Proto-germánico *Wiþra 'contra, cara a, outra vez' e toponímia
Abstract: The Quadi (Suebi) prince Vitrodorus (Ammianus Marcellinus, Rerum Gestarum, XVII, XII, 21) is the first known person to bear a Germanic name based on the element *wiþra 'against, again', well present among the medieval names of Galicia and Portugal (Vederoi, Vitragildus, Vidraldus, Vitramirus, Vedragesa f., Vedralildi f), and origin of several place names: Gradói, Gradaílhe, Gardamil, Godral...
Esta verba germánica, *wiþra 'contra, cara a, outra vez', derivada do indo-europeu *witero-, forma que representa umha comparativa ou eleiçom sobre o PIE *wi- 'separado de; ambos', mediante um sufixo -*tero-, que achamos tamém em:
PIE *al-, *alitero-: de onde os latinos ALIUM e ALTERUM e o nosso outro, com conversom em vogal da consoante lateral em posiçom implosiva: [l] ˃ [w]. ALIUM significa 'outro', no entanto ALTERUM é 'o outro' entre duas eleiçons.
PIE *an-, *antero-: 'alô, do outro lado', e 'antes de'.
PIE *wes-, *westero-: 'desde, de, afastando-se de', e 'oeste' (em línguas germánicas).
PIE *aus-, *austero-: 'brilho, amanhecer', e 'do lado do amanhecer (este)'.
PIE *sun-, *suntero-: 'sol', e 'do lado do sol', de onde a nossa voz, de orige germánica, sul.
PIE *i-, *itero-: 'este, um', e 'o outro; outra vez'.
PIE *en-, *entero-: 'em', e 'interior'.
A forma *witero- é, segundo Pokorny (IEW: 1176), `weiter führend', afastar-se, mais nas línguas germánicas especializa-se co valor de 'contra, oposto, o outro'. O seguinte está tomado do Altdeutsches Wortenbuch, de Gerhard Köbler:
*wiþra, *wiþr, *wiþrō, germ., Adv., Präp.: nhd. wider, gegen, wieder; ne. against, again; RB.: got., an., ae., afries., anfrk., as., ahd.; Q.: PN (4. Jh.); E.: idg. *witero-, Adv., Präp., weiter, wider, wieder, Pokorny 1176;
Apresenta-se esta verba por vez primeira no nome do príncipe quado (suevo) Vitrodorus filho do rei Viduario, recolhido por Ammianus Marcellinus no século IV: 'his in barbarico gestis Bregetionem castra commota sunt, ut etiam ibi belli Quadorum reliquias circa illos agitantium tractus lacrimae vel sanguis extingueret. quorum regalis Vitrodorus Viduari filius regis et Agilimundus subregulus' (Rerum Gestarum, XVII, XII, 21). Tamém se da na verba italiana de orige longobarda, e polo tanto outra vez sueva, guidrigildo, que era a quantidade que um home devia pagar polo homicídio doutro. Aparentemente é um composto PG *wiþra-geldam, literalmente 'contra-valor' ou 'preço'. Mais em moitos compostos é possível que só tenha um valor de reforço do segundo elemento, como tém moitas preposiçons noutras línguas indo-europeas.
O meu interesse persoal nesta verba acha-se no bo número de antropónimos e topónimos galegos, portugueses e leoneses (no contorno do reino galaico dos suevos) aos que da orige. Ente os fenômenos fonéticos resenháveis, acô temos a neutralizaçom da diferença entre /þ/ e /d/, e umha forte tendência ao enxordecemento do resultado, confundindo-se coa oclusiva xorda /t/. Sem máis, eis os nomes e topónimos que achamos na Galiza, Portugal, e no noroeste da Espanha, nos territórios do antigo reino dos Suevos:
1.- Vedraildi ˂ PG *WiÞr-V-hildjō '(gran)-batalha; (great)-battle': Vedraildi, Vedrailli, Vederilli, Vidirilli, Vedrilli.
É nome feminino composto, cum segundo elemento PG * hildjō 'guerra, batalha; War, battle' . Acho-o tres vezes na documentaçom galega:
Vedrailli, Vedraildi: 'ego Uedrailli uobis Paterne. placuit mihi propria mea uoluntate ut facerem uobis uobis textum scripture de hereditate de filio meo Petro, quam habuit de patre suo Teoderago (...) Uedraildi in hac cartula uenditionis manus meas' (Sobrado 934, doc. 92)
Vidirilli, Vederilli: 'ego exiguus Cartamirus confessus et Vidirilli, Deo vota (…) ego Cartamirus confessus et Vederilli Deo vota' (Samos 958, doc. 127)
Vedrilli: ' Cartinus Tedoniz et uxor ejus Vedrilli' (Samos 960, doc. 126)
Gedruilli: 'Guntina, Udruza, Gedruilli, Sendina, Maria' (Sobrado 1037, doc. 127)
A aspiraçom germánica nom se manifesta quando da início a umha verba ou elemento num composto. Por outra banda, é moi frequente nos nomes germánicos galego-portugueses à assimilaçom -ld- ˃ -ll-, especialmente nestes nomes que apresentam o elemento proto-germánico *hildjō, plasmado frequentemente como -illi: Ansuildi/Ansuilli, Berildi/Berilli, Brunildi/Brunilli...
Assi, das formas recolhidas, a máis primitiva é Vedraildi, que apresenta fenómenos fonéticos ainda puramente germánicos. Dela procede as outras formas, com assimilaçom, já provavelmente romance, -ldi ˃ -lli.
Um topónimo galego que deve derivar deste nome é:
Graduil (s.d. - Cambre, Crunha) ˂ *Graduilde ˂ * Gadruildi ˂ *Guadruildi ˂ *Guedruildi ˂ *Widruildi. O fundamento da proposta há-se ver nos seguintes casos, mais polo de agora direi que nos nomes femininos do tema *hildjō alternam formas com vocal de apoio u e outra sim ela: Ansuilli/Ansilli, Astrilli/Astruili, ou Vedrilli/Gedruilli.
'testes: Potenzo. Vederoi. Guntilla' (Celanova 997, doc. 421)
Som frequentes os nomes germánicos galegos e portugueses formados cum segundo elemento -oi, case desconhecido como tal noutras regions europeas: Ansoi, Argioi/Arioi, Asoi/Azoi/Osoy, Baldoy, Beloi/Boloi/Belloy, Beroi, Bonoi, Dacoi/Dagoi, Danoi, Destoy, Fatoi, Zatoy, Francoy, Ganoi/Genoi, Getoy, Gilloi, Gontoi/Gondoi, Ildoi/Eldoy, Keltoi, Ketoi/Kitoy, Lovoi, Manoi, Metoi, Mondoi, Nandoi/Nantoy, Nepoi, Ninui, Nonoi/Nonnoy, Ragoei/Ragioi, Riquoi, Saroi, Savoy, Sendoi, Sesoy/Sezoy, Tanoi/Tannoi, Tedoy, Toytoy, Teygoy/Toygoy, Trasoi, Vigoy, Villoi/Uilioy/Quellay, Vistroi/Gestroi, Vizoi/Quizoy, Zegioi/Seioi, Zensoi/Censoy.
Deste nome, provavelmente masculino, derivam dous topónimos galegos:
Gradói / Gradoi (21 hab.- Antas de Ulha, Lugo) ˂ 'Johan Esteuenes de Goaadroy' (Vilar de Donas 1376, doc. 83) ˂ 'de Guadrui' (Vilar de Donas 1285, doc. 57)
Gradói / Gradoi (4 hab.- Somoças, Crunha)
Temos vários fenómenos fonéticos actuando acô:
A wau /w/ germánica e reinterpretada coma o grupo romance /gw/, que na evoluçom máis frequente do galego tende a reduzir-se tam só a /g/: eu pronúncio [katro] para quatro, [garda] por guarda...
O /i/ ou /e/ átono da primeira sílaba da palavra tende a abrir-se num a, moi frequentemente em verbas germánicas, mais nom só: Parafita ˂ Petram Fictam, Bragança ˂ Bregantia...
Dá-se a metátese de /r/ da segunda à primeira sílaba da palavra: Gradoi ˂ Guadrui. Esta metátese nom seria possível se a pronuncia da verba fosse ainda Guadroi, como no século XIII, e de feito em Portugal esta é a forma que esperável.
Quer-se dizer, a evoluçom destes topónimos é: (villa) *Widroi/*Witroi ˃ *Guedroi ˃ Guadrui ˃Goadroi ˃ *Gadroi ˃ Gradoi.
3.- Vitragildo ˂ PG *WiÞr-V-geldaz 'contra-valor; counter-value': Vitragildo, Vedragildus, Vidragildus, Vedraildo
'Uidragildus presbiter conf.' (PMH 924, doc. 29)
'Teodefredo ts. Vedragildu ts. Gaella ts.' (Celanova 937, doc. 167)
'Vimara ts., Fulgentius te., Vidragildus ts.' (Samos 951, doc. 93)
'Uidragildus clericus ts.' (CODOLGA: Samos 951, doc. 4)
'Vidragildus presbiter et confessus cfr.' (Celanova 953, doc. 535)
'Vedragildus ts., Munio ts., Setimus ts. et alii multi' (Sobrado 953, doc. 95)
'Vidragildus abba.' (Celanova 955, doc. 511)
'Vidragildus presbiter et confessus. ' (Celanova 955, doc. 506)
'Vedraildo' (Samos 960, doc. 126)
'Vidragildus presbiter ts.' (Celanova 962, doc. 8)
'Vidragildo test.' (PMH 982, doc. 135)
'Vedragildus presbiter cfr.' (Celanova 986, doc. 84)
'Pro testibus. Vidragildo testis. Egica testis' (PMH 1015, doc. 226)
'Gira Vidragildiz' (Celanova 1026, doc. 468)
'Vitragildo et sua mulier' (Celanova 1044c, doc. 239)
'ego Gunsaluo Uidragillit (...) Gundisaluo Uidragildit' (CODOLGA: Santiago 1094, doc. 84)
Förstemann documenta Widalgelt / Guidrigild (ADN: 1574), tamém masculino.
Achamos duas tendências enfrentadas: a tendência germánica a reforçar as consoantes oclusivas, e a romance a suaviza-las e ainda a as fazer cair, de jeito que temos alternáncia vitra-/vitra-, e -gildo/-ildo: Vitragildo/Vedraildo. Na toponímia temos tamém variantes, com preservaçom do grupo -dr- entre vogais, ou com perda do /d/, como em PETRUS ˃ Pedro ˃ Pero, PETRICI ˃ Pedres ˃ Peres:
Gradaílhe / Gradaílle (3 hab.- Valadouro, Lugo) ˂ 'Villa in Aurio, Uitragilde inter Sancta Cruce et Sancti Tome (...) alia uilla in Aurio, Villa Uitraylldi, integra' (Lourençá, sd)
Gradaílhe / Gradaílle (27 hab.- Vilalba, Lugo)
Gradaílhe / Gradaílle (6 hab.- Somoças, Crunha)
Quer-se dizer: *(villa) *Witragildi ˃ Uitragilde ˃ Uitraylldi (perda de [g] entre vogais)
˃ *Guedraílde ([tr] ˃ [đr], leniçom de oclusiva a aproximante; [i] breve átona ˃ [e]; [w] ˃ [gw])
˃ *Guadraílle ([e] átono em sílaba inicial ˃ [a]; assimilaçom [ilde] ˃ [il:e])
˃ *Guadraílhe (palatizaçom [l:] ˃ [λ])
˃ *Goadraílhe ˃ *Gadraílhe ([gwa] ˃ [goa] ˃ [ga])
˃ Gradaílhe (metátese de [r])
A mesma orige coido que puido ter:
Grilhe / Grille (98 hab.- Maçaricos, Crunha)
Que teria sofrido umha evoluçom diversa, com perda de /d/ ou /t/ entre vogal e /r/.
4.- Vitramiro ˂ PG *WiÞr-V-mēraz '(moi)-famoso; (very)-famous': Vitramiro, Vidramirus, Vidremirus, Vedramirus. Quedramiru, Gedramiru
' tibi Vidremirus abba' (Celanova 922, doc. 569)
'Vidramirus diaconus ts.' (Celanova 927, doc. 27)
'Sentarius ts., Vedramirus ts., Vimara ts.' (Sobrado 934, doc. 91)
'Vidramirus presbiter ts' (Celanova 935, doc. 505)
'Vidramirus confessus ts.' (Celanova 936, doc. 256)
'Quedramiru, Seto, Ostofredo' (CODOLGA: Ourense 938)
'Vidramirus abbas ts.' (Celanova 938, doc. 4)
'quod filia nostra dedi ad adulterio ad fratrum Vidramiro' (Celanova 952, doc. 72)
'Martinus Vidramiriz cfr.' (Celanova 954, doc. 575)
'Vidramirus prepositus manu mea cfr.' (Celanova 959, doc. 416)
'Uidramiro Riquiliz test.' (PMH 984, doc. 142)
'Uedramiro test. —Espasando test.' (PMH 991, doc. 161)
'Fagilo test. —Uedramiro test.' (PMH 995, doc. 176)
'de nostros parentes Vidramiro et Modilli' (Celanova 975c, doc. 197)
'ubi pater meus Gedramiro et mater mea Rekesenda habitauerunt' (Sobrado 995, doc. 55)
'Uidramirus Teideriz confirmat' (CODOLGA: Lourençá 1002, doc. 2)
'Uedramirus abba' (CODOLGA: Castañeda 1028, doc. 2)
'frater Vidramirus cfr.' (Celanova 1051, doc. 79)
'frater Vidramirus cfr.' (Celanova 1052, doc. 347)
'frater Vidramirus cfr.' (Celanova 1057, doc. 23)
'frater Vidramirus cfr.' (Celanova 1060, doc. 534)
'frater Vidramirus cfr.' (Celanova 1062, doc. 24)
'piscator Vitramiro cum mulier' (CODOLGA: Santiago 1063, doc. 11)
'Vidramirus presbiter cfr.' (Celanova 1065, doc. 542)
Entre a toponímia que deriva deste nome masculino temos a seguinte, que amossa as mesma tendências já percebidas nos anteriores casos:
Gradamil (91 hab.- Pinho, Crunha)
Gardamil (18 hab.- Vilalva, Lugo)
*(villa) *Widramīri / *Witramīri (o e longo germánico apresenta-se com frequência como i longo) ˃
˃ *Guedramire
˃ *Guadramir
˃ *Goadramir
˃ *Gadramir
˃ Gradamil / Gardamil
O seguinte passou pola perda do /d/ entre vogal e /r/:
Gramil (17 hab.- Arzúa, A Coruña) ˂ *Garamir ˂ *Gadramir
Som mui interessantes as seguintes, de Salamanca em Castela, e Bragança em Portugal, onde nom se da o passo majoritário na Galiza [gwa] ˃ [goa] ˃ [ga], o que impede tamém a posterior metátese do r.
Guadramil (Bragança, BÇ) ˂ *Guadramir ˂ *Guedramire ˂ * Widramīri.
Guadramiro (Salamanca), do acusativo romance Uidramiru.
5.- Vidraldus ˂ PG *WiÞr-V-waldaz '(gran)-governante; (great)-ruler':
'Vidraldus cfr. Kendulfus cfr.' (Celanova 969, doc. 246)
Förstemann documenta Vidarolt / Widrald / Guithroald (ADN: 1575).
A este nome masculino corresponde o seguinte topónimo:
Godral (13 hab.- O Inço, Lugo)
*(villa) *Witraldi ˃ *Guedralde ˃ *Guadralde ˃ *Goadralde ˃ *Goodralde ˃ *Godralle ˃ Godral.
6.- Vedragesa ˂ PG *WiÞr-V-gaizō '(gran)-lanza; (great)-spear':
'neptos Abiti et Uedragese (...) filia Aluiti et Uedragese (...) filia Auiti et Uedragesa' (PMH 867c, doc. 4)
Förstemann documenta o masculino Widragasius (ADN: 1574), correlato do feminino Vedragesa.
O ditongo germánico [aj] reduz-se a miúdo em [e:] ou [a:], na antroponímia galego-portuguesa medieval.
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