Repasso a alguns germanismos do galego
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lengua castellana.
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T.C e Friedrich Christian Diez (1864) An
etymological dictionary of the Romance languages.
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Galicia: o enxoval.
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Varela Sieiro, Xaime (2008) Léxico cotián na alta Idade Media de
Galicia: a arquitectura civil.
CORPORA
E DICIONÁRIOS:
*
TMILG (ILG).
*
TILG (ILG).
*
CORDE (RAE).
*
CODOLGA.
*
Corpus do Português,
de Mark Davies e Michael J. Ferreira.
Já havia tempo que
queria levar a cabo um repasso dos germanismos e possíveis
germanismos do galego, cumha posta ao dia dos já tratados noutros
posts, ampliando com outros possíveis germanismos já antigos na
nossa língua, ou máis ou menos exclusivos ou restritos ao galego e
ao português... E acrescentados com germanismos já incorporados na
idade media. Rematando este breve limiar, lembremos que até o século
XV os nossos germanismos chegárom em três momentos, ou por três
vias:
1.- Germanismos já
incorporados no Latim Vulgar falado no ocidente do império romano,
máis germanismos traídos polos suevos, máis germanismos traídos
polos visigodos. Estes germanismos em geral amostram uma facies
moi antiga, moi próxima ao germano comum tal e como é usualmente
reconstruído. Por vezes, algumhas palavras podem mostrar evoluçons
que indicam já umha certa adscriçom dialectal; por exemplo, trégua,
escá, laverca, trigar amossam fenómenos como
o reforçamento da articulaçom de -ww- > -gw- (*trewwa > got.
triggwa ), ê > â (escala < eskêlô), nh > h e ē > ī
(trigar < *þrīhanan < *þrenhanan), z > r (laverca <
*laiwezikô(n): rotacismo e i-umlaut). Com respeito à sua
distribuiçom, consideram-se germanismos comuns já introduzidos no
latim vulgar aqueles presentes geralmente na França, na Itália e na
península ibérica, sem amossarem fenómenos dialectais; goticismos
aqueles de âmbito máis restringido (polo geral, península ibérica
e/ou sul da Franza, junto com Itália) que amossam rasgos dialectais
góticos, ou nom amossam rasgos dialectais próprios do fráncico ou
do alto alemám (fronte, por ejemplo, aos longobardismos, que já
amossam frequentemente os efectos da segunda rotaçom consonántica
germánica). Por último, suevismos consideram-se, geralmente e quase
por exclusiom, aqueles germanismos de âmbito moi restringido (Galiza
+ N Portugal) sem correlatos noutras línguas romances, ainda que é
frequente que moitos autores considerem estas verbas (visi)goticimos,
ignorando que a presença goda na Galiza é menor.
2.- Germanismos chegados
da França, das línguas de Oïl ou de Oc, durante a plena idade
média, tanto por médio da lírica provençal, como polos
peregrinos, ordes religiosas, bispos, condes e demais franceses
vindos ao ocidente da península, especialmente durante os séculos
XII e XIII, máis já desde os tempos do rei Afonso VI, na segunda
metade do século XI.
3.- Germanismos
relacionados coa navegaçom. Boa parte do nosso vocabulário
marinheiro, nomeadamente aquel que se refere às partes da nave e aos
aparelhos dos ofícios do mar, têm orige germánica, e foi tomado
directa ou indirectamente do neerlandês, o inglês, e as línguas
nórdicas, moitas vezes através do moi germanizado léxico
marinheiro dos navegantes franceses. A documentaçom medieval
pontevedresa é umha magnífica amostra da riqueza deste léxico, que
por vezes tem colhido novo pulo já em terra.
Os germanismos entrados
posteriormente já o fixérom maioritariamente via o castelám, a nom
ser uns poucos tomados directamente (verbi gratia,
brus, ou escova para lavar, tomada dos ingleses no passado
século XX, senom antes).
~o~o~o~
1. Começo por aqueles
palavras ou famílias de palavras que eu tomara tempo atrás por
germanismos, mais que agora ora acho que nom o som, ora coido que
esta possibilidade nom é a máis provável. Por exemplo, os verbos
banguolear, banguear, bangar 'bambolear,
nom assentar', ou o sintagma em bango 'em
vaivém, mal assentado'. A sua relaçom etimológica co verbo
'bambolear'
(que Coromines considerava de criaçom expressiva: castelám bamba,
bambalina)
parece-me dificilmente questionável, e consequentemente desisto da
etimologia que eu propunha, a partires do PGmc (proto-germánico)
*wangaz 'fiel, meadow, slope' (gótico waggs
‘paradise’, nórdico antigo vangr
‘garden, a green home-field’, anglo-saxom wang
‘field, plain, land, earth’: Köbler 2007 s.v., Orel 2003 s.v.),
donde tamém o bearnês gange
'Berggrat' (REW 9499. significando 'cresta montanhosa'). Outra cousa
distinta é o topónimo Banga,
medieval Vanga,
que pode proceder directamente dum germanismo *wangaz; a dificuldade
aqui estriba no facto de nom se reforçar o /w/ em /gw/, do que porém
na Galiza temos alguns outros exemplos na toponímia com orige
antroponímico (Vilhamil/Guilhamir < Uiliamiri). Tamém cabe a
possibilidade de partir doutra língua indo-europea que tiver herdado
umha forma *wang- partindo do mesmo étimo, o PIE *weng- 'estar
curvado'.
2. Outro caso é o de
catrapiar 'andar mal um
animal; mexer', que eu traia dum germánico *(ga-)trappjanan
'pisar, tripar', mais que está relacionado sem dúvida co castelám
cuatropeado 'tipo de danza',
de cuatropea 'animal quadrupedo', do latino QUADRUPES,
ainda assumindo umha possível influência de tripar, trepar
'trilhar, pisar'.
3. Nom o tenho tampouco
claro no caso de gaspalho 'fragmento,
palhinha', gaspalhar
'destroçar, desfazer'. Eu propunha que esta verba procedia
dum germánico *ga-spelljanan, de *spelljanan 'partir, fragmentar'
(Köbler s.v.), relacionado com *spelþjanan 'destruir, botar a
perder' (nórdico antigo spilla
‘to spoil, to destroy’, anglo-saxom spildan
‘to waste, to destroy’, AAA (antigo alto alemám) spilden
‘to waste’, cf. Orel 2003 s.v.). Mais Coromines propunha para
gazpazcho unha relaciom com caspa
'resíduo, fragmento' (em si de orige desconhecido) e para esta verba
umha possível relaçom co francês antigo gaspaille,
occitano
gaspo
'resíduos
vegetais, ou do leite', Asturiano caspia
'bagaço, resíduo da maçá'.
As nossas verbas galegas som cognatas claramente das francesas:
* gaspalho/gazpalho
'fragmento, palha; resíduo dum líquido; gaspacho' → gaspalhada
'conjunto de gaspalhos'; gaspalheira, gaspalhedo/cazpalhedo
'terreo irregular, com torrons ou lastras'; gaspulhada 'restos
de madeira, vegetais', gaspalhar 'destroçar, desfazer'.
* caspa 'casca,
lastra' → caspela, caspulha/gaspulha, cáspara 'caspa';
caspento, casposo 'com caspa';
gazpalho 'rama'; cazporra, cazparro 'enfermidade
das raízes das plantas, tumor',
Contodo,
podo gabar-me da minha etimologia: já fora proposta no passado para
o francês gaspaille
(cf. GERT 684), mais nom é questiom simples. Eis o que nos oferece o
francês Centre
National de Ressources Textuelles et Lexicales:
Étymol. et Hist.
1549 (Est.). Gaspiller est prob. issu du
croisement de gaspailler, terme dial. de
l'Ouest (Nantes, Few t. 14, p. 195a) « rejeter les balles de blé »
puis « répandre la paille (du blé) » avec le prov. gaspilha
« grapiller, gaspiller » (Mistral), cf. le m. fr. gapiller
(1578, La Boderie ds Gdf. Compl.). Gaspailler est dér. de l'a.fr.
*gaspail, attesté dans le syntagme
jeter à waspail (forme hypercorrecte de la région picarde ou
influencée par waster [gâter*]) « gaspiller » (ca 1200, J.
Renart, L'Escoufle, éd. F. Sweetser, 1517), cf. lat. médiév.
vaspale « balles de blé » (1194), gaspalium (1121 Le Mans ds Du
Cange, s.v. gaspaleum), wallon de Jalhay
et de Sart-lez-Spa [sud de Verviers, Belgique] wèspa (équivalant à
wespail) « déchets de paille, faisceau de déchets » (E. Legros ds
Mél. Roques (M.) t. 4, 1952, pp. 164-165), poit. gaspailles «
balles de blé rejetées par le van » (1516 ds Gdf.). *Gaspail est
dér. d'un type *waspa « déchets » (cf. l'a. prov. gaspa «
fromage de [petit] lait caillé » 1450, Pansier, t. 3), d'orig.
discutée. Pour FEW, loc. cit., p. 196 ab (v. aussi Bl.-W.5; DEAF,
s.v. gaspail) reprenant l'hypothèse de J.V. Hubschmied (ds
Festschrift L. Gauchat, 1926, pp. 435-38), *waspa serait un mot
gaulois signifiant « nourriture » puis seulement « nourriture du
bétail, déchet » (de *wes- « nourrir », avec suff. -pa), auquel
se rattacherait un type secondaire *kaspa (par croisement avec des
mots sémantiquement voisins), base de mots désignant différentes
sortes de déchets dans la Péninsule Ibérique, l'Italie du Nord, la
Corse, la Sicile, le Pays basque. Pour Hubschmid fasc. 1, p. 26,
*waspa serait un mot de formation préromaine étymologiquement
différent du type *kaspa, tous deux étant seulement formés à
l'aide du même suff. préindo-européen, p- ayant ici valeur
diminutive. Fréq. abs. littér. : 275. Fréq. rel. littér. : xixes.
: a) 172, b) 269; xxes. : a) 494, b) 577. Bbg. Sain. Sources t. 1
1972 [1925], p. 142.
É óbvio que o galego
gaspalho é o mesmo que o gaspaleum
de Du Cange, que el definia como 'purgamentum frumenti post
ventilationem'. Daí temos o francês gaspiller,
co que comparte significado e significante. Os estudiosos indicam
pois um étimo *waspa, de possível orige céltica; um germánico
*gaspelljanan, de *spelljanan 'partir, fragmentar'; ou um derivado
dum pré-latino caspa. Para o
nosso gaspalho nom desboto um empréstimo medieval desde o
francês. O seguinte, umha cantiga do cura de Fruime, de 1779, é o
uso máis antigo que lhe conheço em galego:
“Non
fagas Copras mordentes ,
que no teu frío
gaspallo ,
ben conocemos ó allo,
sin
que nos mostres os dentes”
4. Máis simples é o
caso de gastalho, do que desboto plenamente a minha anterior
hipótese etimológica, onde relacionava a esta verba co antigo
inglês gestillan 'parar, deter,
aquietar', ao interpretar gastalho como 'ferramenta ou utensílio
para sujeitar', e (en)gastalh(o)ar como 'sujeitar, encaixar,
deter'. Mais tanto gastalho como gastalhar fam
referência antes as entalhas e rebaixas na madeira que à própria
acçom de imobilizar algo:
* gastalho
“Palo con una entalla para asegurar cualquier pieza
ayudandose de una cuña”
* engastallar
“Asegurar una cosa en una talla, regularmente por medio de
tacos o cola”
Consequentemente,
gastalho e engastalh(o)ar derivariam do medieval (en)gastoar
'embutir, rebaixar a madeira', de orige francesa e possivelmente
fráncica, dum germánico *kast- 'caixa' (e 'decorar a caixa com
motivos embutidos' → 'rebaixar a madeira (usualmente imobilizada)'
→ 'imobilizar').
5. Por outra banda (e
sinto aqui umha certa incomodidade) tamém propuxem ganir
'saloucar, gemer' < PGmc *wainōn 'queixar-se, lamentar-se',
quando (obviamente) ganir
deve proceder do latim GANNIRE idem. No meu descargo, Meyer-Lübke
propunha a mesma etimologia para o castelám da Estremadura guañir
(REW 9487), contando -isso si-
cum motivo fonético.
6. Outro termo complexo
é esmorecer, derivado do medieval esmorir, cujo
significado era no século XIII 'desmaiar, desfalecer' (DdDGM s.v.).
Lembremos a bem conhecida e moi rítmica cantiga do rei Afonso o
Sábio, denunciando a cobardia dalguns homes de armas (coteifes)
ao se enfrentar cos ginetes berberes:
“O genete
pois remete
seu alfaraz corredor:
estremece
e esmorece
o coteife con pavor.
Vi coteifes orpelados
estar mui mal espantados,
e genetes trosquiados
corrian-nos arredor;
tiinhan-nos mal aficados,
[ca] perdian-na color.
Vi coteifes de gran brio
eno meio do estio
estar tremendo sen frio
ant'os mouros d'Azamor;
e ia-se deles rio
que Auguadalquivir maior.
Vi eu de coteifes azes
con infanções [s]iguazes
mui peores ca rapazes;
e ouveron tal pavor,
que os seus panos d'arrazes
tornaron doutra color.
Vi coteifes con arminhos,
conhecedores de vinhos,
que rapazes dos martinhos,
que non tragian senhor,
sairon aos mesquinhos,
fezeron todo peor.
Vi coteifes e cochões
con mui [mais] longos granhões
que as barvas dos cabrões:
ao son do atambor
os deitavan dos arções
ant' os pees de seu senhor.”
pois remete
seu alfaraz corredor:
estremece
e esmorece
o coteife con pavor.
Vi coteifes orpelados
estar mui mal espantados,
e genetes trosquiados
corrian-nos arredor;
tiinhan-nos mal aficados,
[ca] perdian-na color.
Vi coteifes de gran brio
eno meio do estio
estar tremendo sen frio
ant'os mouros d'Azamor;
e ia-se deles rio
que Auguadalquivir maior.
Vi eu de coteifes azes
con infanções [s]iguazes
mui peores ca rapazes;
e ouveron tal pavor,
que os seus panos d'arrazes
tornaron doutra color.
Vi coteifes con arminhos,
conhecedores de vinhos,
que rapazes dos martinhos,
que non tragian senhor,
sairon aos mesquinhos,
fezeron todo peor.
Vi coteifes e cochões
con mui [mais] longos granhões
que as barvas dos cabrões:
ao son do atambor
os deitavan dos arções
ant' os pees de seu senhor.”
Os estudiosos assumem
umha relaçom máis ou menos directa co latim MORI, 'morrer', o que é
moi raçoável. Contodo, dado que em línguas romances MORI da orige
só a verbos significando 'morrer' (cf. REW 5681), e que a formaçom
**exmorire é desconhecida e nom tem produzido nengum tipo de
cognatos noutras línguas romances, nom desboto umha possível
relaçom co inglês antigo smorian
'perder/quitar o alento, afogar', dum PGmc *smorjan (Köbler 2003
s.v.) Nesse caso seria um germanismo relicto, exclusivo do
galego-português.
7.
Por outra banda, som firme partidário da orige germánica de grova
('corcova, burato, depressom', cf. Eligio Rivas, “Natureza,
toponimia e fala”, p. 84-85), precisamente pola sua presença
antiga na toponímia, já baixo a mesma forma actual:
*
'ex
alia parte villa de Grovas',
993;
*
'ex inde in festo et fere in illa grova
de Osorio Vermudiz, ex inde per casa de Segerigo', 1032, Braga –
Portugal
*
'directo usque ferit de testa in illas bauzas de illas grouas
illius castri', 1132, Sobrado.
*
'isti sunt termini, videlicet: cum Varedo dividitur per valle qui
dicitur de Estremam, quomodo vadit ad Piam de cercaria et cum Moradi,
et cum Vayna dividitur de ipsa Pia de Cercaria ad Armadam que dicitur
de Bidueiro, ubi sunt cruces in petris in via que vadit ad Moradi, et
de ipsis crucibus quomodo vadit ad Auterium quod est super viam que
vadit ad Belsar, ubi stat quedam Crux in petra, et de ipsa Cruce
quomodo vadit ad Petram forcatam, et de ipsa Petra forcata ad arcam
que dicitur de Sobereira, et deinde ad petram que dicitur de Baleam,
et de dicta petra ad Montem rotundum, et deinde ad Arcam de Montouro,
et deinde ad Grovam,
et vertitur ad supradictam vallem de Estremam', 1140 - Oia
Esta
orige já fora proposta por Sarmiento: do PGmc *grōbō 'cova, poça,
rego, trincheira' (got.
groba
'dugout, hole', Nórdico antigo grōf
'pit', AAA gruoba
idem). Nom o tenho tam claro no caso de engrova/engrovia
('Oueco
Petri das Ancroues',
1217),
nos
dicionários (DdD) 'cárcava, desfiladero'. Para el Piel propuxera o
latino INGLUVIES, 'gorja' (ver REW 4424), donde o toscano gubbia
'gorxa dos paxaros', ingubbiare
'comer a fartar'. Mais aparentemente INGLUVIES nom tem gerado
topónimos nem termos geográficos no resto da Romania.
8. Relacionado co
anterior temos a verba grava 'surco o zanja en tierra arroyada
por las aguas de lluvia' (DdD: Aníbal Otero), para mim sem dúvida
do PGmc *grabō (got. graba
‘trench, ditch’, nórdico antigo grof
‘hole, pit’, anglo-saxom græf
‘grave, trench’, AAA grab
id,cf. Orel 2003 s.v.). Uns documentos antigos podem ser: 'inprimiter
uilla de Graua' (1096,
Camanço), 'et est illa ereditate in Deça in ualle de Graua,
subtus monte Bustimori [?] [riu]-ulo Togia' (1110, Carvoeiro)
9. Relacionado com esta
verba temos o verbo gravar 'lavrar',
um empréstimo chegado do francês -ou mesmo do castelám- em épocas
recente; eu punha em relaçom co anterior o:
grabám 'clase de
arado de hierro para roturar. Reigada de
Monforte, Lu. Es equivalencia acústica de brabán.'
(DdD: Elixio Rivas),
brabám
'Clase de arado, recio, para romper monte y arrancar cozos.
Gundriz de Samos' (idem).
Este
grabám
semelha a primeira vista umha formaçom similar a tecelám
'o que tece', travám
'o que trava', mais o facto de serem verbas moi estendidas (ambas
verbas
e máis o objecto som conhecido tamém em Burgos,
e
nos Pirenéus oscenses),
e baixo formas moi similares, levou-me a suspeitar que ambas forem,
co catalám ''barbanta'', derivados da regiom de Brabante.
Efectivamente: todos
procedem do francês: “(carru de) Brabant”.
10.
Prossigo co arado. As orelheiras do arado, cuja funçom é a de
voltear a terra, recebem na Galiza entre outros nomes os de abeacas e
gueifas.
Gueifa (provavelmente de *gafia / *guefia) penso que é umha formaçom
deverbal dum verbo perdido *gueifar
< *gafiar/*guefiar 'revirar,
voltar' (note-se vessadoiro
= arado de coitelas, do latim versare 'revolver, revirar, voltar'),
do PGmc *waibjanan 'enrolar, envolver, vibrar' (got. biwaibjan
‘to surround’, AN veifa
‘to wave, to vibrate’, IA waefan
‘to wrap up, to clothe’, AAA ziweiben
‘to scatter’: Orel 2003 s.v, Köbler 2007 s.v. *waibjan)
relacionada co latim VIBRŌ. Entre
as formas romances relacionadas temos o Italiano antigo aggueffare
(Zaccaria
1900: 3; REW 9536; GERT 2433) 'ligar um fio a outro (co sarilho ou
aspas)'. Todo leva associado o movimento periódico, circular ou
linear. Dum conto popular na escrita de Carré Albarellos:
“O
vello, levando a besta pol-a corda, e o neto, teso como as gueifas
d'un arado, facendo como un home, e estricando os pés sen chegar as
estribeiras, marchaban pol-o camiño cheos de fachenda”
Hai
tamém um lugar de Gueifas
na Estrada, e penso que
nem o topónimo nem o substantivo têm relaçom algumha co arabismo
regueifa
'bolo de pam com ovo; rebanda ou fatia de pam → competiçom', mais
se algum ter quaisquer informaçom contraditória ao respeito, eu bem
a agradeceria.
11.
Prossigamos cos germanismos que acho que si o som, e que som máis
numerosos que aqueles recolheitos incluso nas monografias máis
actuais (cf. A History of the Spanish Lexicon: A Linguistic
Perspective de Steven N.
Dworkin, p. 72, 73). Por exemplo, um
germanismo moi enxebre é esmagar,
verbo que é frequentemente posto em relaçom co castelám
(d)esmayar,
Occitano esmaiar,
Italiano smagare
'perder as forças' e similar, todos derivados do germánico *maga
'poder fazer', donde *magenan é 'força'. Mais o nosso esmagar é de
facto um derivado de maga
'tripa de sardinha', já documentado no século XIII, num documento
real do tombo
A da catedral de Santiago: 'non
debent facere sagimen nisi de capitibus
et de maga
sardinarum',
1231, do PGmc *magōn 'estómago', donde o Italiano antigo magone
'papo', NA magi,
A-S maga,
AAA mago
'estômago'. Efectivamente, o saím ou azeite de pescado era
elaborado com maga e despojo de sardinha em lagares chamados
magueiros,
situados polos seus cheiros fora das cidades ('que
ninguna persona non seja ousada de fazer magueyro
nin cortello en ninguna rua publica',
ordenanças de Pontevedra, 1496), em Pontevedra por exemplo no bairro
da Moureira (de moura
ou moira,
salmoira).
Penso que o nosso esmagar,
que transmite a idea de pressionar, nom tanto a de perder os folgos,
nasce precisamente desta operaçom de estripar o peixe. Sarmiento
escrevia a meados do século XVIII:
“No
hay cosa más fácil que el extraer el saín de las sardinas.
Acabadas de sacar de las redes las descabezan las mujeres y echan las
cabezas en unos calderones. A esto llaman escochar.
Después les quitan todas las entrañas, y las amontonan con las
cabezas. A esto llaman esmagar
o quitar la maga,
porque lo interior de la sardina se llama maga.
Después, las cabezas y la maga
se ponen a cocer y la superficie es el saín, que se recoge en
vasijas.”
Como
uso habitual, gosto nom pouco da seguinte (suposta) carta ao director
publicada num periódico santiaguês em 1812:
“(
5 de febreiro de 1812 ) Señor Emprantador da Gaceta de Santiago: Eu
quixera espricar-lle ben craramente canto se folga o meu corazón coa
millor das novidades que teño visto na miña acordanza: falo da orde
que veu para que as aldeas escollan jueces a seu gusto, e para botar
por terra todas esas gavelas con que nos esmagaban
desde hai tanto tempo un fato de señores que eran mais ríspitos
para nós, que os mesmos reis.”
Si
poderiam ter relaçom co primeiro dos étimos os verbos amagar,
amagallar,
amagastrar,
que se remetem máis bem ao feito de abater, e esmagar, por força a
vegetaçom.
12.
Vamos coa palavra trofa,
já recolheita por Meyer-Lübke no seu magno Romanisches
etymologisches Wörterbuch, embora el conhecia unicamente o seu
emprego em português: trofa = 'caroço, cobertura de colmo para a
choiva'. Seguindo a Carolina Michaëlis de Vasconcellos, fixo-o
derivar da mesma forma germánica que o antigo alto alemám traufa
'beiral do tellado', o que em castelám chaman alero,
do proto-germánico
*draupjanan 'pingar, chuviscar, humedecer'. Esta etimologia foi
discutida depois por Meier, que propuxo um latim *tufula,
umha variante italiana do latim tubulus
que nom tem deixado descendentes noutros romances. Posteriormente,
ambas
fórom desbotadas por J. Piel por motivos semánticos e fonêticos,
e ainda que nom conheço a sua argumentaçom, suponho que a
etimologia latina foi rejeitada por complexa (*tufula > *tof'la >
*tofra > trofa), e a germánica por passar por exigir que o termo
procedesse dum dialeto germánico que tivesse sofrido a segunda
rotaçom consonántica germánica, algo nom compartido polos
antropónimos visigodos ou os suevos (ainda que os nomes vándalos
Tzatzo e Genzo/Gento poderiam amossar este fenómeno), e detectado
por vez primeira na antroponímia longobarda, quase cento e cinquenta
anos depois dos nossos germanos abandonar centroeuropa. Agora bem, se
nom é latina ou germánica, esta verba -que tem deixado tamém umha
vintena de topónimos no norte de Portugal- deve ser árabe (máis é
desconhecida no sul) ou pré-latina (mais o /f/ intervocálico é um
fonema extraordinariamente desusual para estar situado num contexto
fraco, e deve requerer um f geminado ou um grupo consonántico no seu
étimo). Eu pessoalmente fico coa proposta de Carolina Michaëlis,
tanto máis quanto que trofa
em galego é nom so umha coroça contra a chúvia, ou um teito de
colmo, é tamém um outro nome do lintel da porta de entrada à casa,
acepçom já moi achegada da do alemám traufe
'beiral do teito'. Quem a trouxo? Seguramente nom os godos, e
provavelmente tampouco os suevos que na Gallécia se estabelecérom
no século V. Lembrarei contodo que o Paroquial Suevo recolhe umha
paróquia de Francos, já no século VI. Puidera ser gente
recentemente vinda das beiras do Rim, invitadas a se assentar polos
suevos? Foi tamém no século VI que sabemos da chegada dos bretons
ao norte da Galiza, e, na proposta de Simon Young em Bretoña,
camiños novos, o seu
assentamento (ao modo de federados
ou aliados, máis que de refugiados)
puidera ter sido alentado polos suevos. Lembrarei tamém que o nome
Pantardo, do sucessor de Martinho de Braga, é um nome de aspecto
franco ou mesmo propriamente alemám, mais que suevo ou godo.
Lembrarei tamém que nomes como Ianuardus
( > Genarde,
Janarde, passim),
Francolinus
( > Francoim,
Rianjo), Gundelinus
( > Gondolhim,
Melide),
amossam elementos e sufixos desconhecidos na antroponímia dos
germanos orientais, o que poderia ser um outro indício de que
Martinho de Braga nom veu só de entre os francos aos suevos. Note-se
tamém que os vários Francelos
do país, se se remetem ao nome étnico Francos
como penso, amossam a palatalizaçom /ke/ > /se/, evidenciando a
sua antiguidade, entanto Trasanquelos,
fundaçom monástica do século XI ou anterior (na minha hipótese,
por monges vindos da terra dos Trasancos)
já nom.
~o~o~o~
13.
O
primeiro germanismo documentado na Gallaecia, nom neste caso na
Galiza, é granos
'bigodes, guedelhas, barbas'. Recolhe-se nas actas do I Concílio de
Braga do ano 561, em tempos do rei suevo Ariamiro:
“XI.
De lectoribus eicclesiae. Item placuit ut lectores in ecclesia habitu
saeculari ornati non psallant, neque granos
gentili ritu dimittant. “
É dizer, proibia-se ao
leitores das igrejas que cantassem os salmos, quando vestidos como
seculares, e exigia-se-lhes que deixassem de levar granos, ao modo
dos gentis. Notável, por quanto fornece um indício sobre os
hábitos dalguns suevos: levar granos (costume ariano ou
pagám?). Para Isidoro de Sevilha os granos eram
característicos dos godos, e fronte aos cirros (guedelhas)
dos germanos, o que tal vez afirma a proximidade cultural de ambas
gentes se é que granos era o mesmo para Isidoro e para os
bispos galáicos um século antes: “Nonnullae etiam gentes non
solum in vestibus sed et in corpore aliqua sibi propria quasi
insignia vindicant: ut videmus cirros Germanorum, granos et cinnibar
Gotorum, stigmata Brittonum”. Sim poder assegurar umha relaçom
directa co anterior, nó século VII os bispos godos assistentes a um
dos concílios toledanos repreendiam aos leitores galaicos por
levarem o pelo longo, ao modo dos seculares, rapando minimamente só
o topo da cabeça, costume que na Hispánia fora herética,
engadiam os bispos, sem mencionar porém a palavra grano.
Em fim, esta verba
procede do PGmc *granō, donde o antigo nórdico gron
'bigode', anglo-saxom ranu, AAA
grana. Dumha variante franca
*graniōn, ou similar, procede o nosso medieval granhom
'bigode':
“tam
bem barvado, e o granhon
ben feito”, (Cronica Troiana, c. 1371)
14.
Tamém guedelha
pode ser germanismo, ou um cruze de influências germánicas e
latinas: do latino VITICULA 'gavinha' e do germánico *wiþjōn
'vímbio, corda' (cf. Coromines 1997 s.v. guedeja; Orel 1997 s.v.):
'alçouse
al rrey hũa guedella et parouxillj dereyta' (Crónica Geral, c.
1295)
~o~o~o~
15. Outro dos nossos
germanismos é escarpa, 'astela, acha', escárpola 'cravo',
do PGmc *skarpaz (REW 7982, Orel 2003 s.v.) donde o inglês sharp
'afiado, agudo', Italiano scarpa
'costa' (donde o nosso escarpado),
e pode que o castelám escarpia
'ponta, cravo' (se nom procede em última instáncia do latim
SCALPRUM, como indicava Coromines, 1997 s.v.), assi como antigo
nórdico skarfr
'afiado, agudo', AAA skarpf
'afiado, áspero'. O nosso escarpa tem entre outras acepçons
'cortiça, códia rugosa, arneste', que se achega moito ao adjectivo
alto alemám.
16.
Pode que com menos garantias, mais avalado por Coromines (1997 s.v.
guiñapo),
temos
canipa
'pola seca', ganipo 'floco de lá' / ganifo
'resto', ganipón /
ganifón 'racha', esganipar / esganifar / escanifar
'romper, rasgar, rifar'...
Cognatos do asturiano
gañipo
idem, castelám guiñapo,
francês antigo guenipe
'farrapo',
do neerlandês knippen
'trosquiar', do PGmc *knīpanan 'beliscar'. Quer-se
dizer, da-se umha evoluçom semántica 'beliscar → tosquiar →
guedelha de lá → farrapo → resto/cousa sem valor'. A alternáncia
p/f é absolutamente inesperada, ainda que poderia achar umha
explicaçom simples se assumimos interferência de nifrar 'gemer',
senom directamente dum cognato alto alemám. Por escrito, desde o
século XVIII:
“Escanifado. Roto o
descosido” (Sarmiento, CatálogoVF 1745-1755)
“Camiñouse cara o
ullar tan pronto qu'as viu acesas, e xuntando unhas canipas
puso as pallas baixo delas asta que prendeu o lume” (Xesús
Rodríguez López, Cousas das Mulleres, 1895)
17.
Do proto germánico *krappōn 'garfo, grampa' (Orel 2003 s.v.; REW
4760), donde o francês grapon
'garra', occitano grapin
'áncora pequena', antigo nórdico kreppa
'pechar a man', temos provavelmente
garapelo
'feixe de erva', garapio
'forca
de dous dentes', e grampim
'áncora' (ver abaixo). Provavelmente
nom tem relaçom cos anteriores garapaldo/guiripaldo
'golpe dado co corpo', que tem aspecto de ser composto, já que -aldo
nom é sufixo em galego. Se alguém lhe conhecer umha boa
etimologia...
18.
O nosso galego pina
'cunha', pino
'lugar empinado; lança ou pértiga do carro; bolo/bola para jogar'
tamém
podem ser germanismo, seguindo a proposta de Coromines (1997 s.v.
pina),
do PGmc *pennō 'alfinete, unha, ponta' (REW
6509; Orel 2003 s.v.): inglês pin
'bolo, alfinete', nórdico antigo pinni
'alfinete', AAA pfin
'cravo'. Em Salzedo, à entrada de Pontevedra vindo desde Vigo, está
o lugar do Pino, que se acha entre o alto dumha lombinha e o rio
Tomeza ou dos Gafos.
19.
É tamém germánico, mais quase geral entre as línguas romances
ocidentais, o nome da goldra
ou gualdra,
a Reseda luteola (gonda
em português), planta produtora dum pigmento amarelo empregado
tradicionalmente em toda Europa para tingir coiro, linho, ou lá. O
seu nome já fora anotado por Sarmiento em 1745; do proto-Germánico
*walþō, de igual significado (REW 9490, Orel 2003 s.v.), donde o
francês gaude,
castelám gualda,
inglês weld...
Derivados: goldra,
goldracha,
goldralho,
goldromada
'lixo, borba', goldrar
'tingir
ou curtir', goldrón
'curtidor, peleteiro', goldro
'auga suja'... Todos devido aos subprodutos e resíduos da industria
dos curtidos e as tinturarias.
20.
Tamém
das línguas germánicas, temos apelativos como roám
'dourado baixo', cor para se referir a vacas ou cavalos, do PGmc
*raudōn 'vermelho' (Orel 2003 s.v.), já nas fontes alto-medievais
leonesas: “kaballo pro colorem raudane”
(Catedral de León, 979), e similarmente fouveiro,
do germanismo *falwaz 'amarelo' (REW 3174), onde o italiano antigo
falbo,
francês fauve,
anglo-saxom fealu,
AAA falo
'pálido, rúbio'. Do franco, via as línguas da França, temos
branco
(PGmc *blankaz 'branco, brilhante', REW 1152) e bruno
(PGmc *brūnaz 'castanho', REW 1340):
“Xa
que de min non te fías, Volve os teus ollos atrás;
Os
camiños que pisamos parecen ríos caudás,
E
o cabalo donde vou De blanco tornou roán”
(popilar, 1886)
21.
Do germánico *hrampaz, donde norueguês dialetal ramp
'home delgado', baixo alemám médio ramp
'espasmo', italiano
rampa
'garra', occitano rampa
'espasmo', francês rampe
idem (REW 6309, Orel 2003 s.v. *xrampaz), temos
o nosso ramp(r)ela/o,
rampónio
'vaca/pessoa/planta delgada/pequena/ruim', ramponho
'coco' ('*ser arrepiante, por contraído'?), onde a identidade formal
e semántica co norueguês é quase plena. Por outra banda,
ramp(r)elada
'feixinho de erva' semelha máis bem umha variante de rapada,
com interferências.
22.
Por outra banda, temos rafar
'gastar, consumir polo uso', rafa,
ranfanho
'migalha, resto, quantidade moi pequena', ranfom
'fatia de pam', seguramente relacionado co peruano ranfañote
'torta feita com fragmentos de pam' (vide
mais abaixo rispote,
raspote),
que poderiam ser cognatos (REW
7005)
do antigo alto alemám raffen
'arrebatar, arrancar', coa mesma orige que rapar,
e donde
os italianos raffare
(toscano) 'roubar', piamontino rafè
'enpacotar':
* “¡Ai! ¡cómo á
túa mamiña,
Ti, Virxiña, agarimabas
O añiño do pequeno
Que no dediño chuchaba;
E non tiñas, miña
xoia,
Do teu leitiño unha
rafa
Para darlle porque o
medo
Barreucho, Virxe da
alma;” (Jogos Florais da Corunha, 1861)
*
“Aínda non cumprira os doce e o tunante xa andaba
rafandolle ó pai moedas e ameazando a
criada para que lle dera parte das súas escasas ganancias” (Xosé
Miranda, Morning Star, 1998)
23.
Tamém pode ser um germanismo o nosso esquilfe,
esquilfo, esguilfo 'pessoa
moi delgada, consumida', esquilfar
'pelar, mondar, aproveitar excessivamente', tentativamente penso que
do germánico *skalfjō(n) 'cuncha, cortiça...' (Köbler 2007 s.v.),
do indo-europeu (s)kel- 'cortar' (cf. latim SCULPERE), donde o
frisom antigo skalvere
'mendigo, vagabundo', neerlandês médio schelver
`peça esfolada', AAA skelifa
'bandeja, casca, vaínha, tona, membrana', inglês shelf
'estante'. Contodo, a etimologia tem dificuldades
na vogal tónica, que devera ser a, sendo admissível e por metafonia
(i-umlaut); o i teria que se explicar por interferência ou pronuncia
pechada do e.
Se
algum conhecer umha melhor etimologia, fará o favor de a partilhar.
24.
Com algumha dúvidas, escote,
escoto
'broto da verdura, penacho do milho, resto de madeira serrada
(extremos que se curtam); regos numha leira' via francês ou
occitano, do PGmc *skeutanan 'arrojar, disparar' (GERT 1939, REW
8006a, Orel 2003, s.v.): inglês shoot
'disparar; broto', francês écot
'toco, fragmento de madeira', occitano escot
'astela, acha', gascón akutá
'cortar as polas dumha árbore'. E daí escotar,
escotanhar,
descotar
'recortar ou truncar um broto ou extremo':
“Joan
Fernandes, que mal vos talharon
essa
saia que tragedes aqui,
que
nunca eu peior talhada vi;
e
sequer muito vo-la escotaron,
ca
lhi talharon cabo do giron;
muit'i
é corta, si Deus me perdon,
por
que lhi cabo do giron talharon.” (Martin Soarez, s. XIII)
A
escote,
'a gastos compartidos', em galego já no século XVIII, vem do
francês antigo escot,
êcot
'quinhom dumha herdade', do germánico *skot- 'imposto', sem relaçom
co anterior.
~o~o~o~
25.
Vamos agora com brêtema
(brêtoma, brêtima),
'névoa chuvinhenta, vapor moi denso', outro germanismo reconhecido,
enxebre, e moi vivo. Como me retrucava aí atrás umha pessoa em
Boiro 'esso
nom eram chúvias, esso eram brêtimas!',
falando das poucas chúvias do passado inverno. É verba procedente
do PGmc
*breþmaz
(na
reconstruçom de Gerhard Köbler, outros autores: *brēþmaz)
'vapor, bafo', seguindo a Coromines, quem nom aceitou o étimo
MARITIMA proposto por Garcia de Diego, foneticamente inviável. É
palavra cognata do alemám brodem,
broden
'névoa, bafo', e foi posta por escrito por vez primeira por
Sarmiento, no século XVIII:
*
' Barrúfa. Es la niebla, barrufar verbo, es lo mismo que bretoma,
y si es pegajosa llaman mera.' (Catálogo VF 1745-1755)
*
“Pois corre unha bretomiña
que sempre trai burruallo e tolle e mirra legumes e corpos algo
pesados; Que crarexe o bo solsiño que axota todo nubarro e se vexa o
ceo limpo que alegra para o traballo” (Pintos, 1858)
26.
Outro germanismo reconhecido, este já galaico-português, é
laverca,
'cotovia', que
apresenta na Galiza as variantes laverco,
lamberca
(lambercas = viruelas), lavarquela,
navarquela,
labiarca
(na
fala de Goiáns, Tui, que ditonga as vogais abertas). Procede do PGmc
*laiwazikō(n)
via um suevo *lawerka (reconstruçons abonadas por Orel 2003 s.v.),
idem. Este
germanismo já foi identificado como tal por Sarmiento, quem
escrivia:
“La
voz laverca es purísima y antiquísima gallega, y significa la ave
que en Castilla llaman cugujada y en latín alauda . Reflexionando yo
en esa voz laverca, se me ofreció que sería gótica, y me salí con
ello. Por ser ave tan conocida, quise poner aquí muchos de sus
nombres, los más de los cuales se hallan en Aldrovando, en donde
trata de la alauda, sin acordarse de Galicia. Nombres de la laverca
gallego, cugujada castellano, alauda latín: Gallegos: laverca,
lodoa, cotovía, totovia; Castellanos: cugujada, gulloría, alondra,
calandria; Franceses: alouete; Italianos: lòdola, calandra,
allodetta; Latinos: alauda, galerita , galeritus, cassita, cucullata,
capelata; Griegos: korydalos, korydos, korys, korydon Dialectos de la
gótica: larkaen
sueco, leeuwerc
dinamarqués, lerch
alemán, lerck,
larck,
lauerock
en inglés, leeuuerck
sajón y flamenco, leeurick
holandés, laferc
anglosajón, laverce
también danés; Bárbaros: alcanabir, canaberi, alcubigi, cambura,
camberi, cambrah, han abroc, finore, skrziuuan en ilírico;
greco-bárbaros: chamo kyladi, lodola, scordalos, apadia, cuzula,
troulitis. Preséntese esta lista de cuarenta y siete nombres de la
cugujada a un niño gallego, que sólo sepa leer; pregúntesele ¿De
dónde viene su voz laverca? Dirá sin duda que está entre las diez
que tienen este rótulo, dialectos de la gótica. Ni ese niño ni yo
sabemos gótico. No obstante yo por la tal cual lectura afirmo
redondamente que la voz laverca la comunicaron a los gallegos los
godos o suevos.”
Hai
outra acepçom da palavra, laverco
= 'peixe salmónido (Salmo
trutta trutta)',
que penso deve ter outra orige última, ainda que a sua evoluçom
pode ter sido condicionada pola anterior palavra: poderia derivar
dumha variante *leuaricus, da verba (céltica?) leuaricinus
'certo peixe salmónido' ('Adams,
'The Regional Diversification of Latin 200 BC - AD 600', p. 296),
documentada umha única vez num laterculus
de Polemius Silvius, um escritor galo do século V, e donde o
francês lavert
(coregonus lavaretus >
Português lavareto).
Eis o que escrevia Sarmiento:
“Llaman
así en Pontevedra a un pez como salmón. Es más delgado y largo. Su
carne es blanca y de inferior gusto a la del salmón. No es el
zancado,
pues viene al tiempo de los salmones. Aquí en el río de Lérez, se
cogieron a 20 de marzo, de una sola redada ocho salmones y ocho
lavércos
o lavercas,
y comí de uno y otro. Aquí llaman lavércos
a los hombres tagarotes y rústicos (y también labancos
). Es creíble aluda al dicho pez y no al pájaro lavérca
o
cugujada”
Voltando
ao paxaro, do
étimo recontruído polos germanistas até a nossa verba vam vários
passos moi interessantes, entre outros o rotacismo de z (desconhecido
em gótico, polo que *laiwazikōn > *laiwarikōn), metafonia
(i-umlaut, tamém a priori desconhecida em gótico: *laiwarikōn >
*laiwerikōn por influxo do i da antepenúltima sílaba), reduçom do
ditongo /aj/ > /a:/ (como em anglo-saxom), e -ōn > -ā (ou -ō,
tendo em conta que laverco
é sinónimo). Evolutivamente, as formas máis achegadas som o
anglo-saxom láwerce,
e o danês laverce.
27.
Outros germanismos relativos a aves som meijengra,
ganso
e
gaviám. Ganso
é verba que na Galiza se documenta por vez primeira, como alcume, em
1315 ('Johan
Ganso').
Na
área de fala castelá a sua primeira cita é no Cancionero
de Baeza,
do século XV. Procede do proto-Germánico *gansz
(alemám
gans,
inglês goose),
de igual significado, sem que a verba galego-portuguesa e castelá
tenham cognatos noutras línguas romances. Gaviám já está
documentado desde meados do século XIII ('VIII.
soldos un gauiã
que deo prior ao arcediagoo enotro', c. 1250), e é cognato do
castelám gavilán.
Coromines propuxo para eles um étimo germánico, *gablaz 'forca',
polas garras da ave rapaz. Pola
sua banda, meijengra
(mejengra,
menjengra,
manjarenga;
e daí meijengro,
mesingo, menxerengo
'astuto') é outro germanismo que na península ibérica está
limitado ao galego-portugês (na Galiza, e já como alcume: 'aliam
leyram in Azela que fuit de casali de Meygengos',
1272).
Procede do PGmc *maisingaz
'titmouse',
donde o nórdico antigo meisingr,
o francês mésange
(mesenga
em fontes latinas desde o s. X),
o antigo occitano mezanga.
O /r/ das formas galego-portuguesas penso que é espúrio,
epentético, mais as diversas variantes apontam penso que um étimo
moi antigo, *meisinga/o,
tomado directamente dumha verba germánica, sem passar pola
intermediaçom frequente do Francês, onde a forma mesenga,
sem ditongo que nom pode ser étimo das nossas formas, é conhecida
já desde o século X. Em suma, provavelmente um suevismo ou um
empréstimo tomado em época sueva.
~o~o~o~
28.
Passando das aves aos peixes. Temos por exemplo os arenques
e as sardinhas arengadas ou
arencadas:
“Sabean
todos que eu Maria Peres, filla de Pero Ares, mareante, morador ena
villa de Pontevedra, que soo presente, confeso et outorgo que devo et
ey de dar et pagar a vos Ares Garçia de Rajoo, mercador, vesiño da
dita villa, que sodes presente, dose millares de sardiña arenquada,
boa et merchante, et tal que seja de dar et de tomar de mercador a
mercador” (Pontevedra,
1433)
É
germanismo moi espalhado, tomado na Baixa Idade Média do francês ou
dos navegantes ingleses ou dos Países Baixos, dum germánico
*haring- (REW 4046).
29.
Outros peixes com nomes germánicos som a guaita
(Gaidropsarus
mediterraneus ), cujo
nome procede dum occitano aguaitar
'assejar', do PGmc *wahtwō
'guarda, vigia' (REW 9479 e Orel 2003 s.v.), donde o galego agoitar,
agaitar
'assejar, vigiar, espiar'. Nom estou de acordo coa proposta de M. do
Carme Ríos Panisse, no seu “Nomenclatura de la flora y fauna
marítimas de Galicia”, quem pensa numha possível relaçom co
castelám guata
'algodom'.
Penso que o seu nome deriva do feito de habitar áreas rochosas, onde
bem se pode agachar, e aguaitar
a pressas e depredadores.
30.
Tamém tem nome germánico a estinga
ou tinga
(Dasyatis
pastinaca
,
a
raia
pastinaca),
à que Carmen Maria Panisse dedicava um interessantíssimo artigo
(que
pode ser lido no DdD)
no seu Nomenclátor,
artigo do que sou plenamente devedor e ao que remeto ao leitor
interessado. O nome procede dum germánico sting
ou stinga
'ferrom, aguilhom' (inglês stringray,
literalmente 'raia de aguilhom'), tomado de navegantes ingleses ou
dos Países Baixos hai já tempo, dado o moi espalhado do termo.
Quase com plena segurança, nom dos suevos ou dos godos. Tamém pode
ser um germanismos o nomes macareu,
do
francês maquereau,
e é um goticismo carpa,
verba já introduzida no latim vulgar,
~o~o~o~
31.
Entre outros os termos marinheiros tomados do francês ou das línguas
do norte temos por exemplo o grampín
ou
garampín,
espécie de gancho, áncora ou poutada, verba tomada ou adaptada do
francês grapin
(cf. REW 4761),
e
relacionado coas nossas verbas, máis enxebres, grampa,
grampar,
garampalho,
todas do PGmc *krampaz 'garfo ou gancho de ferro'. É tamém um
germanismo remoto o tolete
das barcas, que mantêm os remos no seu lugar, do francês tolet,
dum
germánico *þullaz (REW 8710). Outros
germánismos tomados do francês som o mastro
(PG
*mastaz),
o bordo
(PGmc
*burdōn 'borde', *burdaz 'távoa'), a escota
(PGmc
*skautan), a quilha,
a
varenga
(PGmc
*wrangō), o canivete
(inglês knife,
PGmc *knībaz)
“A
regueifa está na mesa,
Eche de pan de molete,
Se o novio me da licencia
Chántolle o meu canivete.”
Eche de pan de molete,
Se o novio me da licencia
Chántolle o meu canivete.”
(Popular, Dicionário da
RAG, 1913-28)
32.
O lastro, o norte,
o sul, o leste
e o oeste, a boia
e aboiar (verbo usado
nesta cantiga?):
“Joan d'Avoín, oí-vos
ora loar
vosso trobar e muito
m'en rii,
er dizede que sabedes
boiar,
ca beno podedes dizer
assi;” (s. XIII)
33. E tamén o treu
(a vela para navegar co vento em popa; a nossa expressom a treu
non é distinta da do castelám a todo
trapo), o batel:
“devedesme de dar a
dita vosa barcha ben estanqua de agoa de costado et ben aparellada de
boo masto, verga et treu
et de ancoras et de caabres et de todos los outros aparellos que
ouver mester, grosente, ardente, devant et de re, agoa doçe et leña
et sal avondamento, batel
para entrar et seyr et para dar carga et tomar carga en porto
estando, tenpo non perdendo” (Pontevedra, 1433)
34. Nas antigas naves de
madeira tinhamos um guidastre (PGmc *wend-ansaz, composto de
virar e barra) ou torno para mover pesos, e cuja corda era chamada
guindaresa, ainda que
guindastre tem já no século XV o seu actual significado:
“Iten
que destes aos carreteiros que trouxeron a madeira de Fecha para o
rollo viinte moravedis et que destes por duas palmelas et dous
golfoos et cravos para o gindastes
dose moravedis que monta triinta et dous moravedis” (Santiago,
1418)
35.
Tamém som germanismos arpeo (PGmc
*harpōn), estrinque (PGmc
*strangiz), e pode que trincar
(capturar, atar, cf. Coromines s.v.):
“Sabean
todos que eu, Rui Gonçalves de Covas, mariñeiro, mestre et señor
que soo do navio trincado,
que Deus salve, que disen por nome San Marquo, que agora esta êno
porto da villa de Pontevedra, que soo presente, non costrengudo por
força nen por engano resçibido, mas de mia livre et propia
voontade, vendo firmemente et outorgo, por senpre, a vos Fernan
Afonso et Afonso Domingues, mercadores, bisiños et moradores da
çidade de Lisboa do regno de Portugal, que sodes presentes, o dito
meu trincado
suso escripto, con estes aparellos seguintes, conven a saber: tres
ancoras et huu arpeo
de ferro con seus eixos et hua gindaresa
de fio de canavo et huu estrenque
d'esparto novo et huu estrenque
vello d'esparto, et con seu treu
que son tres monetas et huu papafigo et con todos los outros seus
aparellos que agora en el estan.” (Pontevedra, 1433)
Papafigo
é a vela maior da nave, trinquete
e, castelám. Sobre o verbo trincar
'atar', pode proceder de estrincar
'atar com corda'? A possibilidade nom vem indicada por Coromines no
seu Breve diccionario etimológico, mais neste texto estrincar
tem o valor de trincar:
“Et mandamos sub a
dita pena d -escomoyon a todos los clerigos et capelaes de toda a
prouinçia de Gallizia que para esto foren requeridos que garden et
tenan o dito enterdito con os sobreditos et qualquer deles quando et
cada que acontesçeren en suas jurdiçoes et os denunçien et manden
denunçiar por malditos et publicos escomulgados en suas iglesias et
moesteiros et capelas et manden denunçiar et estrincar
a seus subditos et os non ajan por absoltos ata que sobrelo viren
nosa carta de absoluçion” (Mondoñedo, 1423)
36.
O
taboado das cobertas da nave é o tilhado,
formado por tilhas
(PGmc
*þeljōn
'távoa'),
garafeteado para o manter impermeável e em boas condiçons. Tamém
frete
e afretar
som germanismos tomados do francês:
“Sabean
todos que eu Estevõo de Salnes, escudeiro de Pero Vermues de Montaos
que soo presente, afreto
de vos Juan de Bayona, marineiro, besiño da villa de Pontevedra, que
sodes presente, a barcha que dizen por nome San Salvador, que Deus
salve, de que vos sodes mestre, para que prasendo a Deus, carrege êna
dita barcha tres mill çeramis de millo, medidos por la medida
dereita da praça da dita villa de Pontevedra, para a costa de
Biscaya, a qual dita barcha deve de ser cargada do dito millo doje
ata quinse dias segintes et dende partir con a boa ventura do
primeiro boo tenpo que lle Deus der et en segimento de seu biajen ata
o porto de Laredo et ende pousar ancla et estar tres dias huu en pos
de outro et enton devo eu, o dito mercador de dar devisa se iremos
descargar aa vila de Vermeu ou aa vila de San Sabastian et do dito
dia que a dita barcha arribar a cada hua das ditas villas aa sua de
descarga ata XXI dias a dita barcha deve de seer descargada da dita
mercadoria et bos mestre pago de voso frete,
conven a saber: o frete
que avedes de aver por lo frete
da yda et de tornaviajen ata a dita villa de Pontevedra et por calças
et sevo et mangueiras et garafetar o tillado
por todo caraves quatro mill et quinentos mrs. de moeda bella,
contando a branqua en tres dineiros, os quaes vos deven seer pagos en
esta guisa onde foremos aa dereita descarga tres mill mrs. et os
outros I mill D mrs. do dia que aqui arribardes ata quinse dias.”
(Pontevedra, 1433)
37.
Outros germanismos navais têm
desaparecido: esquipar
(equipar umha nave: ''Este RRey Nastor tragia oytẽta naues bẽ
esquipadas.',
Crónica Troiana, c. 1370, do francês antigo esquiper,
do PGmc *skipan 'barco', REW 7797),
mais outros têm goçado dumha segunda
vida em terra. Por exemplo, a dala
(
< francês dalle
< neerlandês daal,
REW 2455). Do dicionário enciclopédico de Eladio Rodríguez:
“No es propiamente la
DALA un vertedero de los que están fijos en la cocina, ni
tampoco suele emplearse para los mismos fines que aquél. La DALA
puede ser de piedra o de madera dura: en el primer caso es fija, y en
el segundo movible. La piedra, generalmente redonda, consiste en la
CAPA o piedra superior de un molino harinero, colocada de
revés; y la de madera es cuadrada, con cuatro pies, dos de ellos más
pequeños que los otros, de modo que formen un plano ligeramente
inclinado. En la parte más baja y en el medio tiene un canalículo
para que por él escurra el agua que viene de la tina donde se hace
la colada. La DALA de piedra no necesita canal, porque le
basta el agujero que tiene el centro como natural desagüe. Sea de
piedra o de madera se emplea solamente para la colada. En las casas
donde hay las dos DALAS, empléase la de piedra para la colada
de jabón y ceniza, y la de madera par la bogada de lejía.”
38. Outras verba com
nova vida é afalar
('guiar
ou estimular o gando'), do
francês affaler
'tirar para abaixo dumha
corda', do neerlandês afhalen
'abaixar, tombar'. O significado passou de guiar os barcos
tirando das amarras a guiar ao gando: 'dempois
de xantar , botou o gado da corte e vai car'a chousa , afalando
a cinco vacas de leite, catro xatos e dous bois de traballo'
(Xesús Rodrigues Lopez, 1899) Outra é vaga,
tomada do francês vague
(PGmc *wēgaz),
que passou de ser um outro nome para 'onda encrespada' (vaga de mar),
a 'lomba' (vaga de terra). Arrumar
(do PGmc *rōman 'quarto', cf. francês antigo aruner,
arrimer)
originalmente era dispor a carga na nave, hoje é ordenar e arranjar
o lar ou um quarto. E si a escora
dumha nave é a sua inclinaçom, escoras
e escorar:
“escóra
y escorar: Es
el pie de amigo y el apuntalar una casa o lecho cuando amenazan
ruina. Escora es el poste.”
(Sarmiento, Catalogo de Voces y Frases Gallegas, c.1750)
Do
antigo francês escore,
do PGmc *skeranan 'cortar' (REW 7711a, Orel s.v.). É cognato do
inglês shore
'beiramar':
'De
toda a antiga grandeza e poderío da miña casa soilo me fica unha
cousa, os recordos; e esta cousa é o alento que me dá ánimos; a
escora
que me tén en pee' (López Ferreiro, O Castelo de Pambre,
1895)
39.
Tamém provavelmente do francês, ainda que surpreende a sua ausência
em castelám e português, temos o nosso moi vivo
estricar/estarricar,
coido que do francês antigo estriquer,
(hoje étrique
'estreito, pouco comprido'), já registado no século XIV (CRNTL:
DMF s.v. estriquer2):
“Il se restraint et
met a point, Et dedens sa targe se joint Et s'estrice
sus ses estriers” (FROISS., Méliad. L., t.2, 1373-1388, 55).
Em
galego temo-lo por escrito desde o século XIX, ainda que por força
deveu ser tomado na Idade Média (a forma francesa actual é
étriquer,
semántica e formalmente moi afastadas):
“a
culpa está nos da Vila, que son uns papamoscas, e non se lembran
máis que de andar mui estricados
pola lameda, e botar borra nos Cafés.” (Anónimo, 1836)
E
dum conto popular de Carré Albarellos:
“O
vello, levando a besta pol-a corda, e o neto, teso como as gueifas
d'un arado, facendo como un home, e estricando
os pés sen chegar as estribeiras, marchaban pol-o camiño cheos de
fachenda”
Comparem-se
os fragmentos textuais: o cavaleiro francês estricado
nas suas estribeiras pronto à batalha, o neno galego estricando
os pés sem chegar a elas, o vilego estricado
ao passar polos lameiros. Em quaisquer caso, estricar procede ao
final do PGmc *strakkjanan 'estender, tirar' (cf. REW 8314)
40.
Sigo com germanismos moi antigos, peculiares, ou exclusivos ou quase
exclusivos do galego e o português. Primeiro, as minhas propostas
etimológicas; quer-se dizer, propostas que nom conheço que se
tenham feito com anterioridade; porém, nom sendo eu especialista
senóm amador (um diletante
ao cabo, termo um
tanto/moi denegrido), é possível que estas etimologias já foram
apontadas por um ou outro autor:
41.
Francada 'fisga,
tridente ou arpom de vários dentes'.
Aparentemente
é umha formaçom colectiva (cf. rapazada,
ramalhada, etc)
dum extinto *franca/franco,
sem dúvida do Germánico *frankōn 'javalina': nórdico antigo
frakka
'javalina, dardo', inglês antigo franca
'javalina, lança'. Em
inglês antigo (anglo-saxom):
“He
lét his francan
wadan þurh ðæs hysses hals” (he
let his javelin go through the youth's neck)
Sendo esta verba
desconhecida tanto em castelam como em português, é provavelmente
melhor atribuí-la aos suevos que aos godos (parece-me moi complexo
atribui-la ao contacto com navegante ingleses ou nórdicos, dada a
ausência plenas nas fontes francesas). Na nossa língua:
“Querían pescá-los
a todos arreo
cal se fosen peixes
con seus estromentos,
a uns de rapeta,
a outros ao xeito,
outros ao volante
con ganchos de ferro,
de secada muitos,
con ferros rastreiros,
outros de sacada
e todos con cerco;
uns con canivelas
querían collé-los,
con francadas
outros
que andan sen señeiros”
(Sarmiento, “Coloquio
de 24 Gallegos rusticos'', c. 1745).
42.
Fananco 'planta de pantanal'
A forma que abonam os
nossos dicionários é fananco,
embora num cancioneiro popular da Límia publicado em 1973 por Xaquin
Lorenzo Xocas recolhe-se a forma fanango,
coido que máis próxima ao étimo. Esta verba procede ao
meu entender dumha forma antiga *fannengo
ou *fennengo,
dum germánico ocidental (se nom me trabuco a
reduplicaçom de consoante por iode nom é um fenómeno fonético
conhecido do gótico bíblico) *fanningz
*'(o que é próprio do) pántano', do proto-Germanico *fanjan
'pántano'. No dicionário etimológico de Vladimir Orel:
*fanjan
sb.n.: Goth fani ‘clay, mud’,
ON fen ‘fen, quagmire’, OE
fen ‘fen, marsh, mud, dirt’
(masc. and neut.), OFris fenne
‘wet meadow’ (masc., fem.), OS feni,
fenni ‘swamp, fen’, OHG fenni
id.
Mesma
orige tem o castelám fango
'lama' (tomado do catalám fang),
e o Francês fange.
Suspeito assemade que o nosso fana
'corrimento de terras' pode proceder dum mesmo étimo: *fanna <
*fannja? < *fanjan 'argila, barro' (Orel s.v. *fanjan; cf.
Coromines 1973 s.v. fango).
43.
Gueste 'comida que ao
remate dum trabalho se oferece aos obreiros ou jornaleiros'
Com
evoluçom plenamente regular a nível formal e semántico, do
germánico *westiz
'comida, sustento, provisons', donde o antigo nórdico vist,
antigo inglês wist,
antigo alto alemám wist,
todos co mesmo significado. A documentaçom máis antiga é
tardia, do século passado, do inacabado e magnífico dicionário da
Real Academia de 1913 a 1928:
“Albaroc. s.m. Comida
que se da a los operarios o jornaleros después que se termina una
obra o una faena agrícola, y es lo que en otras comarcas llaman
gueste. “
Nom conheço cognatos
noutras línguas romances.
44.
Agarimar 'acariciar,
alouminhar < arrimar, amparar, proteger < achegar, juntar'
Germanismo já
reconhecido por J. Piel, quem (na sua linha de pensamento) lhe
atribue orige goda. É empregado nas Cantiga de Santa Maria, onde se
narra um milagre polo que um meninho é salvo depois de se quase
asfixiar cumha espiga de trigo, após que a nai, que fora colheitar
trigo:
“E quand' entrou na
messe u as outras espigavan,
agarimou
o moço a feixes que estavan
feitos d'espigas muitas,
que todos apanna[va]n,
e a Santa Maria o ouv'
acomendado
Tant' aos peccadores a
Virgen val de grado...
Que llo guardass'. E
logo o menynno achada
ou[v]' a grand' espiga
de graõs carregada
de triigo, que na boca
meteu e que passada
a ouve muit' agynna;
onde pois foi coitado
Tant'
aos peccadores a Virgen val de grado...”.
O seu significado máis
antigo na nossa língua é precisamente 'achegar, juntar, arrimar',
estando moi provavelmente relacionado etimologicamente coa verba
rima, rimeiro 'lenha bem
colocada, grupo ordenado de cousas', e similar. Com poucas dúvidas,
dum proto-germanico *(ga)rīmanan
'contar, somar', derivado de *rīman
'número, fila' por médio do sufixo ga- em orige equivalente ao
nosso co-. A evoluçom semántica levaria depois de 'contar, somar' a
'engadir'. Por oura banda a vogal inicial a- remete-se à partícula
latina ad- 'junto a' (note-se guardar / aguardar 'guardar junto a >
esperar'; chegar / achegar). Consequentemente, se *garimar: '*somar,
engadir', entom agarimar: 'ajuntar, achegar'. Por outra banda, rima,
rimeiro
podem ser celtismos na nossa língua (cf.
Higinio Martis), ou alternativamente germanismos nas línguas
romances (Donkin
1864: 372),
sendo arrimar <
*ad-rimare 'juntar o
poner una cosa corporal junto a otra o sobre ella,
o en ella'
(Sobreira), um derivado directo.
45. Estada
'andámio, suporte para serrar; estábulo':
E
tamém em português minhoto 'espécie
de tabuleiro em que comem os animais na cavalariça ou no estábulo.
= manjedoira'.
Provavelmente do latim STARE
'estar em pé', mais eu suspeito a influência directa ou indirecta
do germánico *staþōn,
de onde gótico lukarna-staþa
'candeeiro' (literalmente sustém-luzerna), antigo nórdico staði
'morea,
palheiro', e médio baixo alemám stade
'lugar para guardar trigo; suporte'. Quer-se dizer que o significado
de *staþōn
era originariamente 'algo que (se) sustém', sendo estada
< *estata
precisamente a forma que aguardaríamos achar no caso desta palavra
ter passado ao galego (*staþōn)
via godos ou suevos.
Em todo caso, já Meyer-Lübke
(REW 8231) propunha para o português estada
umha etimologia latina, do verbo STO,
STARE.
Se
eu torço
pola orige ou influência germánica
é fundamentalmente por serem estada
e máis os seus derivados aparentes inovaçons galego-portuguesa, sem
paralelo exacto noutras línguas neolatinas (mais cf. outra volta REW
8231). E se antigamente estada
tinha tamém o valor de 'estábulo' ou 'alboio' (como se mostra no
Tratado
de Albeitaria
do século XV:
“Et
pois que o da agoa trouxeren deuen lle exugar et trager os pees et as
coixas, ante que o metan na estada
ou na casa”),
similar valor temos em germanismos como ON stoðull
'alboio para mugir as vacas', ou antigo alto alemám stadal
'alboio, alpendre' (cf. Vladimir Orel s.v. *staþ(u)laz.,
donde o nosso germanismo antigo estala).
À
marge da etimologia de estada,
as seguintes palavras semelham derivar desta verba: estadal
'círio' (já nas Cantigas de Santa Maria, circa
1275 – lembre-se o gótico lukarna-staþa
'porta-luzerna = candeeiro');
estadela
'cadeira nobre, trono'; estadear
'fazer ostentaçom', donde estadea
'pantasma principal da Companha' (= porta-estandarte?); estadulho
(do carro).
~o~o~o~
46.
Targa 'fivela
ou argola no estremo dumha corda, para apertar':
Do germánico *targōn
'bordo, canto' (cf. antigo nórdico targa
'escudo pequeno redondo', antigo alto alemám zarga
'borde, marco'), que originou tamém o francés targe
'escudo' (e deste o nosso tarja
'moeda, escudo' e máis o
internacionalismo tarjeta).
A verba targa semelha ser exclusivamente galega, e mantém o
significado primitivo do étimo sem ter sofrido transformaçons
alheas a nossa língua, como si é o caso de tarja
ou tarjeta,
procedentes de formas francesas. É tamém verba espalhada, pois está
documentada em Frades, Piquim e Corçans. Consequentemente, é um
outro bom candidato a ser palavra transmitida ao galego desde a
língua dos suevos e/ou dos godos. Obviamente, por questons
geográficas e históricas, penso máis na primeira.
47.
Boga
'argola do maço das ferrarias'
Esta
verba está documentada por vez primeira em galego o passado século
XX, e forma parte do vocabulário
próprio das ferrarias galegas,
em boa medida comum co das
ferrarias asturianas
-maioritariamente situadas em áreas galegofonas- e bascas:
*
“O mango é unha palanca de madeira, de preto de tres metros de
longo, tamén hourizontal e que está colocada perpendicularmente á
árbol. A oitenta centímetros do rabo tén unha argola de ferro, a
boga, con dous espigos ós
lados.” (Xaquin Lorenzo, “Etnografia: cultura material”, 1962)
*
“a case un metro do rabo do mango vai a boga:
argola de ferro con espigos aos lados, que sentan nas aldabarras
(dous tacos de ferro) amarradas nos mandís (cuñas de madeira) que
tamén se engastan nos cepos e trabes, afincados no chan; e na outra
punta do mango coloca-se o mazo, que se amarra ao mango cunha cuña
grande de madeira (o cuñón); o mazo peta na ingre de aceiro,”
(Xosé Vázquez Pintor, “A tribo sabe”, 1999)
A
verba documenta-se
já no País Basco em 1722,
e já que nom lhe conheço pedigree
castelám, suponho-lhe
orige navarro-aragonês, cognata do Occitano bauc
'ferragem
da roda do carro', ambas pacificamente do PGmc *baugaz 'anel'
(nórdico antigo
baugr,
AAA boug
'ring', cf. REW 1004, Orel 2003 s.v.).
48.
Tasca
'rede de pesca'
A
tasca é umha rede de pesca de copo, cónica, adaptada a um aro,
sendo este aro manejado por médio dum mango ou pértega. Junto coa
trincada
e a miudeira
forman a arte da ventela:
“A trincada
é tamén cónica, de tres metros de outa, con aro de preto de dous
metros de diámetro e con mango de catro metros e meio de longo. Iste
aparello usase dende un barco; ollase o lugar en que rebole o peixe,
levase a embarcación preto dil e, de seguida, metese o aparello e
erguese a pulso. A mesma forma que istes dous aparellos té-na tamén
a tasca, que mede noventa
centímetros de diámetro na boca e dous metros e meio de mango.
Pescase co'ela de preferencia cando os sábalos andan no desove ou,
coma din os pescantíns, coa rañeña ou o babago.” (Xaquin
Lorenzo, “Etnografia: cultura material”, 1962)
Está
relacionado co italiano tasca
'bolsa',
francês antigo tasche
'bolsa', tasquier
'caixa com buracos para captura peixe' (Flandres), nórdico
antigo taska
‘arca, peto’, baixo alemám médio tasche
‘bolsa’ (REW 8592, Orel 2003 s.v., DMF
s.v. tasquier),
todas dum proto-germánico *taskō(n). As minhas dúvidas vêm já
com tascar
'quebrantar o linho', para a que Coromines propunha umha possível
relaçom com tasca
'espadela' e tasco
'resíduo de maçar o linho', verbas de provável orige céltica;
porém, a RAE e Meyer-Lübke (REW 8593) supunham como étimo o gótico
*taskōn 'roubar'.
49.
Com reservas, penso que tamém pode ser germánico em última
instáncia o nosso tornozelo,
com variante tormezelo,
assi como tormelo
'tiriçó', e tormelom
'torrom', todos relacionados co castelám tormo
'torrom', usualmente traído de TUMULU (cf. Coromines 1997 s.v.
tormo),
mais eu penso que estám relacionados co germánico *þrumilaz,
*þrumōn 'toco, estremo, pedaço' (CNRTL
s.v. trumeau;
GERT 2257; REW 8719; Orel 2003 s.v.): francês trumeau
'panturrilha, pantalóns, parte-luz', occitano trumels
'perna, canela', antigo nórdico þrymill
'tumor ou dureça na carne', AAA drum
'resto, acha, cavaco':
“tormezélo.
Es el tobillo de los pies.” (Sarmiento, CatálogoVF 1745-1755)
50.
Brandear
'ondear, pandear, abanar'
Sem
equivalente castelám exacto, ainda que cognato de blandir
'brandir',
todos em última instáncia do PGmc *brandaz 'espada', via o francês
brandir:
O uso máis antigo de brandear
em galego é no Colóquio
de Sarmiento (1746), numha cena dumha representaçom sobre o novo rei
Fernando VI:
“Dempois
o meniño
ou
conde pequeno,
como
un paxariño
facendo
pucheiros,
{Catilla,
Catilla,
por
Felnando Seto;
Catilla,
Catilla,
por
Felnando Seto}
dixo,
e brandeou
con
lindos meneos
súa
bandeiriña
tres
veces ao ceo
Penso
que o nosso brandear
pode proceder directamente do francês
antigo brandier 'balancear, agitar'.
51.
Anaçar
'bater, remover ou agitar um líquido, incorporando outros líquidos
ou sólidos'
Esse
valor semántico é o que recolhem os dicionários galegos desde as
Papeletas
de Sobreira, no século XVIII, e era tamém o valor que tinha na
traduçom galega do Tratado
de Albeiteria,
do século XV:
“Val
para esto a crara do ouo anaçada
con vinagre et con azeite et posta ençima con pano ou con estopas“
(Tratado de Albeiteria, c. 1409).
Outro
valor, indicado por Eligio Rivas no seu Frampas III, é “disponer,
arreglar: O
pobre anda mal anazado porque non ten quen o coide.”
Como possibilidade, pode ser cognata do Italiano annizzar
'incitar', tomado do antigo francês anassier,
AAA anazzen
'incitar, conduzir' (GERT 32, REW 456, Köbler s.v. *anatjan), ou bem
ser um composto germánico *ana- 'em/sobre/a' e *atjanan 'alimentar'
(Orel s.v. *ana(i)-, *atjanan), que teria sido adaptado como
*an(n)at(t)iar. Dada a grande distancia semántica, a forma galega
deve ser independente da francesa, mais em quaisquer dos casos, nom
saberia explicar o /nn/ presente no suposto (e proposto) étimo do
nosso anaçar.
Outra possibilidade, e já som demasiadas: *an-natjanan, onde
*natjanan 'humedecer'. Deixo o tema aberto por se algum achar melhor
soluçom.
52.
Marco
'pedra ou sinal divisor de terras', marcar,
demarcar
'marcar, derregar'
Poderia
ser o nosso germanismo máis castiço, nom si? Do germánico *markan
'marca, fito (landmark)',
markō 'contorna, extremos' (REW 5364, Orel s.v., cf.
Eligio Rivas, “Natureza, toponimia e fala”, p. 150-152),
cognato do Céltico brog-
'território' e do (tamém nosso) marge,
de orige latina ( < MARGO, ac. MARGINEM). Elixio Rivas tem
reivindicado a suevidade de marco,
dado que a presença testemunhada desta palavra e a sua família na
Galiza e Portugal é moi anterior à sua documentaçom na Castela,
que Coromines dá para 1488, indicando só um carácter local para
marco
'moeda;
peso'. Mas na Galiza e em Portugal, a história desta família é moi
velha (já no ano 800 semelha ser verba velha):
“prendidi
ego iam dictus Aloitus IIIa portionem in ista uilla per marcos
certos et sinales, id est, per puteum qui est in medio castro et inde
in directo ad dexteram partem per carralem antiquum quomodo aquam
uertit ad ecclesiam contra solem usque in Tamare, ad sinistram uero
partem per alium carralem antiquum et inde per marcos
et signales et inde in directo ad riuulum qui discurrit de Montana
usque in Tamare” (Sobrado, 818).
Som
do século X os primeiros empregos de marcar, e
demarcar, co valor de derregar ou estremar
um terreo, que é o seu valor etimológico:
“placuit
nobis bone pacis uoluntas ut uenderemus uobis nostram rationem de
uinea quod uobiscum habebamus communiter ab integro, sicut est
marcata per suos terminos” (Sobrado,
958).
Em
Portugal: “Et de Villa Plana de Famelcos qomodo illa est demarcada
et integra.” (PMH, doc. 25, 922) E ao longo de toda a Idade Média:
“damos
a foro huna peça de viña que uos estremamus da nosa seara de Cepo
Ranado, per marcos que esta demarcada
et devissada” (Ribeiro, 1308)
Co valor de marco =
'peso, moeda' já o temos na Historia Compostellana do século
XII. Comarca já está documentada em galego desde o século
XIII:
“Ca un sant'om'y está
que end'é Patriarcha
daquela terra e á
en pode-la comarca,
e consello te dará
bõo, se Deus [me]
parca”
(Cantigas de Santa Maria, c. 1264)
53. Ouvas 'seres
sobrenaturais, maléficos'
Sigo
a etimologia
proposta polo professor Higino Martins, fazendo vir esta verba do
PGmc *albaz, donde elfo
(a evoluçom do termo é similar à de Ouvinha < *Albina).
Tomem-se em consideraçom tamém ouba
'vento cálido do sul', oubaninhas
'volvoretas'. Dado o seu carácter exclusivamente galego, de ser um
germanismo deve ser de orige sueva.
54.
Souria
'vento seco', ressouro
'color
rojo que adquieren los cerdos cuando están mucho tiempo al sol',
chouriço.
Tamém
seguindo
a etimologia proposta por Higino Martins,
dum protogermánico *sauzjanan 'secar', por médio dum adjectivo
galego extinto *souro 'seco'. Daí souria,
soira
'vento seco' < *sour-ia; ressouro
= re-seco; chouriço
< souriço, literalmente 'sequiço'. A forma souriço já no
século XIII:
“Non
acharedes en toda Castela,
graças
a Deus, de que mh-agora praz,
melhor
ventrulho nem melhor morcela
do
que a ama com ssa mão faz,
e
al faz ben, como diz seu marido:
faz
bon souriç'e
lava ben transsido,
e
deyta ben galinha choca assaz!”
(Fernan
Garcia Esgaravunha)
Daí
tamém o francês harenc
saur
'arenque seco', occitano saur
'castanho claro', antigo inglês seár
'seco', norueguês søyra
'secar' (REW 7626, Orel s.v.).
55.
Bramar
'dar bramidos', bremar
'bramar, estar intranquilo, ansiar, devezer'
No
entanto bramar
é vocábulo bem conhecido na península ibérica, sendo pacífica a
sua etimologia (Coromines 1997 s.v., GERT 282, REW 1270) do PGmc
*bremmanan 'bramar', nunca tenho sentido falar do nosso galego
bremar,
semanticamente máis próximo ao Italiano bramare
'cobiçar', e formalmente ao antigo inglês bremman,
glossado como rudere,
fremere.
A evoluçom semántica é devida provavelmente à brama,
o zelo dos cervos, mais em quaisquer caso o feito máis notável é a
vogal /e/, máis próxima ao étimo germánico. Consequentemente, e
dada a especializaçom semántica de ambos vocábulos, umha possível
herdança sueva, ou umha importaçom
independente posterior:
*
“Agora xa non hai remedio, que está moito contra todos, téñe-no
tan enfadado que brema,
tembra, e patea, relouca, e berra que afonde, bota pola boca espumas,
ten tal rabia e bufa tanto que fai temor os cristianos” (Anónimo,
1807)
*
“O P . Abade espuxolles o estado do país; como todos estaban
bremando
por acabar cos seus asoballadores; que había xente decidida e
disposta a todo, porque taes como estaban as cousas non se podía
vivir.” (López Ferreiro, “O Castelo de Pambre”, 1895)
Bramar
em galego já ao menos desde os últimos anos do século XIV, numha
cantiga do castelám Alfonso Álvarez Villasandino:
“Por
ende, amigos, so maravillado,
das
cosas que vejo tan contra razon:
un
gato pequenno fillar entençon
con
un leon forte, tan ben heredado;
ca
por esperença es visto falado
que
por un bramido
dun soo leon
devrien
cantos gatos en o mundo son
fugir,
canto mais un magro cuitado.”
56. Ataviar
'compor, equipar', atavio 'equipo, equipage'
E
umha das dez ou doze palavras usualmente atribuídas aos visigodos,
por serem exclusivas da península, e para as que haveria que ver
se irradiam do cento, do oeste, ou do leste da península, pola
possibilidade de as atribuir aos suevos (porque nom? Se topónimos
como Sá sobranceam na Galiza e norte de Portugal, se verbas
castelás como chapa, chamuscar,
achantar som galegas ou
portuguesas em orige, porque luva,
ripa, ganso
ou barragám nom poderiam ser
primeiramente suevismos depois incorporados nas falas do centro da
península?), ainda que esta em particular semelha ser máis própria
do centro que do oeste da península. Do PGmc *tawjanan 'fazer,
preparar', de *tawō 'armadura, roupas, armas, equipo': gótico
taujan 'fazer', antigo alto
alemám zowen 'preparar'
(Coromines s.v.; REW 8601; Orel s.v.). Em castelám desde o 1300
(Caballero Cifar). Em galego, desde o 1370:
* “Alý chegou estonçe
Achiles cõ sua caualaría, de moy bõo atabío
et moy grãde” (Crónica Troiana, 1370)
* “Por tal pleito que
paredes o dito moyno et o refaçades cada que mester for et o
mantenades d'aqueles atabios que lle
foren mester” (Mosteiro de Osseira, foro, 1396)
57. Luva 'guante'
(cf. Xaime Varela Sieiro, Léxico Cotián na Alta Idade Média de
Galicia: O Enxoval, p. 127)
Germanismo
próprio da península ibérica: galego-português luva,
castelám lúa,
dialectal (La Rioja) goluba,
tendo os cognatos germánicos: antigo nórdico glófi,
antigo inglês glóf,
do PGmc *glōfō(n)
'luva' (Orel 2003 s.v.) Coromines preferia *lōfōn
'palma da mam', semanticamente menos satisfatório: *glōfō(n)
é
provavelmente em orige um composto *ga-lōfōn
'com-mam'. A evoluçom fonética é simples em galego-portugues:
*glūfa
(desde um germánico/visigótico *glōfā) > luba
[β] (latim GLANDULA > galego landra).
A mençom mais antigas da verba na Galiza é num documento do
mosteiro de Osseira, do 1183: “et
accepimus pro inde roboracione unas luuas”.
58.
Osas
'botas altas ou polainas' (cf. Xaime Varela Sieiro, Léxico Cotián
na Alta Idade Média de Galicia: O Enxoval, p. 123)
É
germanismo antigo, já conhecida por Isidoro de Sevilha no século
VII, e com certa presença em todas as línguas romances ocidentais,
ainda que na opiniom de Varela Sieiro é no noroeste da península
ibérica onde se amossa máis vivaz. Do PGmc *husōn 'pantalons':
italiano hosa,
francês huese,
occitano oza,
castelám antigo huesa,
nórdico antigo e antigo alto alemám hosa,
antigo inglês hose
(REW 4195, Orel 2003 s.v.). Na Galiza o seu emprego máis antigo é
do tombo de Sobrado dos Monges: 'osas
factas de duos solidos', 860. Ainda era verba usada na baixa idade
media:
“Osas
duu javaril,
que
dessen per seu quadril”
(Afondo
X, c. 1260)
59.
Feltro
(cf. Xaime Varela Sieiro, Léxico Cotián na Alta Idade Média de
Galicia: O Enxoval, p. 182-185)
Outra
verba presente em todos os romances ocidentais, e na Galiza
documentada já em 995, em documento de Sobrado: 'liteira, uenabes,
laneas et feltra,
et omnem intrinsecam domorum'. Do PGmc *feltaz 'feltro' ou dum
derivado desta verba: italiano feltro,
Occitano feutre,
castelám fieltro,
antigo inglês felt,
AAA filz
(REW 3305, Orel 2003 s.v.). Na península ibérica, e seguindo a
Varela Sieiro, o termo tem especial repercussom no ocidente,
presentando a forma castelám filtro
mostra de estar influída polas formas ocidentais. Em galego o seu
uso é regular até a data; por exemplo, no Tratado de Albeiteria do
século XV: 'Para
esto ual o coiro ou o feltro
celmado ou lino podre'.
Na Idade Média é frequente como alcume: 'Tode
Feltreyra'
1264, 'Ruy Periz dito Feltrello'
1281, 'Martin Feltram'
1339. Hoje existem os termos pejorativos feltrom
e feltrua.
60.
Escá
'medida de volume; meio ferrado' (cf.
Xaime Varela Sieiro, Léxico Cotián na Alta Idade Média de Galicia:
O Enxoval, p. 243-245)
Do
medieval escala
'copa, cunca', presente desde a primeira documentaçom latina da
Galiza, e já empregado por Isidoro de Sevilha nas suas Etimologias
(lembremos tamém que
Sevilha foi posse sueva por 20 anos); do germánico *skēlō 'cunca';
relacionado com *skalō 'cuncha, casca', que entre as línguas
neolatinas só tem sobrevivido no francês écale
'códia, casca', antigamente 'casca' (CNRTL
s.v.; Meyer-Lübke 7970, Orel 2003 s.v.). A evoluçom do étimo à
forma medieval nom é compatível coa língua gótica, a nom ser que
partamos de *skalō 'chuncha, casca' (antigo inglês scealu
'cuncha, casca', baixo alemám médio schale
‘códia, tona’, AAA scala
‘cuncha, casco’), e nom de *skēlō 'cunca' (nórdico antigo
skál,
saxom antigo skāla,
AAA scāla
idem). Nom conhecendo a quantidade do primeiro , a semántica
aconselha partir do último étimo.
Na Galiza já desde o
ano 889: 'lectos et omne perfia scala
argentea; pagella siue uestitus de lectos, quenabes et plumazos'
(Celanova 889). Já em galego, e co valor de medida de capacidade, o
máis antigo testemunho é: “et huna escaa
de manteyga et dous queygios, et por Natal quatro soldos” (TMILG:
Osseira 1286). É um termo fundamentalmente hispánico e ocidental
(cf. Varela Sieiro), que amossa rasgos que um pediria dum possível
suevismo.
61.
Roupa
(cf.
Xaime Varela Sieiro, Léxico Cotián na Alta Idade Média de Galicia:
O Enxoval,
p. 102)
Do
PGmc *raupjanan 'esbulhar, arrancar', donde tamém o castelám ropa,
o gótico raupjan
'arrancar', antigo inglês rípan
'esbulhar, saquear' (REW 7090, Orel 2003 s.v.). Note-se tamém o nome
germánico Rauparius
(
< *RaupVharjaz),
donde o nome de lugar Roupar.
Na Galiza, desde o ano 1074: 'et de raupa
Ia manto zingave et una pelle' (Samos). O galego guardaroupa
(cognato do inglês wardrobe)
já desde 1326:
'It. mando que todalas outras cousas que acharen enna guarda
roupa
et ennas archas et en todos los outros lugares en que as eu teuer. et
as sortellas. ' que fiquen a a Egleia paro o Bispo que ueer.'
62.
Relacionado coa anterior palavra temos o verbo roubar
do PGmc *raubōjanan 'roubar' (REW 7092; Orel 2003 s.v.), donde o
italiano rubare,
occitano raubar,
castelám robar,
gótico biraubon,
nórdico antigo raufa,
anglo-saxom réafian,
AAA roubōn.
Na Galiza, desde o 1133: “Fregi suum cautum in loco qui dicitur de
Coles et Pignatio et in alias suas uillas, et raubaui
uestras greges cum uestris equabus cum suo kaballo, et raubaui
uestras uaccas, et prendidi uestros homines” (Pinario, 1133)
63.
Sopa
'pam enchoupado em caldo, vinho, leite; caldo' (cf. Xaime Varela
Sieiro, Léxico Cotián na Alta Idade Média de Galicia: O Enxoval,
p. 248)
Outra
verba estendida em todas as línguas romances ocidentais: italiano
zuppa,
francês antigo soupe,
occitano, castelám sopa,
e que têm os seus reflexos no nórdico antigo soppa
'sopas', supa
'sopa', inglês antigo soppe
'sopas', todos do proto-germánico *suppōn, *sūpō 'sopa' (REW
8464, Orel 2003 s.v.). Nas nossa fontes, já desde o século X, no
derivado sopeira:
'soparia
exaurata … et soparias
bubalinas II'
(Celanova, 942). Foi alcume e apelido dumha família de mercadores
compostelanos: 'Domingo Peres Sopas'
(1323). Já máis tarde, tamém no Coloquio
de Sarmiento:
“Mais
se o viño quente todos non beberon con mel e manteiga foi frío o
refresco; inda que tomaron mui quente e fervendo muito chicolate con
sopas
no medio; E tamén estaban os bufetes cheos de lenguas, chourizos,
perniles, codelos; de lacós, cachuchas, fociños de cerdo, nuns
pratos mui anchos e todo friento” (1746)
Enchoupar
provavelmente nom guarda relaçom, dado o ditongo /ow/ que apresenta.
64.
Burgo
'cidade (fortificada); castro' (cf. Xaime Varela Sieiro, Léxico
Cotián na Alta Idade Média de Galicia: A arquitectura civil, p.
41-42)
Verba
germánica que penetrou cedo no latim vulgar (já é empregada por
Orosio), do PGmc *burgz 'castro, cidade'. Cognatos da nossa palavra
som o italiano borgo,
francês bourg,
castelám burgo,
gótico baurgs
'castro, cidadela', antigo nórdico borg,
anglo-saxom
bur,
AAA burg
(REW 1407; Orel 2003 s.v.). Ainda que burgo
tem umha documentaçom relativamente tardia na Galiza com respeito a
outros lugares da península ('uno burgo
pernominato Tabuladielo, quod est in Ualcarcer', 1103), aparentes
derivados como burgaria
e burgata
já têm presença em documentos anteriores ('et
inde per pinna que dicitur Burgaria'
= 'e depois polo castelo/pena chamada Burgueira' 922). Andregoto
Galíndez/Onnega já tratara destas verbas e as puxera em relaçom
com petroglifos de motivos circulares e concêntricos,
e cos caracóis de mar, burgados.
65.
Albergue,
albergaria
(cf.
Xaime Varela Sieiro, Léxico Cotián na Alta Idade Média de Galicia:
A arquitectura civil, p. 127-128). Do composto germánico *haribergō
'abrigo, pousada', literalmente 'refugio do exército' (REW 4045,
Orel 2003 s.v. *bergō), com cognatos em línguas romances e
germánicas: italiano albergo,
Occitano alberga,
AAA herberga...
Na Galiza, desde o século XI: ''ad illa albergaria
de loci apostolici' (Santiago, 1094). Os derivados como albergueiro,
e albergar,
som só algo posteriores: 'albergarii,
monetarii et cambiatores' (1133), 'e
hu alberga,
derei-vos o que faz:' (século XIII).
66.
Lobio
(Xaime Varela Sieiro, Léxico Cotián na Alta Idade Média de
Galicia: A arquitectura civil, p. 282-284; Eligio Rivas, Natureza,
toponimia e fala, p. 231-232)
Ainda
que a verba provavelmente já está extinta na fala a dia de hoje, no
século XVIII ainda estava viva no Ribeiro, segundo o testemunho de
Sarmiento, quem já indicava a sua orige gótica,
verba que el usava cum valor amplo, nom restrito a godos e visigodos:
“Lobio.
En Ribadavia y otras partes significa la parra que está junto a casa
para sombra y pasear. Es puro gótico de laubach y lobio que, según
Du Cange, significa corredor, galería o paseo.”
A
sua presença nas nossas fontes é moi antiga: 'in alio loco super
casa de Bellendo illo lovio
cum sua vinea' (Celanova, 1009), ainda que estám quase totalmente
restritos aos documentos de Celanova, se bem os topónimos
relacionados Lóvio,
Lóvios,
Loje
< Lobio,
e Lojo
estám moi espalhados.
Já
em galego: 'Et a dita minna parte de erdade et vinna et loveo
et cortinna bem lavrada et bem parada de todo lavor' (Osseira, 1371).
Do PGmc *lauban 'folhage', por médio dum derivado *laubjōn, donde
os cognatos, de similar significado ('pérgola, caramanchom, lobby,
galeria'): lombardo lobia,
francês loge,
occitano laupia,
saxom antigo lōvia,
AAA louba
(REW 4936, Orel 2003 s.v.). É um moito provável suevismo.
67.
Britar
'romper, quebrantar, lavrar' (cf. Eligio Rivas, Natureza, toponimia e
fala, p. 200-201)
É
outro possível suevismo, derivado do PGmc *breutanan 'romper', donde
o antigo nórdico brióta
'romper',
anglo-saxom breótan
'romper,
magoar', alto alemám médio briezen
'brotar'
(REW 1312, Orel 2003 s.v.). Carece doutros cognatos romances. A
evoluçom fonética deveu ser PGmc *breutanan > (suevo?) *briwtan
> proto-galego *briutar (/iw/ nom /ju/) > britar, ainda que
outras etimologias sugerem umha possível relaçom cum possível
celtismo como o francês briser
'romper,
esnaquiçar', de
etimologia escura,
e co irlandês brissid
'rompo', que procede dum proto-céltico *brestā (Matasovic 2009
s.v.), inviável como étimo do nosso verbo. Com respeito a história
desta palavra, já a temos documentada no século XII: 'mando quod
episcopus leuet cautum de illis qui illud britauerint'
(Lugo, c. 1200), estando ao longo da idade média presente como
sinónimo de quebrantar ou romper (unha lei, um trato, um objecto...
e umha cabeça!):
*
'vendo totis montis quoos vos britastis
et ficarum pur britar,
et os novos qui inde levastis' (Osseira, 1253)
*
'Item aforam a Alvaro d'Outeyro, a seu padre et a tres vozes o lugar
d'Outeyro, a de botar tres fanegas de semente et dar todo de quarto
et oyto maravedis de dereytura et hum par de gallinas cada anno, et
se non britar
et lavrar que perca o foro.' (Osseira, 1473)
*
'Fernán Lopes, carniçeiro, vesiño da dita çidade, deu querella
aos ditos juises et rejedores et procurador de omees do prouisor que
están eno castello Ramiro et de Sueiro Gill, disendo que en como
foran por cuatro ou çinco veses á hua sua horta, que está en
Ouçande, et que lla astragaran toda eno veraao et en este inuerno et
quarta feira,, et o dia donte se foran outra ves á dita orta, dando
ena viña et orta, et arrincaran as verças et coellas, fasta un
carro de verças, et todas arrincaran et leuaran, en diñeiros que
non quisera por tresentos morauedis vellos, et, porque lles diseran
hun seu moço Fernando et hua sua moça Margarida que fasían mal en
estragar asy a dita orta et leuar as ditas verças et coellas, que
diseran á moça que a coutauan por puta carcaberia, et a o moço que
lle diseran que se fose pera vyllaao traidor ontre él et seu dono,
et que estauan de lles birtar
as cabeças, se mays esteuesen en elo, et elles que lles desían que
fasían mal, por que eran escomungados por cartas descomuyón que
estauan dadas pera todos los que estragauan as ortas et que leuauan
as verças salgadas, et que elles que diseran que por eso as querían
leuar, porque eran salgadas, et que quebrantauan as trégoas que
estauan postas, et elles que diseran que ouuese des maao grado sobre
que estauan as ditas trégoas postas, et que se fosen dely, senón
que lles birtarán
as cabeças' (Ourense, 1459)
Os
derivados modernos pertencem ao ámbito do léxico agrícola: brita,
britada
'leira, cultivo', birta
'rego', brita
'cascalho'.
68.
Teixo,
teixom,
teixugo,
teixudo,
porco-teixo,
reco-teixo
(cf. Eligio Rivas, Natureza, toponimia e fala, p. 415-416)
Do
germánico *þahsuz 'badger' (REW 8606;
Orel 2003 s.v.), que tem penetrado os romances ocidentais: italiano
tasso,
antigo francês taisson,
castelám tejon,
tasugo,
norueguês svin-toks,
AAA dahs.
As formas tasugo
e teixugo
prodecem dum derivado *þahsukaz. Na Galiza desde o 1104:'per medium
valle de Linare Monte, et inde a Texunarias,
et inde ad Alvarina' (Caaveiro), e em galego desde o 1267: 'Esta son
as prisas qui les uendu; as meas das prisas de Curaes et a mea do
Seengu, et a prisa dy Teysugeyras
enteyra', (Vida
e Fala dos devanceiros,
Ourense, 1267). A forma galega porco-teixo
corresponde-se co norueguês svin-toks,
o
castelám cerdo
tasugo,
o Italiano dialectal tass
purscel.
69.
Falando de animais, temos os verbos grinhir,
grinhoar,
grinhuir
'rinchar, cuincar, grunhir', que si bem podem amossar influxo de
grunhir,
provavelmente procede do PGmc *grīnanan
'gemer, ladrar' (GERT 774; REW 3870;
Orel 2003 s.v.; Köbler 2007 s.v.), donde (para citar só resultados
nas línguas romances) francês antigo grignier,
italiano digrignare
'acenar, ensinar os dentes', occitano grinar
'grunhir'. Tamém das línguas germanas, mais coa mesma orige última
onomatopaica, temos o nosso lapear,
coa moi clara variante galapear
'lamber,
botar a língua fora' (idêntica ao antigo alto alemám gilepphen,
que amossa a partícula germánica ga- cognata da latina co-, que nos
afasta dumha orige independente, e nos leva a umha herdança
germánica) e 'arder' (ao comparar as chamas coa língua: lapa =
chama). Tem cognatos romances e germánicos: francês laper,
catalan llepar,
islandês lepjan
'lamber', AAA gilepphen
'botar ou servir com culherom', sueco dialectal glapa
'tragar', todos dum proto-germánico *lapjanan (GERT 1269; REW 4905;
Orel 2003 s.v.) Como derivados: gulapo
'grolo, trago', idêntico ao inglês gulp
de igual significado, lapa-caldos,
lapo
'esgarro'.
70.
Trapa,
trampa
(cf. Eligio Rivas, Natureza, toponimia e fala, p. 416-417)
Provavelmente
do proto-germánico *trapp- 'pisar, pisotear' (GERT 2235, 2234; REW
8863, Orel 2003 s.v. *trappōjanan),
com cognatos francês trappe,
occitano trapa,
castelám trampa,
norueguês dialectal trappa
'pisotear', anglo-saxom treppan
'pisotear', entre moitos outros, ainda que Coromines prefere explicar
todas estas formas por médio dumha comum orige onomatopaica. Na
Galiza, som moitos os derivados: trapela,
trapicela
'porta pequena, trapa, trampa, cepo'; trapejar,
trapinhar
( < francês trépigner?)
'pisar, andar'; atrapar;
trapalhada,
atrapalhar, trapacear, trampulheiro, trapalheiro,
trapaceiro,
trapaças,
trampom...
71.
Relacionado co anterior temos tamém os verbos tripar,
trepar
e
trepejar
'pisar,
trilhar', provavelmente do PGmc *trappōjanan de igual significado,
ou dumha onomatopeia comum (GERT 2234; REW 8915; Orel 2003 s.v;
Coromines 1997 s.v. trepar).
Cognatos: francês treper,
occitano, castelám trepar,
anglo-saxom treppan
'andar,
pisar'. Os nossos derivados incluem provavelmente tripadela,
tripadura
'pisom', trepejo
'inquieto'. Num texto anónimo de 1807 (note-se o voceo
frequente no galego do século XVIII):
“-
{ Avelleira } En consensia xa podía, porque vos anda bremando o
señor Don Xoán Oliva que está facendo as súas veces.
-
{Carbia} Non conozo a ese Señor.
-
{Avelleira} Vos conocés pouca xente ben se ve que non tripastes
os palacios que eu tripei.”
72.
Varom
'home, pessoa de sexo masculino'
Do
germánico
*baro
'home' (REW 962, Orel 2003 s.v.),
cognato do castelám varón
idem; francês baron,
Italiano barone,
occitano e catalám baró
'nobre', AAA bar
'filho, home'. A sua moi temperá presença na documentaçom
latina galega garante que esta verba na nossa língua foi herdada ou
bem da língua dos suevos, ou bem dos godos, ou já estava
incorporada no latim vulgar do ocidente da Romania, como sugere o
feito de ser palavra conhecida por Isidoro de Sevilha, quem lhe supom
orige grego. Em Portugal já no 870: “et
peruenerunt illos filios barones
ad ordinem monacorum”; na
Galiza desde 1010:
“sunt filios de Vizoi duos uarones
nominibus Romanu et Petro et mulieres filias Vizoi nominatas“;
em 1032 “coadunavit
se ipse comes cum omnes suos barones,
& cum Gens Leodomanorum, & cerravit ipsa penna“;
em 1064 “in
Monte Nigro, uilla de Fredani et Xem homines inter barones
et mulieres” (CODOLGA). Som
derivados varudo
'pessoa forte, robusta e vigorosa', e pode que barragám
('barraganes',
958, cf. Coromines 1997 s.v. barragán).
Barom
'nobre' é um empréstimo seródio, tomado do occitano ou do francês.
73.
Faísca
'cinza inflamada que sobe co lume; arume, agulhas dos
pinos; copo de neve; caspa; acha de madeira; sujidade':
Presenta
variantes dialectais faisca,
faiusca,
fausca,
falhusca,
farrusca,
fasco,
feberisca,
fuisca,
furrisca.
Nom sei até onde pode ter influído noutras palavras como frasca,
frosca
(cf.
REW 9360); ou farraspa,
fiaspa;
falerpa,
felepa,
felerpa,
fiapo,
folerpa,
fulerpa
(cf.
REW 9173) derivadas
do latim (?) faluppa
'acha,
palha'. O nosso faísca vem do germánico *falwiscōn,
'cinza' ou 'moxena', ainda que Meyer-Lübke teima num influxo do
latim favilla/failla/*falliva,
que eu penso que nom é preciso: este proto-germánico deu um antigo
alto alemám falawisca,
coido que idêntico ao étimo último do que partem as nossas formas
dialectais. Umha possível história
evolutiva destas é:
*falawisca >
*falaisca (/w/ > 0 como em favilla 'faísca' > failla
> gal. feila) > falisca > faísca
(queda do l intervocálico)
*falawisca >
*favalisca (metátese) > feberisca
(rotacismo; o tratamento das vogais
é irregular, com interferência de ferver?)
Outras
partem directamente de *falwiska:
*falwisca
> *faluisca > *fauisca (queda do l intervocálico) > fuisca
(queda de vogal pré-tónica?) e com metátese, *faiusca (metátese
/ui/ > /iu/) > faiusca
/ faúsca
O germánico *falwiscōn
tamém originou o antigo nórdico folski,
o antigo alto alemám falawisca,
italiano antigo favolesca,
piemontino faraveska,
faravoska,
faravuspa,
francês flamèche
(cf. V. Orel s.v. *falwiscōn;
REW. 3152, 3226, 3173). No nosso
país o testemunho primeiro desta palavra é de 1173, sendo usado
como alcume: “Munio
Petri cognomento Falisca”
(Sobrado
1173)
74.
Outra verba peculiar, nossa, ainda que já extinta é a medieval
trigar
'bulir, apressurar', trigança
'diligência', trigoso
'rápido, sem demora', um provável suevismo procedente do
proto-germánico *þrenhwanan
'pressionar, empurrar, apressurar' (REW 8713, Orel 2003 s.v.
*þrengwana;
Köbler 2007 s.v. *þrenhan),
com natural evoluçom fonética germánica (cf. AAA līhti 'luz' <
PGmc *lenxwtaz) em *þrēhwan > *þrīhwan, adaptado ao
proto-galego como *trīcar. Entre os cognatos temos o gótico þreihan
'pressionar', AAA dringan
'pressionar, conduzir'. Como exemplo, nas Cantigas de Santa Maria
(século XIII):
“Mas
tu sen falida
mia
messageria
faz
com'aguçosa
á
abadessa, que ida
faça
mui trigosa”
75.
Esculcar
'vigiar, espiar', esculca,'posto
de vigia, sentinela, espía', esculcadoiro
'garita, posto de vigia', todos dum possível proto-germánico
*skulk- 'agachar, assejar, fingir' (mais, a favor dumha orige latina:
Leo
Wiener, Commentary to the Germanic law, 1999).
Hoje, para além dos usos restritos e dialectais em castelám, onde
significa máis bem 'buscar', os seus cognatos estám nas línguas
germánicas:
inglês skulk
'assejar, emboscar', norueguês skulke
idem, sueco skolka,
danês skulke
'fugir'. Moi antigo na Galiza:
*
'per pena rotunda, et inde ad illam castinaria, et inde per uillam
novam inter illam sculcam
et Agaimi', 974 (Arquivo histórico provincial de Ourense,
pergaminhos, Celanova, 1)
*
'ad aqua subterra et inde ad castro de Couabrieyra ad asculcadoyro
de Cutios ad Pontela de Forneyra et inde ad laguna' (Lourençá,
1100)
*
'Este día e ano, en paaços de Pero Leyteyro, que sõ ẽna dita
Santa Vaya en presençia de mjn, dito notario, et çétera, pareçeu
y presente Gonçaluo de Paradela, ao qual eu tomey juramento sobre
hua sinal de crus en forma de dereyto, et çétera, e diso que para o
juramento que feyto avía que podía aver quatro anos pouco máis ou
menos que el yndo por seu vjno aa grãja, que oýra cauar ẽna orta
de baixo da granja de Saar, e que saýra ao curral e fora ver e
achara a Johán Rramallo, fillo de Johán Rramallo de Vermo, moço de
Johán de Meljde, ferreyro da Proua, que leuaua huu ljmoeyro çebtý
que avía arricado da orta de baixo da dita grãja, e que nõ sabendo
delo parte lle disera que fesera mal e que o acusara delo, deséndolle
que(e)n lo metera allý, e el que rrespondera que Johán de Vera, e
que Afonso Rrodriges Vimyeiro dera a esculca
del a seu dono, e que veu comoo leuaua o dito moço, pero que nõ foy
en elo de dereyto nẽ de feyto nẽ de cõsello, nẽ leuou por elo
nada.' (Posmarcos, 1457)
76.
Outro provável germanismo é esnafrar
'fanar, magoar, esmagar o nariz' (a nom ser que co francês
renifler
tivesse umha origen onomatopaica, ou co aragonês nafrar
'magoar' for um derivado do árabe andaluz náhra
'degoladura', o que resultaria surpreendente dado o seguinte),
derivado de nafro,
nafre,
nafres,
nefres
'nariz, lábios', donde tamém nafrado
'chato', nafrám
'feo', nafrudo
'morrudo, boto', náfiga
'ferida no nariz' (e menos provavelmente nifrar
'sonar o nariz, chorar', nifrám,
nifroso
'chorimica') do PGmc *nabjan 'bico, nariz' (REW 5914, Orel 2003; ver
tamém GERT 1478), provavelmente com influxo do francês antigo
nifler
'respirar sonoramente' > galego nifrar,
e/ou de verbas como o normando nafre
'ferida' (GERT 1478), étimo já proposto por Aníbal Otero em 1971,
e donde o antigo nórdico nef
'bico', anglo-saxom nebb,
italiano antigo niffo
'fucinho', e occitano nefa.
Documentado em galego só desde o século XIX, mais ausente do
castelám até onde eu sei:
* “sòlo queren, se
n'é ceibo, quitá-lo dos soterranios, pois anque fose tres veces
este picoto máis alto a farramenta gallega viñera toda a
esnafrá-lo! ¡Dinos, pois, onde
s'atopa!' (Antonio de la Iglesia, 1860)
* “E direille o qu'en
Ourense
Inda hoxe está pasando,
Por máis que lle pese a
algún,
Anque me rompan os
nafros” (Tio Marcos da Portela, 1877)
Tamém nápia
'nariz (grande)', poderia proceder de *nabjan se assumimos para esta
verba a mesma evoluçom que de *rebja levou a rip(i)a.
77. Já hoje
desaparecido, mais moi frequente nas fontes medievais, temos o velho
malado 'serviçal' (que nom malato 'gafo'), usualmente
considerada visigótica nom sei por que motivo, e cujos máis
temperáns testemunhos amossam a forma mallatus, provavelmente
derivado do Germánico *maþlan (REW 5238, Orel 2003 s.v.), 'mercado,
assemblea' ('mensageiro' ?> 'serviçal'):
*
“consentivit eis et direxerunt ad regem ad Legionem suo mallato
Bera et ille abba et frater Adelfio et frater Ascarico” (Samos,
c. 944)
* “alium vinum de
nostras vineas quod ducant illos malatos
quos mandat Nuno Vermudiz” (Celanova, 1004)
* “Ille comite talia
audiente casa non fuit illi placibile, sed exarsit nimis in forore et
ira pro suo mallato, que absque veritate
iudicaverant et tanta mala sustinuerat. Tunc suscitavit.”
(Celanova, 1056)
A palavra ainda era
usada no século XIII, nos cancioneiros galego-portugueses.
Surpreende que aqui o elemento *maþlan
tenha evoluido de forma moi distinta a como penso que o fixo na
toponímia: Madrosende
< *Matlosinde/i, genitivo latinizado do antropónimo
*MaþlVswenthō/az. Bem pode ser que os topónimos e o apelativo
pertençam a dous estratos linguísticos distintos (ou que
algumha/ambas etimologias sejam incorrectas).
78.
Especar
'estacar, sujeitar, amparar ou endereitar com escoras ou barras',
espeque
'estaca, escora', provavelmente do francês antigo esprequer,
de *exprikkare, do proto-germánico *prikōjanan 'picar', donde o
islandês prika,
antigo-saxom prician
'picar' (GERT 1584; REW 3056 e 6748; Orel 2003 s.v.). Desde o 1858,
no dicionário de Luis Aguirre del Rio:
“Especada.
La planta o viz a que fue necesario poner un puntal para que no se
torciese, sujeta; obligada á seguir una marcha en su desarrollo. Se
dice de las plantas, etc.
Especado.
Lo que esta sujeto con puntales o baras gruesas para que no se doble
o no se caiga; se dice regularmente de los arboles á que fue
necesario poner estacas o puntales para que no adquiriesen el vicio
de torcerse, o tambien cuando estan muy cargados de frutas.
Especar
(vo) Sujetar, asegurar, fijar con puntales o baras gruesas los
arboles, parras o cualquier otra cosa.”
79.
Sa
'camada, sementeira, geraçom'. Poderia proceder (cf. Kremmer
2004) do proto-germánico *sala (nórdico antigo
salr,
anglo-saxom sele,
AAA sal,
'casa, salom'),
que tem originado os nossos topónimos (que J. Piel considerava
visigóticos, eu suevos por parcimónia ou economia) Sá,
Saavedra,
Sás,
Sás
Dónegas,
Sela
( < Salella), documentados desde a Alta Idade Média: 'donamus
tibi aliam villam quam dicunt Sala
quod abemus divisa cum germano nostro Teodemiro' (Celanova, 916). A
evoluçom semántica levaria de 'casa' ou 'assentamento', a 'grupo
familiar originado no mesmo assentamento', a 'camada ou conjunto de
criaturas ou froitas originadas juntas'. O apelativo sá, e os
topónimos devanditos, seriam
em consequência cognatos de sala,
salom,
verbas tomadas do francês.
80.
Pode tamém ser germánica a palavra bóveda,
se Coromines estava no certo quando propunha como étimo umha forma
hipotética *bōwiþō 'morada, residência', derivada de *bōwanan
'habitar'. Outras etimologias rivais som, primeiro, do latim VOLVITA,
pouco compatível na sua forma coa documentaçom antiga:
*
“columnas sex cum basibus totidem posuimus, ubi abbobata
tribunalis est constructa” (Consagraçom catedral Santiago, 899)
*
“duo casalia in Castellum Bellum iuxta ecclesiam Sancti Petri de
Bobadela”
(Bóveda, 899)
*
“et est ipsa hereditas in uilla Buuatella”
(Celanova, 919)
*
“in Armena Bouata
et eclesia ibidem sanctae Mariae” (Celanova, 942)
*
“ iuniores sic de Cambario, de Fraxineto, de Cambeo, de Bovata,
de Tamaliancos” (Celanova, 1004)
*
“villa de sancta Maria quam nuncupant Buvatella
ripa ribusculi Sorice” (Celanova, 1010)
E,
segundo, o tamém latino BOVATA, que Du
Cange definia como a medida de terreo que um jugo de bois podia
lavrar ao longo dum ano, mais suponho que este termo originaria um
**bováda, e nunca bóveda; tampouco poderia explicar o das
formas antigas Buvatella.
Os nossos topónimos Bóveda,
Bovadela
e Boadela,
teriam correspondência co castelám Bobadilla,
Boadilla,
e catalam Buada
e Boada.
81.
Escançám
'servo' (propriamente 'copeiro'), já presente na nossa documentaçom
alto-medieval, o que revela que é verba independente do velho
francês eschancier
(idêntico si ao nosso escançar):
“et
ipsos omines qui erant scantianes
de illos rex …
et conciliavit illas villas per caracteres pro
ad illos scancianes”
(Samos 1058)
Já
na lírica galego-portuguesa:
*
“E, se eu fosse u foron escançadas
aquestas
novas de que ti falei”
(Joam
Garcia de Guilhade, 1240-1300)
*
“Trage reposte, trag'escançan
e
traz çaquiteiro, que lhi dá pan”
(Pero
Gomez Barroso, 1240-1300);
A
escançania
era um ofício ou bufete da Se de Mondonhedo:
“It.
a Johan da escançania
C. mrs.” (Colección
diplomática de Galicia Historica:
Mondonhedo, 1326)
Todo
do PGmc *skankjanan 'botar, servir um líquido' (GERT 1932; REW 7973,
7974; Orel 2003 s.v.), donde por exemplo francês antigo eschancier,
castelám escanciar,
anglo-saxom scencan,
AAA skenken.
82.
O galego preserva também um antigo germanismo moi espalhado, escuma,
verba cognata da latina SPUMA > gal. espuma, já documentado na
nossa idade média:
“et
tornasse escumoso
o seu rrio da escuma empero que o façam as suas ondas” (Geral
Historia, c. 1300)
“deytaua
da boca hũa escuma
que semellaua chama et o sseu bafo semellaua que queymaua o ayro”
(Cronica Troiana, c. 1370)
Do
PGmc *skūmaz
de igual significado (REW
§8013; Orel 2003 s.v.): norueguês dialectal skum,
AAA
schūm,
italiano schiuma,
francês écume.
Entre
os nossos derivados temos escumadeira,
escumar
'tirar
a escuma', e escumalho
'escoura, escuma da boca'.
83.
Outro germanismo velho é estaca,
que na Galiza atopo por vez primeira como topónimo ('et per castro
de Quintanela, et per valle de Staka,
et per petra de Puzo, et per vado de Compece\i/ras', Samos, 1086) e
máis tarde como alcume: “Petrus Staca''
(Lugo, 1198). Em 1315 já o achamos co valor de bargo:
“herdade do Amenal, conmo jaz entre estacas
et regos” (Vama, 1315). Gosto moito dum documento Pontevedrês de
1432: “Outrosy, que nenghun seja ousado de amarrar nauio algun a
Ponte desta dita billa nen meter estaqas
en ela” (Pontevedra s. XII-XV, 1432). Do PGmc *stakōn de igual
significado (REW 8218, Orel 2003 s.v., GERT 2042): francês estache,
occitano estaca,
anglo-saxom
staca,
alto alemám médio stache.
Note-se contodo que de *stakōn aguardaríamos **staga, polo que ou
bem o termo entrou tardiamente na península, ou bem amossa a
interferência dum germánico ocidental *stakk- 'cercado', que puido
igualmente ter entrado serodiamente. Entre os derivados:
estacar
'amarrar, fixar cumha estaca',
estacada 'paliçada,
cercado, barga'. Como variante antiga, estacon:
“entrando y perigoo ou osso ou pedra ou estacon
ata o tuello de que se dana aas uezes” (Tratado de Albeitaria, c.
1409). Do francês estacher
'estacar', procede estacha
'amarra de barco'.
84.
Antigos som tamém os nossos espora
e esperom
(asperom, esporom),
do proto-germánico *spurōn 'espora' (REW 8178; Orel 2003 s.v.; GERT
2024):
“III
parelios de zapatas, II parelios de sporas”
(Samos, 1074)
“per
illa Iubaria; postea, per illud Saxum et per illud Asperon
et per pennam Mirogono, usque ad illum Biduarium” (Pedroso, 1128)
Som
cognatos: italiano sperone,
francês éperon,
castelám espuela,
espolón,
antigo nórdico spori,
anglo-saxom spora,
AAA sporo.
Como derivado (ou melhor composto) da nossa espora temos o espolarte
(já em Sarmiento), palavra coa que se designa à orca e por vezes o
golfinho ou algum peixe (anglo-saxom *spora-waerte 'esporom -
verruga/teto', um nome esquecido do nerval aprendido de navegantes
nórdicos e depois aplicado aos cetáceos das nossa latitudes?)
85.
Outros germanismos antigos som espeto
'assador,
ponta, estoque',
e
espita
'cravo,
bilha', ambos usualmente traídos do germánico *spitan, *spitaz
'lança, barra, cravo' (mais note-se nesse caso a nom sonorizaçom do
/t/!), mais note-se *speutan 'lança':
*“habeo
duas cupas minores, unum curugiol cum suo speto,
unam cantaram de vinagri, unum mortarium de petra” (Ourense, 1263)
*
“mandou trager carne et fazer grandes espetadas
della et colegarlas sobrela arca em [hũus] fustes” (Geral Estoria,
c. 1300)
*
“hua caldeyra et huum caldeyroon et huas greelas et huum speto
de ferro et huum acetere et hua arameña et huas Gramalleyras et das
outras perfeas de casa todos los bacios et escudelas et talladores et
salseyros de fuste que ouuer na casa et hua mesa” (Santiago, 1375)
Temos
os cognatos romances (GERT 2019; REW 8163; Orel 2003 s.v.): francês
épois,
napolitano spito,
castelám espeto,
espito;
e germánicos: norueguês
spit
'barra de ferro',
AAA spiz
'lança'. Hai moitos derivados: espetar,
espeteira
“tabla colocada en la pared de la cocina que tiene unos ganchos en
los que se colocan cucharones, espumaderas, etc”, espetom
'piom, Ammodytes tobianus (peixe)', mais interessam-me especialmente
gaspeto
“palo que se clava en la pared para colgar cosas”, e gaspitadura
“herida en las uñas de la vaca”, ambos aparentemente dum
germánico *gaspit-, e
a priori nom
explicáveis como formaçons romances, senom só como formas tomadas
dumha língua germánica, tendo o mesmo étimo que o antigo alto
alemám gispiz
'ponta, gume', sendo polo que sei caso único nas línguas romances.
86.
Ripar
'tirar a baga do linho; raspar, arrebatar, mondar; talhar madeira;
debulhar o milho', ripo
'peite para ripar (o linho)'. Idêntico ao francês
riper
(só
desde o século XIV)
'arrestrelar,
escardar; rascar a pedra cumha ripe
(brocha
ou escova)', ao neerlandês ripf
'raspador', rippen
'tirar, palpar', e moi
notavelmente ao antigo
alto alemam rippeln:
'faire
passer le lin dans un peigne de fer qui sépare la graine des tiges'
(REW 7332; Donkin: 373; CNRTL s.v. riper), todos dumha variante do
proto-germánico *wrīban (Köbler 2007 s.v.) 'esfregar'. Note-se
tamém o inglês rip
'rasgar', flamenco rippen
"strip off roughly,", frisom rippe
"to tear, rip". Entre
os derivados:
arripar,
arripaçar,
idem; ripo,
ripom, ripanço 'peite
para ripar o linho'; arrípio
bravo
'(planta)'. Em suma, poderia ser um suevismo, sem desbotar que seja
um empréstimo tomado do francês na idade média. Note-se contodo
que a) falta no castelám e no resto dos romances peninsulares, b) o
francês supom-se tomado do neerlandês já na baixa idade média, e
c) a accepçom primária do nosso ripar é aquela do antigo alto
alemám rippeln.
Assemade, um derivado como ripanço
(por médio dum sufixo de aspecto pré-latino) é provavelmente
antigo na língua. Em Português e galego temos testemunhos escritos
desde o XVIII:
*
“arripio bravo. Llaman así en Tomeza
a una planta que, dando con ella en la lengua, saca sangre y acaso
será la rubia tinctorum , que en el Valcárcel llamaron raspa
lengua” (Sarmiento, s. XVIII)
*
“ripounolo un ruín caco contra quen
vou a declarar” (Fernández Morales, Antonio “Ensaios poéticos
en dialecto berciano”, 1861)
*
“Sempre madurece o liño pasadas sete semanas, i arrínca-no, pra
levá-lo en feixes, a xunt'a aira en donde arman un pendello con
ripas ben aguzadas, pra poder ripar
á sombra, separando tod'a baga” (Rodríguez López, Xesús,
“Pasaxeiras”, 1898)
Esta
etimologia germánica já fora proposta por Eligio Rivas no seu
Frampas I “El ripo en I. es ripple, al. riffel; I. rip (arrancar
parte de), frisón rippe, fr. ribe (máquina de espadillar)”.
87.
Similarmente
temos tamém ripa,
ripia
'tábua, listom, vara', listons de madeira empregados polo geral nos
teitos e telhados das vivendas, espigueiros, palheiros e alpendres;
mais tamém para tabiques, ou nos laterais dos carros. Do germánico
*rebjan
'costela' (cf. Coromines 1997 s.v. ripia; Orel 2003 s.v.; REW 7298;
GERT 1669), provavelmente por analogia entre o aspecto das ripas
tendidas desde os cangros e o da soám (coluna) coas suas costelas. A
verba é de distribuiçom ocidental na península, e deve proceder
dumha forma intermédia *reppjan,
que presentaria fenómenos fonéticos típicos das falas germánicas
alto alemás: *rebjan > *rebbjan (geminaçom por efeito da
aproximante palatal /j/) > *reppjan (ensurdecimento das
oclusivas): antigo alto alemám repa
'alpendre', alemám rippe
'costela', mais nórdico antigo rif,
anglo-saxom ribb.
Ou suevo ou visigodo, máis amossa sem dúvida concomitáncias co
alto alemám. Em
galego desde 1317, ao menos:
“Et
uos, Domĩgo Grandeyro τ uoſſa moller τ uoſa uoz, deuedes adubar
as ditas treſ quartas das ditas caſas no dito tẽpo de
reuoeluemẽto τ de cabros τ de ripa
τ de tella;” (Pontevedra, 1317);
Ou
na nossa literatura do Rexurdimento:
“Era aquela unha fiada
de sona polo terreo, e non só de preto iban, mais tamén ían de
lexos; Arrombado xa o muíño, que quedara un pardiñeiro, parecía
un muíño novo cando menos no cuberto, pois relucían as ripas
que eran delgados casqueiros de carballo e mais de pino e por eso ían
máis mestos” (Pintos, 1858)
88.
Similar uso construtivo têm as latas
'táboas' ('deuedes
a poer en forca et en latas
toda a dita vinna', 1331), verba tomada já dumha língua céltica,
já dum germanico *laþþ- 'taboleiro'
(Coromines 1997 s.v. lata; REW 4933;
GERT 1277: Köbler 2007 s.v.).
89.
É bem conhecido tamém o germanismos raspar,
com cognatos em todas as línguas romances ocidentais: italiano
raspare,
francês râper,
occitano e castelám raspar,
Occitano raspalh
'ácio ou cacho de uvas', dum germánico ocidental *hraspōn
(Coromines 1997 s.v.; REW 7077; GERT 1635), donde tamém o antigo
alto
alemám raspen
'apanhar, buscar, juntar, juntar restos', neerlandês raspen
'raspar' (CNRTL s.v. râper). Como derivados raspa,
raspadeira,
raspadoiro,
raspom,
raspinho
'instrumento para raspar'; raspalho
'resto de algo'; raspalheiro,
raspanheiro
'que anda as raspar ou sobras'; raspeta
'raseiro'; raspote
'pam feito com raspas da artesa'; raspiar,
raspizo...
Tamém
garipolo
'tronco sem ponlas, persoa delgada...', relacionado ou tomado
(passando polo castelám da Andaluzia garipolo,
ou o intecámbio foi ao revês?) do Italiano grappolo
“raspalho de uvas” (REW
7077).
Em
castelám desde 1495 (Coromines). Em Galego, como alcunha, em 1340:
“Pedro Raspallo”
(Documentos catedral Lugo s. XIV).
90.
Possivelmente relacionado temos rispar
'tocar levemente, liscar inadvertidamente, arrebatar, quitar por
força', do PGmc *hrespan 'arrancar, arrebatar' (Köbler 2007 s.v.),
donde antigo frisom hrespa
'rascar, arrincar', antigo alto alemám hrespan
'arrincar,
tirar, tomar', anglo-saxom gehrespan
'arrebatar'. Nom
lhe conheço cognatos romances, máis si é verba tamém usada em
Honduras “salir huyendo com rapidez”. Consequentemente, um
suevismo ou um goticismo relicto, com fonética oriental *hrespanan >
*hrispan, adaptado à fonética romance, *rispar. Testemunhado desde
o século XIX:
* “O seu pran era
pispiar o momento en que Rodrigo aparecese co seu farol pola porta da
cidá e torcese prá calle de Bonaval; botar-se de carreira polo
primer calexón da esquerda, atravesar a calle do Medio, saltar a
xunta a Cruz do Home Santo, parapetar-se contra a casa da esquina,
esperá-lo alí, e espetar-lle a espada astra o cabo. Despois
rispaba-se pola calle do Medio, astra
chegar aa casa dun caseiro que tiña seu amo no Picho da Cerca.”
(López Ferreiro: “A Tecedeira de Bonval”, 1895)
91.
Por outra banda temos o verbo rapar,
Palavra moi viva em galego. Coromines propom para o castelám um
germánico *hrappōn 'arrebatar, arrancar, tirar do cabelo', que
relaciona co alemám raffen
'recortar', inglês rap
'golpe seco', antigo nórdico hrapa
(vejam-se
tamém a entrada *hrap-,
*hrēp-
do Germanisches
Wörterbuch
de Gerhard Köbler, e máis *xrappjanan no A
handbook of Germanic etymology
de Vladimir Orel). Som cognatos romances (REW 7057): italiano
arrappare
'arrancar', occitano rapar
'arrancar', catalám rapar
'roubar', nórdico antigo hreppa
'tomar, obter', anglo-saxom hreppan
'tocar'. As notícias mais antigas na Galiza som do século XIII:
*
“et medium de Pedro Rapado”
(Júvia, 1144)
*
“Johannes Fernandi dictus Rapadus”
(Tombo de Tojos Outos, 1245),
*
“una rapada
de trigo” (Souto Cabo 2008, 1261).
Nos
foros de Castelo Rodrigo do século XIII, a palavra e empregada como
alternativa a furtar e esbulhar ( < expoliare). Som derivados e
compostos: arrapar
idem; rapa
'espátula, pá, raseiro; operaçom de cortar as crinas dos cavalos;
diversas espécies de peixe plano'; rapa-caralhas
'tipo de insecto'; rapa-conas,
rapa-cricas
'estrela de mar'; rapa-coucou
'pessoa
coa cabeça rapada'; rapa-cus,
rapante, rapapelo, rapapote
'várias espécies de peixes planos'; rapada
'medida de áridos: dous ferrados ou dous ferrados e meio'; rapote
'torta feita com raspas' ('Gonçaluo Rapote',
1334); rapadeira,
rapadela, rapa-tundas, rapa-torrons, rapa-velas, rapela, rapenha,
rapeta...
92.
Passamos de rapar a outro verbo com similar significado: tosquiar,
e variantes, dum composto *tras-esquirar, do PGmc *skeranan 'cortar,
tosquiar' (Coromines s.v.; Orel 2003 s.v.), donde o castelám
esquilar,
trasquilar,
aragonês esquirar,
nórdico antigo skera
‘cortar, sacrificar', anglo-saxom sceran
‘cortar, tosquiar’, AAA skeran
idem. Desde o século XIII:
“Vi coteifes orpelados
estar mui mal
espantados,
e genetes trosquiados
corrian -nos arredor;
tiinhan -nos mal
aficados,
[ca] perdian -na color.”
(Afonso X, s. XIII)
93.
Tamém é germanismo esquina,
do PGmc *skinō 'peça, osso da canela' (REW 7994; Orel 2003 s.v.)
donde o occitano
esquena,
castelám esquina
idem; inglês shin
'canela', German schiene.
Dado
o seu n, deveu ser tomada do castelám já na idade média:
*
“Ali
jazian cavando
un
dia triinta obreiros
so
esquina
dũa torre,
por
gaannar seus dinneiros;
e
a torre, que estava
posta
sobre terronteiros,
leixou-sse
caer sobr'eles.” (Cantiga de Santa Maria, c. 1264)
*
“estando y Martín Peres de Trella fasendo hua parede á esquina
da parede de hua sua casa en que soya morar” (Ourense, 1432)
Um
possível derivado antigo poderia ser esquinhom
'aplícase al que aprovecha demasiado el fruto en los lindes de sus
fincas con las de los vecinos' se dum *esquĩom < *esquinone,
pejorativo, '*(que aproveita a) esquina'.
94.
Tem tamém um valor arquitectónico balcom,
do germanico *balkōn 'trave' (REW 907, Coromines 1997 s.v.)
provavelmente via o occitano balcon,
já co valor máis conhecido da nossa palavra. Outros cognatos som o
italiano balco
'sobrado' (e palco),
e o francês antigo bauc,
AAA balco
'trave', anglo-saxom balca.
Ainda nom sendo um germanismo
moi enxebre, a sua presença em galego é anterior à sua presença
em castelám: Coromines (no seu Breve diccionario etimológico de la
lengua castellana) indica que em castelám a sua primeira
documentaçom é de 1535, procedendo do italiano. Mais em galego
quase com plena seguridade se pode afirmar que nom procede desta
língua, por quanto já é empregado na Crónica Troiana do século
XIV:
“en
aquesta porta non auja cubo nen balcon
nen arqueta”;
Sendo
o seu máis temperám uso em 1347, num documento de Belvis
(Santiago):
“que
façan et ergan en maneyra que non entargem o viso das feestras do
balcon
da outra mina casa que esta a so nesta que dou ao dito moesteyro”.
Em
Tui, 1367:
“et
outrosy que podesse ennas ditas casas fazer balcoos
sobrela rua en maneyra que non tolla o caminho” (TMILG: Tui, 1367).
Ou
num documento de Lugo de 1379:
“por
tal condiçon que façades et reparedes a dita casa d'aquelo que esta
por faser, et demays que façades en ella hun sobrado con dous
balcoes
desla porta da rua ata a cortina dela, et huna camara çarrada et
pechada ençima do sobrado ou en fondo del qual vos ante quisserdes”
(Lugo, 1379).
Indicado
só como possibilidade, pode que na Galiza a palavra fora introduzida
e popularizada polos moitos franceses que se estabelecérom em
Compostela, seguindo o caminho de Santiago; mais surpreende a sua
ausência das fontes casteláns dos séculos XIV e XV, e ainda a sua
escasseza no século XVI. O derivado balcoada,
que recolhem alguns dicionários, semelha um calco recente do
castelám balconada.
~o~o~o~
95. É tamém germánico
marrar 'errar, falhar, faltar', do PGmc *marzjanan
'impedir, dificultar' (REW 5373; Orel 2003 s.v.): francês médio
marrir
'dificultar, contrariar', catalan marrar
'errar, perder-se', gótico marzjan
'anojar', alglo-saxom mierran
'dificultar', AAA merren:
*
“Et Rrulan meteu mão a espada, et en coydandoo de matar, marroo,
et doulle ẽno caualo et partio por meo” (Milagres de Santiago, c.
1390)
*
“Outrosy en rason dos vinnos que se meten de fora en esta villa a
dapno do conçello por quanto acho por los hommes uedrayos do
conçello que aqui en esta villa que ouuo senpre de custume de non
meter vinno de fora parte en esta vila et saluo que os visinnos da
villa ouueren de sua lauoria et sua marra.”
(Mondonhedo, 1389)
96.
Nom é segura a germanidade última de pouta,
supostamente dum PGmc *pautō 'pouta' (GERT 1527; REW 6309; Köbler
2007 s.v.) com cognatos: catalan
pota,
francês antigo poe,
occitano pauta,
neerlandês médio poot,
alemám pfote.
Som derivados a poutega
'Cytinus
hypocistis (planta)',
poutada
'áncora', poutas
de
zorro,
pouta
loba,
poutear...
97.
Outro caso debatido (por motivos semánticos e fonéticos) é o de
fato
'grupo de animais, pessoas ou cousas; tela, vestimenta', do germánico
*fatan 'roupas' (cf. Coromines 1997 s.v. hato;
REW 3218; Orel 2003 s.v.): nórdico
antigo fata
'roupa, vestido', AAA faza
'fardo', alemám fetzen
'farrapo', sueco
fate-bur
'armazém'. Em galego desde o século XIV:
“Jupiter se fezo
caudillo da grey -et grey se entende aqui por ovellas ou grey de fato
dellas, et caudillo por carneyro-, et ajnda agora ho adorã em fegura
de carneyro, ẽno templo de Jupiter, em terra de Libia” (Geral
Historia, c. 1300).
George Borrow no seu
'The Bible in Spain' recolhe a expresom 'fato
de borrachos', coa que um paisano dumha taberna de Corcuviom
desprezava aos de Fisterra (este país é-che assi):
“We hastened on to
Corcuvion, where I bade my guide make inquiries respecting
Finisterra. He entered the door of a wine-house, from which proceeded
much noise and vociferation, and presently returned, informing me
that the village of Finisterra was distant about a league and a half.
A man, evidently in a state of intoxication, followed him to the
door. "Are you bound for Finisterra, Cavalheiros?" he
shouted.
"Yes, my friend,"
I replied, "we are going thither."
"Then you are going
amongst a flock of drunkards (fato de
borrachos) [sic]' he answered. "Take care that they do not play
you a trick."
Tenho sentido tamém a
expressom 'fato de badulaques'
para se referir a gente falangueira e de pouco siso.
~o~o~o~
98.
Máis antiga, e moi enxebre, é a família do nosso agasalhar,
derivada do medieval gasalian,
gasaliana 'companheiro,
camarada, esposa':
*
“sca. Maria de Vilarino quam fecit Romanus cum suis gasalianis”
(Santiago, 830)
*
“battivimus vestro iuniore nomine Froila cum alios meos gasalianes
nominibus Miros, Fagildo et Alifreda” (Celanova, 940)
*
“villa de Allonicos quantum ibi profiliamus una pariter cum nostra
gasaliane
dive memorie” (Celanova 952);
Esta
palavra procede dum composto germánico dos elementos *ga- 'co-' e
*saliz 'casa, salom', donde o antigo alto alemám gisello
'camarada', neerlandês gezel
(REW 3697; GERT 682; Orel 2003 s.v. *saliz). Delas temos gasalhe
'aparcería de
ganado'
(cf. o occitano gasalha,
francês
antigo gazaille,
idem, e topónimos galegos Gasalha),
(a)gasalhar
'receber, acolher, compartir a morada, dar um presente', (a)gasalho
'presente, obséquio', gasalhado
'boa acolhida, recepçom'.
(occitano gasalhar
'unir-se'; anglo saxom gesellan
'entregar umha propriedade, obsequiar').
*
“enton o dito conçello, alcalle e regidores diseron que por quanto
Ouliver Morin, breton, bulseiro e sua moller se vieran morar a esta
çidade pouquo tenpo avia e os postores da renda enna colaçon de San
Juan Bautista onde se eles vieran morar e repartiran e poseran enna
dita renda e porque os estranjeiros que se viinan ou quisesen viinr
morar aa dita çidade avian de aver boa conpañia e gasallado
e non seeren agraviados, que mandavan e mandaron que o dito Ouliver
Morin e sua moller nen alguo deles non pagasen a renda” (Santiago,
1420)
*
“Et pera esto que o dito que leve de todas las casas da çibdade
d'Ourense, home con muller con seu gasallado,
que se quiseren bañar eno dito baño, hua branca por la primeira ves
que se quiser bañar.” (Ourense, 1432)
*
“E quando for neçesario de pousar o prior ou monje en no dito
lugar, que lle façades gasallado”
(Pombeiro, 1445)
Em
Ourense os banhos som tradiçom antiga, e nom conheço outra cidade
galega que tivesse banhos públicos na Idade Média.
99.
Outro germanismos antigos som guarda,
guardiam,
guardar,
do PGmc *wardōjanan (REW 9502, Ore 2003 s.v.) que gerou o italiano
guardare,
francês garder,
occitano e castelám guardar,
catalám gordar,
nórdico antigo varða,
anglo-saxom weardian
'guardar, defender', frisom antigo wardia
'aguardar', AAA wartēn
'aguardar, assejar'. Já desde o século X:
“usque
in domo illius, unde ipsi inimici illa guardia
eicierant quod super nos inmiserant” (Celanova, 936)
Entre
os derivados está guardaroupa,
verba idêntica ao inglês wardrobe:
“It.
mando que todalas outras cousas que acharen enna guarda
roupa
et ennas archas et en todos los outros lugares en que as eu teuer. et
as sortellas. ' que fiquen a a Egleia paro o Bispo que ueer.”
(Mondonhedo, 1326)
100.
Hai polo menos dous germanismos antigos de moi ampla difusom nom
documentados propriamente na Galiza. Um é frasco,
do PGmc *flaskōn (REW 3355), verba já conhecida por Isidoro de
Sevilha e que atopámos num
documento asturiano do 827: “flascas et ganata et alia vasa”.
Outro é nastro
(português, verba nom conhecida na Galiza) 'fita de algodom ou
linho', dum PGmc *nasta 'fita para a cabeça', que
Joseph Piel achou já num documento do ano 1003, do Liber Fidei de
Braga: “ Ve nastalos
de lana et Io de sirgo”, segundo el do diminutivo gótico feminino
*nastilo
(fronte ao germánico ocidental nastila).
101.
Tamém trégua
é um germanismo moi espalhado, e que amossa um fenómeno fonético
próprio da língua gótica, o reforço ww > gww (note-se a
alternáncia treuga/treuga):
“quicumque
in presencia episcopi uel uillici et clericorum treugas
petierit offendendo directum in obligatione non ei denegentur”
(Lugo, 1161)
“quod
de cetereo nunquam alteruter nostrum habeat pacem vel treugas
cum sarracenis (…) et qui ex nobis ex tunc cum eis treguas
vel pacem habuerit et eis guerram non fecerit” (Santiago, 1183)
Em
galego:
“Treguas
por lo foro da uilla seyan taes de una parte e de otra da baralla dem
fiadores in mill mill solidos” (s. XIII)
Som
cognatos o castelám, italiano, occitano tregua,
o gótico triggwa
'convénio, testamento'; e do germáncio ocidental francês trève,
AAA triuwa,
anglo-saxom tréow
'verdade, fé', do PGmc *trewwō 'acordo' (REW 8927, Orel 2003 s.v.).
102.
Tamém o nosso ganhar é germánico, amossando a interferência dum
gótico *ganan 'obter' ('de
omnia quicquid ganabi uel ganare
potuero', Sobrado, 818), derivado dum proto-germánico *ganōjanan
''ficar de boca aberta', donde gado
/ gando;
e doutro germánismo, guaanhar
(do francês gagner:
italiano guadagnare,
occitano guadanhar,
catalám ganyar,
nórdico antigo veiða
'apanhar, caçar', anglo-saxom wæðan
'caçar', AAA weidōn
'pastar'), dum derivado de PGmc *waiþjanan 'caçar, apanhar'
(Coromines 1997 s.v. ganar; REW 9483; Orel 2003 s.v.).
103.
Dum composto *wiþra-launan 'contra-pago' = 'recompensa' (REW 9529;
Orel 2003 s.v.; Coromines 1997 s.v.) procede o nosso galardom
( < *guidralon?), cos cognatos: italiano guiderdone,
occitano guierdó,
francês antigo gueredon,
catalan guardó,
castelám galardón,
neerlandês antigo witherlōn,
anglo-saxom witherléan
'recompensa':
“a
Virgen santa dá bon gualardon
aos seus que torto prenden” (Cantigas de Santa Maria, c. 1264)
104.
Triscar
'trilhar, pisar, trepar, travar, fazer ruído repetitivo' procede do
PGmc *þreskanan
(REW 8715, Orel 2003 s.v.): italiano
trescare,
francês antigo treschier,
occitano trescar
'dançar', castelám triscar,
gótico þriskan
'trilhar',
inglês thresh
'golpear, trilhar', AAA dreskan
idem:
“Meen
Rodríguez, se m'eu trosquiar,
ou
se me fano, ou se m'en trescar,
ai,
trobador, já vos non travarei.” (Men
Rodriguez Tenoiro, 2ª metade século XIII)
No
Entremês famoso de
1671, comédia sobre o conflito entre galegos e portugueses pola
pesca no Minho:
“PORTOGUEZ
Valla-me
o chão por sagrado,
que
tão devoto beijei.
Acudi,
antes que morra,
meus
amigos e parentes.
LABRADOR
Boteille
catorce dentes
fóra
coa cachiporra.
E
tu aínda estás roncando;
¡garda
que se volvo a ti!
PORTOGUEZ
Nunca
noutra tal me vi (vase)
LABRADOR
O
lombo lle vai triscando.”
105. Outro germanismo é
ou pode ser látego, cognato do castelám látigo,
e provavelmente tamém do anglo-saxom láttéh
'rédeas', dum composto germánico de *laidō 'caminho, rumo' e
*teuhanan 'trair, guiar' > *lattico (cf. Coromines s.v. látigo).
“E na frente diviña
atrós coroa,
I o corpo ensangrentado,
I o labio en fel
mollado,
I o látego
feroz inda resoa” (Saco y Arce, 1878)
106.
Escatima
'defeito, dano, imposto, taxa, diminuiçom', escatimar
'falhar, cercear, diminuir, cobrar em excesso', sempre cum valor de
retrair benefícios, ou mesmo cobrar ou colectar impostos, poderia
proceder (Coromines 1997 s.v., mais à contra
cf. a ponderada opiniom de Ramon Lorenzo) dum cruze do germánico
*skattaz 'dinheiro, riqueza, tributo, propriedades' (Orel 2003 s.v.),
e o latim AESTIMARE ( > galego osmar),
afim ao gótico skatts
'quartos, dinheiro', catalám escatir
'discutir, elucidar'.
* “Ca se acha per u
m'escatimar,
non vos é el contra mi
Pedr'Amigo;
e per aquesto
perder-ss'á comigo
e eu con el; ca poi-l'eu
começar,
tal escatima lhi cuid'eu
dizer
que sse mil anos no
mund'el viver,
que ja sempr'aja de que
sse vingar.” (Pero Garcia de Ambroa, c. 1260)
* “Et renussome de
todo dereyto et de toda ixeyzom. que nunca eu, nen outren por min.
isto possa revogar et nen contra esta doaçon que eu dou. possa
passar. en niuna manera. et rogo o Convento davandito por Nuno Eanes.
que mora eno couto davandito de paniom. que li non façan escatima
nen mayhuria niuna.” (Tui, 1266)
* “Et enviou outrosy
suas cartas ao emperador et aos outros rreys, en que lle dizia que
bem sabiã elles que lle demãdauã torto et grãde escatima”
(Geral Historia, 1295)
107.
Tamém com moitas dúvidas, leme
(dum barco), poderia proceder do germanismos *liman 'extremidade,
pola'
(GERT 1300; REW 5041, Orel 2003 s.v.), com possíveis cognatos:
nórdico antigo lim
'folhage, pola', anglo-saxom lim
'membro, extremidade, pola'. Citava
Sarmiento um provérbio galego, no século XVIII: “home
cordo, ao leme”.
Por outra banda, o francês CNRTL
(s.v. limon) supom para o fr. limon umha relaçom co nosso leme,
procedendo todos dum possível celtismo *leim-.
108.
Etimologia germánica tamém tem sido proposta para arrancar
(variante
galega arrincar),
hoje 'extrair', mais no passado tamém 'vencer, fazer fugir', do PGmc
*wrankjanan 'torto, revirado' (cf. REW 9575; GERT 1624; Orel 2003
s.v.), ou mesmo com influência de *hrengaz 'renque (de homes =
tropa=', cf.
Lorenzo). Pode ter relaçom com renco
'pessoa cumha perna rígida' (cf. Coromines 1997 s.v.; REW 7044), do
mesmo termo germánico:
* “Eru Balduz genuit
Petrum Arranca”
(Celanova, s. X)
* “ casale que
apellatur dos Arrancas”
(Osseira, 1195)
* “dese Rego ao Riio
de belelle et como uay ferir aa danta et ende ao porto de lignares et
des ende ao caruallo arrancado“
(1270)
* “Et, desque a
fazenda for uençuda et os mouros arrancados,
colleredes o cãpo a uosso sabor, et acharedes muy grandes requezas.”
(Crónica Geral, c. 1295)
* “ouuerõ elles atado
muy fortes sogas a huu madeyro et arrincarõno;
et foronse asi cõ el a muy gran pressa, dando uozes et allaridos”
(Cronica Geral, c. 1295)
* “en como foran por
cuatro ou çinco veses á hua sua horta, que está en Ouçande, et
que lla astragaran toda eno veraao et en este inuerno et quarta
feira, et o dia donte se foran outra ves á dita orta, dando ena viña
et orta, et arrincaran as verças et
coellas, fasta un carro de verças, et todas arrincaran et leuaran”
(Ourense, 1459)
109.
É tamém um germanismo o adjectivo esquivo,
esquio 'tímido, pechado'
(é cognato do inglês shy),
e o verbo esquiv(i)ar
'evitar', do PGmc *skeuh(w)az
idem (REW 8002;
Köbler 2007 s.v.):
francês eschiver,
italiano schifo
'desagradável', alemám scheu.
Desde o século XIII:
“que
os escomurgar et que ontretanto quells non reciban ninua presentazo
deapadroadego ne nû que ouveren et que os esquiven
et fazan esquivar
en todo asi como escomuugados ata que veña fazer emenda da quelo por
que foron escomuugados e mostren carta de absolucion daquel perlado
que os escomugou.” (1339)
Nas Cantigas de Santa
Maria (c. 1270):
“Quando o padr'e a
madre,
que fazian muit'esquivo
doo por seu fillo, viron
que o menẽ'era vivo,
britaron o ataude
u jazia o cativo”
110. Topo, topar,
atopar (Coromines
defendia umha orige onomatopaica para os dous últimos), som
provavelmente germanismos tomados do francês, do PGmc *tuppaz
'cresta, topo' (REW 8788, GERT 2218, Orel 2003 s.v.) Já desde o
século XIII, nas cantigas de escarnho e mal-dizer:
“topou
comigu'e sobraçou o manto e quis en mi achantar o caralho”, c.
1240
Na
documentaçom notarial, topar alterna com testar no sentido de
limitar. Já que testar tem umha orige nom onomatopaica, vindo a
significar nos diplomas 'limitar ← bater (coa cabeça)', opino
tamém que topar
leva associada a mesma evoluçom semántica:
“et
con souto cabe o que traie Alonso Perez todo abaixo por los marcos
asi como topa
no regueiro que uen do terado todo por la auga a festo a o marco que
esta a par da curtina de Martin Anes et todo . . . lo ribeiro que
esta entre a curtina et este dito lugar, et por la riba como topa
no lugar do terado en fondo et direito ariba ao marco que esta alende
da fonte et por lo camino foreiro que uen por cima do dito lugar pera
Cabreira” (Ramirás, 1274)
Alguns
derivados como topete
(tupé),
e del topetar,
têm clara orige francesa:
“O
que tragia o pendon sen sete
e
cinta ancha e mui gran topete,
non
ven al maio.” (Afonso X, c. 1270)
111.
Broslar 'bordar', do PGmc *burzdaz 'ponta, filo' (REW
1349, Orel 2003 s.v.): italiano antigo brustare,
francês antigo brosder,
occitano broidar::
“Et nõ [erã] armados
cõmo os troyanos, ca elles tragiã escudos de coyros et broslados
de pedras preçiosas das que sayen ẽno rrio de Eufrates et ẽno
rrio de Tygres” (Historia Troiana, c. 1350)
Do Cancioneiro
Galego-castelám, e da autoria do castelám Álvarez de Villasandino
(algo antes do ano 1400):
“Brosladuras
de beldade
non avian otra labor,
sinon canto Deus e Amor
obraron con lealtade.”
112. Tamém tapa,
tampa, e daí tapom,
tapo, tampo, tapulho, e os
verbos tapar,
atapanar, tamponar,
destapar... Som
germanismos, do PGmc *tappōn 'tampa' (REW 8565, Orel 2003 s.v.):
castelám tapa,
tapón,
italiano tappo,
francês tapon,
nórdico antigo tappi,
anglo-saxom tæppa,
AAA zapfo.
“Marinha,
ende folegares
tenho
eu por desaguysado,
e
soon muy maravilhado
de
ti por non rebentares,
ca
che tapo
eu [d']aquesta minha
boca
a ta boca, Marinha,
e
d'estes narizes meus
tapo
eu, Marinha, os teus,
e
das mãos as orelhas,
os
olhos das sobrencelhas;
tapo-t'ao
primeyro sono
da
mha pissa o teu cono,
como
me non veja nenguu,
e
dos colhoes o cuu:
como
non rebentas, Marinha?” (Pero Viviaez, s. XIII)
Nas
Cantigas de Santa Maria:
“mas
chegou uu ome bõo,
que
lles diss'esta razon:
"Vaamos
catar a cuba
e
tiremo-ll'o tapon
mais
de ffond',e per ventura
pod'y
algun pouc'aver.”
Tenho
as minhas dúvidas coas seguintes verbas: zapa
'El
agujero por donde le entra el vino” [na pipa], zapom
'significa
aquel grande agujero en que están las trampas para bajar de un suelo
a otro' (Sarmiento), zapom
'trampa de cueva. Tapon de pipa o barril' (Cuveiro), zapar
'Poner cierre o tapa a un barril'. Provavelmente amossam a
interferência doutra palavra sobre das anteriores, mais surpreende
que esta interferência seja no caminho do alto alemám zapfo,
que amossa fenónemos fonéticos próprios.
113.
As dornar som feitas a escarva
ou a tope: quer-se dizer, montando as táboas, ou ponhendo os cantos
em contacto. Escarva procede do germánico *skarbaz 'táboa,
fragmento', *skerfanan 'roer, travar' (REW 7979a; Orel 2003 s.v.):
francês écarver,
nórdico antigo skarfr
'táboa', anglo-saxom sceorfan
'travar, escarvar'.
“Deixou
a dorna de escarva
que el mesmo fabricou por esta buceta maior que mete polo esteiro de
Tallós para fondeá-la no pozo dos do Seixo, perto da súa aldea, e
que foi mercar de segunda man a Carril” (Anxo Angueira Viturro,
Pensa
não,
1999)
114.
Um dos géneros das cantiga galego-portuguesa era o escarnho
'insulto', do proto-germánico *skernaz 'bulra', donde escarnir,
escarneçer
'bulrar-se' (REW 7999): italiano schernire,
francês antigo eschernir,
occitano esquernir,
escarnir,
AAA skern
'broma, farsa':
“Quen
a Deus e a sa Madre
escarnio
fazer quiser,
muito
será gran dereito
se
ll'ende pois mal vẽer” (Cantigas de Santa Maria, s. XIII)
115.
Em fim,
long story short,
e sim ser exaustivo, bródio
(“comida basta”, Sobreira, s. XVIII), é germanismo, de *bruþan
'guiso'; como é guiso,
guisa,
guisar,
do PGmc *wīsōn 'modo':
”Min
fez meter meu coraçon
en
amar tal senhor que non
sei
osmar guisa nen razon” (s. XIII)
Tamém
lista,
listar,
de *līstōn 'rebordo' ('hũ pano moy bõo et moy preçado, a listas
d'ouro muy fremosas', s. XIV), fromeira
'armazém' de *frumīn 'utilidade'; rico,
de *rīkjaz 'poderoso', donde o termo medieval ricome
'membro da alta nobreça' ('ricus homo', 1192; 'ricome', 1214, 'pola
gran requeza que eno logar avia', s. XIII), e dúzias de outras famílias de palavras que ficam para
outra ocasiom, se tiver tempo.
Cossué, te leo con mucha atención pues es mucho lo que se aprende con todas estas notas que vas dejendo en este blog ya de "cabecera". Graciñas.
ResponderEliminarRespecto a esto:
"em Pontevedra por exemplo no bairro da Moureira (de moura ou moira, salmoira)". Se me hace muy dificil desligar a esos Castros da Moureira, da Moura, Cotos da Moureira, Mourisca (playas) siempres a derecha o izquierda de esos cabicastros marítimos etc etc. Fíjate que ya Filgueira Valverde hablaba de la Iglesia de Santa María en lo alto de Pontevedra observando al Lérez y al Tomeza y en sus pies "La Moureira" de restos castreños. Es un lugar que nada se escavó y por lo tanto casi nada tenemos pero en lo alto aparecieron restos de tégula romana hace ya años y hace muy poquito también. En Vigo a los pies de su muralla al mar, y Vigo estaba en las faldas de un castro, una playa o refugio muy pequeño de nombre también: Moureira o Mourisca (tendría que comprobar. Las covas da Moura en castros. Eiras da Moura...es decir: sus habitáculos pétreos. En fin esto de Mouras y sus lugares de habitación es largo como bien sabes.
Por lo tanto se me hace un poco raro desligar las mouras con el mundo castreño y derivar esa "Moureira" ("lugar de" o "tierra de"...mouras) con la salmuera para la conservación del pescado. Pero será ya que lo mio es simplemente una opinión y tu esres el experto.
Un saludo.
Raúl Villanueva.
Un saludo, Raúl. Gracias por tus amables palabras, aunque de experto, poco (y no lo digo por falsa modestia: trabajador, si. En todo caso el que tiene boca se equivoca :-) Sobre A Moureira de Pontevedra, y exclusivamente sobre ella, teniendo en cuenta la historia marinera del barrio y el hecho de ser allí donde se instaban los magueiros para la obtención del saín, creo que Moureira puede hacer referencia a moura 'salmuera' > 'lugar donde hay/se hace/se usa salmuera".
ResponderEliminarSobre esto, creo que es interesante un documento de 1303 editado por José Armas Castro en 'Pontevedra en los siglos XII a XV', y referente al alquiler de 'a quarta daquela casa e lagar de seyn que em ela esta no lugar que dizen a Moureira, em filigresia de Santa Maria de Ponte vedra'.
Ahora bien, también me parece muy adecuado pensar que el topónimo se derive de algún antiguo castro sito donde Santa María. Curiosamente, cuando estaban hace un par de años haciendo obras en el campo de Santa María vi entre otras piedras removidas una losa con unos nueve hoyos (3x3) que no sé si sería una mesa castreña de molido de minerales.
Un saúdo!
Que tal, Cossue. Las equivocaciones y su reconocimiento hacen a las personas "grandes" y sabias :-)
ResponderEliminarEs que raro era que en los pueblos marineros no hubiese trabajos de salmuera para conservar el pescado y también esos lagares que comentas para comprimir esas magas de pescado para la elaboración del aceite para la iluminación de las casas en el típico candil.
Moureira siempre o casi siempre en las faldas de estos castros marítimos que dieron origen a esos pueblos marineros y no se da el caso en los lugares del litoral donde la ausencia de castros es evidente. Pero, evidentemente, no siempre este tipo de topónimos los vamos a encontrar en castros originarios de lugares marineros, sin embargo el caso contrario creo que nunca se dió.
Respecto a esa losa que has visto en la "Erax" (Armas Castro 1992; 57) del posible castro en lo alto donde hoy Santa María que dió origen posteriormente a la Rua da Eira, esos hoyos (supongo coviñas) de tres por tres te refieres a un ajedrezado tipo "pai, fillo, nai" o a una losa de tres por tres metros y en su interior esos nueve hoyos que comentas?. Si guardas foto de esa visita me gustaría me las enviases (raulvg@mundo-r.com). Gracias.
(ahora que esto nadie lo lee te diría, como el Risto ese de la tele, Cossue...tú si que vales)
Un saludo y hasta otra.
Raúl V.
Hola! De acuerdo con lo expuesto; así y todo, debe ser tenido en cuenta que Pontevedra mantuvo -dentro de Galicia, y junto con Noia- el monopolio de la fabrica de saín durante un tiempo, y al menos desde carta al efecto dada por el rey Fernando III en 1238, lo que originó sin duda una importante industria (extramuros) al efecto.
ResponderEliminarTe remito la foto del "couso", una losa de unos 60 X 60 cm con 3 X 3 profundos hoyos, que sigue siendo un tanto sorprendente pero que me parece muy poco erosionada para haber sido piedra de molino o similar. Honestamente que no sé lo que es.
Un saludo.
Interesante ese monopolio de fabricación de aceite de pescado, nada que ver con la salmuera, del siglo XIII repartido entre Pontevedra y Noya.
ResponderEliminarRespecto al "couso" resultó ser un sumidero de pluviales de una arqueta que desagüaba, se supone, a un próximo registro general que se aprecia con tapa de fundición; el "couso" está tomado con mortero al firme de la calle o camino de hormigón bien moderno de cemento gris y gravas. No más de treinta o cuarenta años...aparentemente.
Esto es lo que parece desprenderse despues de ver las fotos y se me hace muy dificil se pueda corresponder con una mesa castreña para el molido de minerales, que no pongo en duda tengas razón y el equivocado sea yo.
Saludos
RV
Como citar em bibliografias esta fonte?
ResponderEliminarComo citar em bibliografias esta fonte?
ResponderEliminarOlá! Algo assi:
EliminarCosta, Miguel (2012). Repasso a alguns germanismos do galego. Online: http://frornarea.blogspot.com.es/2012/10/repasso-alguns-germanismos-do-galego.html [Accessed 11 Feb. 2016].