia 1125)

'porcionem eclesie sancti Martini de Aares et meam porccionem de Varaloure' (CODOLGA: Júvia 1125)

'et de ecclesia Sancti Iacobi de Baralovre et de ecclesia Sancti Salvatoris de Maninos nostras ibi damus integras portiones' (CODOLGA: Caaveiro 1133)

'secus flumen Iubie, discurrente ad aulam Sancti Iacobi de Baralovre' (CODOLGA: Caaveiro 1157)

Provavelmente da palavra baralha, que nas fontes medievais vem significar 'assemblea, reuniom, juízo, debate, conversaçom, discussom, confrontamento', melhor que do moi tardio varal 'vara', de onde poderiamos tirar um interessante 'Castro da Paliçada' ou similar. Suspeito e imagino que estes castros seriam lugares principais, onde as gentes de castros vezinhos viriam a se reunir pra toma de decisons de natureza jurídica, legislativa e executiva.

Ver o post 'Baralhovre', onde trato com máis profundidade este topónimos.




B.7.- +Basobre (extinto, por Culheredo, Crunha)

'in terra de Faro, Sancta Eolalia de Cariolo et ecclesia sancta Maria, et uilla de Orrio, et ecclesia de Ozia, uilla Basobre, uilla de Azobre' (Sobrado s.d., antes do s. XII)

Nom tenho umha boa etimologia para o ˂s˃ deste topónimo; non sei se remete a um -s- etimológico, ou a um grupo -ss- que proviria ao seu tempo da assimilaçom de -ns- ˃ -ss-, ou da assibilaçom de duas dentais, -dt- ou -tt- ˃ -ss-. Tal vez provem do mesmo IE *bed-to- que da orige ao latino bassus 'grosso, gordo' (e já logo, 'baixo').
Um par de topónimos de aparência prelatina amossam nomes similares: Basonhas (Porto do Som), e Basadre (freguesia em Agolada), co seu diminutivo Basadroa ˂ *Basadrola.




B.8.- Bedrove / Bedrobe (129 hab.- Tordoia, Crunha) ˂ Bredovre ˂ *Britobri

A única cita antiga que conheço, de seguido, permite reconstruir umha forma *Brito-bris 'Castro do Juízo' (do PIE *bher- 'levar': galo vergobreto 'máximo magistrado, entre as civitas dos Aeduos', irlandês brith 'juízo'; IEW: 128-132).

'et Johan Afonso et Afonso Rodriges moradores en Bredovre' (TMILG: Santiago 1385)

Moitos dos topónimos rematados em -rove procedem de formas que tenhem sofrido perda de vibrante por dissimilaçom: Bedrove ˂ Bredovre, Castrove ˂ *Castrobri, Cortove ˂ *Cortobri, Landrove ˂ *Landrobri, Lestrove ˂ *Lestrobri, Montrove ˂ Montrobre, Ogrove ˂ Ogrovre...




B.9.- Sam Miguel de Biobra (83 hab.- Ruviá, Ourense)

Nom conheço documentaçom antiga deste topónimo. O segundo termo deve proceder com seguridade da forma, comum no sudeste da Galiza, -briga ˃ -bria ˃ -bra. Para o primeiro elemento 'arrisco-me' a propor *widu- 'bosque' (IEW: 1177), ou *bedo- 'canal' (IEW: 113-4), ou incluso *biwo- 'vivo' (IEW: 467-9) ou *belo- 'brilante, branco' (IEW: 118-120). Eis a importáncia de contar com boa informaçom diacrónica à hora de interpretar um topónimo quaisquer.




Em Portugal, em Covilhã, Castelo Branco existe um lugar de nome Boidobra, tal vez de *Bōdiobriga, co primeiro elemento procedente do céltico *boudi- 'vitoria' (IEW: 163), mais nom sei se a preservaçom do /d/ intervocálico, raramente admissível para a Galiza, é admissível para a toponímica de Castelo Branco. De nom o ser tal vez o étimo fosse melhor *Boutobrigā (de PIE *bhou-?, de onde bretom bout 'cabana', IEW: 146-150).




Os seguintes topónimos, os frequentes Bembrive / Bembibre, nom tém nada que ver cos anteriores. Por umha banda a sua distribuiçom, em Castela e no sul e este da Galiza, cum único exmplo no noroeste, é moi distinta da dos outros topónimos em -bre; por outra, a informaçom diacrónica da que dispomos, que aponta a um étimo romance latino em orige, Bene Vivere 'Bem-Viver', nom semelha congruente co possível étimo pré-latino que se tem proposto (*Paemeiobriga, topónimo conhecido dumha incriçom achada em Bembibre, no Berço: 'castellanos Paemeiobrigenses').

A proposta desde Paemeiobre, baseada na pretensom de identificar o topónimo antigo co actual, requere a inaudita perda do /o/ tónico, e o passo de p- incial a b- (e de supor que por fonêtica sintáctica) que só pode ser considerado excepcional. Assemade, de Paemeiobrigenses (como derivado de Paemeiobriga) aguardaríamos um topónimo rematado em -bria ou -bra, nom em -bre.

Os Bembibre que conheço som os seguintes:



  • Belbimbre (77 hab.- município de Burgos)


  • Castromembibre (76 hab.- município de Valhadolid)


  • Monte Membribe (0 hab.- Budia, Guadalajara)


  • Membribe de la Hoz (51 hab.- município de Segóvia)



  • Membribe de la Sierra (160 hab.- município de Salamanca)



  • Bembibre (10053 hab.- município leonês no Berço)



  • +Benevivere (extinto, por a Bola, Ourense), em 'hereditates uocabulo quod nuncupant Beneuiuere et alia que dicunt Marinotas' (Celanova 929)



  • Santiago de Bembrive (freguesia com 4155 hab.- Vigo, Pontevedra) ˂ 'de Biadi tres partes cum cauto suo, s. Jacobi de Benevivere integra cum cauto suo, s. Jacobi de Vigo integra' (CODOLGA: Tui 1156); ''in Turonio Benevivere dictam etiam, & Parata in ripa de Minor' (CODOLGA: Lugo 915)



  • Sam Salvador de Bembivre / Bembibre (freguesia com 911 hab.- Val do Dubra, Crunha) ˂ 'cum quarta et media ecclesia sti. Saluatoris de Beneuiuere. pars cariterii sci. Thome de Oiames due partes' (CODOLGA: Santiago 1228)



  • Sam Pedro de Bembivre / Bembibre (freguesia com 119 hab.- Tavoada, Lugo) ˂ 'Petrus Fernandi prelatus sancti Petri de Benvivre' (CODOLGA: Osseira 1249)



  • Membrive / Membribe (9 hab.- Abadim, Lugo)



  • Santo André de Bembivre / Bembibre (freguesia com 75 hab.- Viana do Bolo, Ourense)

Note-se a dissimilaçom entre bilabiais que se da em Membrive. Quero remarcar, assemade, como todas as citas (remeto nisso ao CODOLGA) amossam a forma Benevivere até já o século XIII, quando lemos:

'Sancti Jacobi in terra de Benibibre et in Benibibre' (CODOLGA: Santiago 1232)
'Petrus Fernandi prelatus sancti Petri de Benvivre' (CODOLGA: Osseira 1249)
'Petrus Petri de sancto Petro de Venbibre' (CODOLGA: Osseira 1272)
'Iohannis Pelagii clerici sancti Saluatoris de Bemuiure' (CODOLGA: Santiago 1283)

Pode-se propor que Bene Vivere é umha reinterpretaçom notarial dalgum topónimo raro, mais acho difícil assumir que todos os notários mentissem e reinterpretassem os mesmos e afastados topónimos ao seu gosto no mesmo tempo. Daquela, e reconhecendo que podo errar, Bembívre ˂ Béne Vivére, com adequaçom da tonicidade do composto ao comum dos romances peninsulares, fazendo sílaba tónica a penúltima. Em todo caso, a sua distribuiçom nom é razoavelmente coerente coa dos outros compostos a tratados.







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