A Reça


Do proto-indo-europeo *per- 'atravessar', forma verbal em si derivada da preposiçom *per 'através', procede o latino portus 'porto', e tamém portare 'levar', assi como o inglês fare 'tarifa < viage' (cf. o nosso antigo portádego, castelám portazgo) e ford 'vao', forma relacionada com fiorde, palavra de orige nórdica, ou co antigo bretom rit 'vao'. Em particular, o latino portus, o inglês ford e o bretom rit, som em si a mesma palavra, derivando-se todas do grado zero *prtu- do nome de acçom *pértus 'passage'.

Na nossa geografia, na nossa toponímia, um Porto e umha Porta nom som sempre referências a portos de mar. De feito, as máis das vezes estes topónimos e diminutivos como Portela, fam referência a lugares de passo, de montes (as portelas que levam à Meseta) ou de rios (Porto Marim). Neste último caso, som quase sinónimos de vao (a que é agora chamada praia da Lançada era no seu dia o areal do Vao ou do Bao), em quanto a passo sobre rio ou ria.

Mais junto com Portos e Portelas opino que temos na nossa paisage outro cognato, este derivado de *prtu- via umha língua céltica (*prtu- > *pritu- > *fritu- > *ritu-) e amossando dous fenómenos inequívocos desta família: a sonorizaçom de /r/ em /ri/, e máis a queda posterior do /p/. Este cognato é o topónimo Reça, ou Reza em ortografia oficial, que frequentemente aparece acompanhado do artigo feminino como A Reza. Eis um inventário, de norte a sul e de leste a oeste, seguindo curso do Minho; todos estes topónimos estám ás beiras do nosso grande rio ou dos seus afluentes:

1) A Reça (Oleiros, Láncara, Lugo), lugar, perto donde umha ponte passa sobre o rio Sárria, comunicando o concelho de Láncara ao norte coa vizinha aldea de Céltigos, em Sárria, ao sul.

2) Reça (Carrazedo, Peroja, Ourense), na marge direita do Minho segundo baixamos, e ao pouco de receber as augas do Sil.

3) Reça Velha (Santiago das Caldas, Ourense, Ourense), na marge direita do Minho, onde recentes escavaçons descobrírom quase cem metros dumha magnífica estrada romana.

4) Santa Maria de Reça, freguesia do próprio concelho de Ourense, mais na marge esquerda.

5) A Reça (Arnóia, Arnóia, Ourense), lugar na marge esquerda do Minho, pouco antes de receber as augas do Arnóia, quase por fronte de Francelos, em Ribadávia.

6) A Reça (Parada das Achas, A Caniça), pequeno lugar à beira do rio Calvo, perto dumha ponte sobre deste, e nom longe de onde este rio vai dar no rio Deva. E fora de orde:

7) Ponterriça ou Pontarriça (Longoseiros, O Carvalhinho), ponte e lugar sobre do rio Arenteiro. A relaçom cos anteriores topónimos já foi estabelecida polo amigo Frutos Fernández (cf. “Os Nomes do Ribeiro, pp. 246-247).

Historicamente, e logo de buscar no TMILG, podo afirmar que a documentaçom medieval em galego destes lugares abunda máis na forma Reça que Reza, no entanto que Reza é a única forma que atopamos na documentaçom latina antiga (cf. CODOLGA; tardiamente tamém se atopa Recia). O étimo destes topónimos entendo que deve ser um dos seguintes: *retia / *ritia / *recia / *ricia; ainda que todos levariam, penso, à forma reça, em alternância coa forma riça (por metafonia, como melhor / milhor, do latino meliorem), por motivos etimológicos prefiro contodo a forma *ritia < *rit-yā, facilmente explicável como umha forma feminina derivada dum céltico *ritu- 'vao'. A relaçom semántica entre ambas palavras nom seria distinta daquela existente entre passo e passage.

Por que o étimo céltico *rit- 'vao'? Por um duplo motivo: o topónimo (a) riça, sempre situado à beira dos rios, frequentemente se presenta tamém junto a pontes ou vias de transito, atuais ou velhas. Estas pontes fórom construídas moi provavelmente sobre antigos vaos ou lugares de passo de velhos caminhos, que haviam ser conhecidos por um apelativo reça (a reça, nesse ou em anteriores estados evolutivos). Neste mesmo sentido, Pontarriça, que Frutos Fernández indica ter sido registado algumha vez como ponte a rriza (Os Nomes do Ribeiro, p.247), pode explicar-se como um antigo *pontem ad ritia, que tanto vale como “Ponte do Vao”, um topónimo frequente. Assemade, umha antiga mençom da Reça Velha de Ourense, num documento de Celanova de 942, indica a doaçom da vila ou propriedade de “vilas na terra de Bubal: Canedo de Ourense, junto co porto de Reça, e máis cos seus soutos da outra banda do rio” ('villas in Bubalo, Caneto de Auriense Adiuso cum porto de Reza et suos saltos ex utraque fluminis parte'), outra vez relacionando o topónimo Reça cum lugar de passo (porto). O outro motivo é que a evoluçom fonética de *ritia a *reza é transparente. Por outra banda, dado a relativamente reduzida área na que se espalha este topónimo, nom creo que tenha tampouco relaçom co latino retia 'redes', ainda que a presença destes topónimos à beira dos rios dificulta o desbotar essa última possibilidade.

Finalmente, sobre estes topónimos já chamara a atençom o finado profesor Báscuas, quem reclamava umha natureza hidronímica e pale-europea para eles, em relaçom co topónimo Reciom. Estes nomes de lugar fórom tamém estudados por Frutos Fernández no seu “Os Nomes do Ribeiro”, quem indicava umha possível relaçom co latim ruptia 'rotura, fractura'.

Em resumo: Reça / Reza / Riza < *retia 'pasage', seria um derivado feminino do cético *ritu- 'vau'. A antiguidade (romana? pré-romana?) destas zonas de passo teria levado à construçom de pontes sobre ou perto de moitos destes lugares.

Um mapa:


Ver As Reças nun mapa máis grande

Comentarios

  1. Amigo Miguel: si, si e si! Noraboa! Creo que acabas de dar coa interpretación axeitada para estes enigmáticos topónimos. Podo dicirche que a forma “retia” téñoa perfectamente documentada no caso da Reza da Arnoia, nos libros de Melón (“retia de Corvaria”, no que logo se chamou Porto Corveira –e nada de corvos-, onde circulou unha barca durante séculos). Pero eu pensaba nunha posible relación co latín retia ‘redes’, xa que esta foi sempre unha zona de moita pesca, moi aproveitada e regulada polos monxes de Melón. Non me cadraba o frecuente artigo ( A Reza). En fin, moito tiña cavilado sobre este asunto (o lo latín “ruptia” era unha simple “posibilidade”, nun caso no que nada do que lera sobre o tema me convencía), pero nunca podería ter chegado a onde ti chegaches. Un ten que ser consciente das súas limitacións. Estou moi contento. Frutos.

    ResponderEliminar
  2. Grazas, meu (farei como que non lin nada entre o antepenúltimo punto e o anterior). A verdade é que teño esa eufórica sensación de 'Eureka!'. Mola, pero xa veremos o que dura :-). Abrazos.

    ResponderEliminar
  3. Moi interesante. Grazas polo artigo, pagou a pena agardar ;) Por certo, supoño que O Rexo do Arnoia, no concello de Allariz, pódese explicar do mesmo xeito... e que hai da antiga Retia, nos Alpes? podería ser un paso entre as Montañas? apertas!

    Carr

    ResponderEliminar
  4. Ola, Carr! Perdón polo tempo transcorrido: levo unha quincena bastante atarefado...

    Con respecto ao Rexo, foneticamente xa non ten por que estar relacionado coas Reza's... Podería ter outra orixe.

    A Retia dos Alpes éche ben intrigante, si, pero non me atrevo con ela :-) Habería que coñecer a orixe e historia do topónimo para valorar a posibilidade....

    Graciñas, meu.

    ResponderEliminar

Publicar un comentario

Deixe o seu comentario:

O máis visto no último mes