Remisiwera, e um feixe de nomes
REMISIVVERA
Este nome feminino,
citado habitualmente como Remisnuera ou Remismuera,
acha-se numha inscriçom na cidade de Braga, e corresponde a umha
mulher morta o primeiro de maio do ano 618. Esta inscriçom foi
editada (página 67, §380) por Emil Hübner no “Inscriptiones
Hispaniae christianae. Suplementum (1900)”. Seguindo a este
editor, o epigrafe lê-se:
+
HIC REQVIESCIT. REMISMVERA
IN
KAL. MAIAS. ERA. DC QVINQVAGIS
VI
DIE SECVNDA FERIA. IN PACE AMEN
A foto oferecida por el é
loquaz; eu leo REMISIVVERA, é dizer, Remisiwera, onde Hübner lera o
grupo IVV como MV, e outros autores como NV. De facto, suspeito que o
pedreiro que gravou a inscriçom escreveu REMISVVERA, engandindo
depois o I, umha simples vogal de uniom entre ambos temas deste nome
composto, no pouco espaço livre entre S e V.
Estes temas do composto
remetem na minha opiniom ao proto-Germánico *remez
'repouso, calma' (gótico rimis
idem), e *wērō > *wērā
'compromisso; verdade' (antigo nórdico pl. vārar
‘compromisso’, anglo-saxom wær
‘acordo, compromisso’, antigo alto alemám wāra
‘uniom, acordo’). Nom existem ou nom som empregados na onomástica
germánica temas que levem à formaçom de nomes rematados em **nuera
ou **muera. Por outra banda, o primeiro elemento podemos atopá-lo
tamém em antropónimos como os suevos Remismundus
e Remisol, e nos galego-portugueses
medievais Remisarius, Remesildi,
Rimionda ( < *Remigunda?) e Rremestro
(< *Remisto, como na evoçom da verba latim stella >
galego e português estrela). O segundo elemento podemos
atopá-lo em Elvira ( < Geluira),
Rezeuera/Rezeuara
e Gundivera, e pode que tamém em
Ilduara, Mansuara,
Astruara, Bertuara,
Gisclauara, Sinduara.
SUINTHILIUBA,
THURESMUDA
Som
outros dous nomes germánicos correspondentes a mulheres finadas no
século VII, provavelmente sueva ambas as duas. O primeiro nome está
recolhido numha inscriçom de St Maria de Açores (Celorico
da Beira), e corresponde a umha mulher finada o ano 666:
REQUIEVIT
FAMULA
CHRI
IN PACE SUINTHI
LIUBA
SUB MENCE
NOVENBRES
ERA DCCIIII
É
um antecessor direto do nome galaico-português medieval
Sindileuba/Sindileoua,
composto dos adjetivos PGmc *swenþaz
'forte, rápido', e *leubō > *leubā
'amada'. O segundo nome (dumha inscriçom de S. Martinho do Peso,
Mogadouro) foi o dumha mulher morta no ano 634, e casada cum home
chamado Protheus:
+
PROTHEUS FECIT
THURESMUDE
UXO
RI
SUE OBIIT IPSA
SUB
DIE VIIII KL IA
NUAR
ERA DCLXXII.
É um composto único, de
*þur(i)saz
'gigante' e *mōdō > *mōdā
'fúria, carrage, alma' ('_que tem_ fúria de gigante'?) É notável
a representaçom do fonema germánico þ
co dígrafo em ambos nomes.
BANDALISCUS,
UNISCUS, UNISCO
Som para mim
moi interessantes estes nomes germánicos, formados mediante o sufixo
-iskaz (masculino) e -iskōn
(feminino), que formavam adjetivos de características. Assi, de
*manna 'home' → *manniskaz 'humano', e de *þeudān 'tribo, naçom'
→ *þiudiskaz ‘tribal, nacional’ (donde alemám deutsch,
neerlandês dutch, italiano
tedesco). É o mesmo sufixo que atopamos no nome Francisco
'franco' (com perdom!). Na nossa documentaçom medieval abundam os germanismos
francisco, grecisco/crecisco,
como referencia à orige franca (PGmc *frankōn
'dardo, lança') ou grega (PGmc *krēkaz
'grego') dum objeto ou mercadoria. E, na Catalunha, tamém o adjetivo
spanesco 'da Spánia',
idêntico ao inglês Spanish
< *Spanisk- 'espanhol'. Na antroponímia galego-portuguesa
conheço estes nomes:
*Wandaliskaz → Uandaliscus (gen.
Uandalisci)
*Huniskaz → Uniscus (gen. Unisci)
*Huniskōn → Unisco (gen. Unisconi e Unisconis)
O primeiro
deles é claramente um derivado do etnónimo dos vándalos. Os outros
dous, masculino e feminino, do nome dos hunos. O primeiro tem
gerado os topónimos Gondarisco (Vigo),
Gondaísque (Vilalva) ( < *Guandalisci < *Uandalisci), e
Bandalisque (Caravias, Astúrias).
Nalgumha
ocasiom tamém se documenta o nome Teudisco,
que é umha provável errata por Teudisclus.
Contodo, Isidoro de Sevilha dizia que os godos se chamavam
a si mesmos tecti (i.e. 'teuti').
ALUITUS
Este
nome (que se das nas variantes Aluitus,
Aloitus,
Aloittus,
Aloytus,
e nas áreas betacistas de Leom e Astúrias, Albittus,
Albitus)
é usualmente considerado germánico, ainda que por vezes tamém se
lhe tem atribuído umha orige local (do latim albus
'branco' + -ittus;
como bonittus
< bonus
'bom' + -ittus),
coa que nom estou de acordo. Na minha opiniom é provavelmente o mesmo nome que o
do rei hérulo do século VI Alvith
(Άλουίθ);
o
mesmo
que
o nome nórdico
rúnico Alawid
(cf. o “Lexikon
över urnordiska personnamn”,
de Lena Peterson); o mesmo para o que Förstemann recolhia as formas
Aloit, Alawit, Alluid na ediçom do 1900 do seu Altdeutsches
Namenbuch;
e que o nome (documentado umha única vez na Catalunha) Alovetti.
Vejamos. Primeiro: a grafia na nossa antroponímia medieval só se
da para representar ora o ditongo decrescente /oy/, ora o crescente
/wi/. Em particular, quando representa o crescente, entom temos umha
alternáncia gráfica / (e nunca ou moi raramente
//):
- Froila/Froyla, Froilo/Froylo, Froisendus/Froysendiz, Froislo/Froyslo;
- Goisenda/Goysenda, Goia/Goya;
- Censoi/Censoy, Manoi/Manoy, Nandoi/Nantoy, Nonnoi/Nonnoy, Quitoi/Kitoy, Sesoi/Sesoy, Tanoi/Tanoy, Trasoi/Trasoy, Uilioi/Uilioy, Uizoi/Uizoy;
- Moises/Moyses
- Troitesindus/Troytesendiz
Esta
alternáncia é comum para a representaçom do ditongo /oy/, presente
nas evoluçons dos temas germánicos *frawjōn
'amo, senhor' > froy-/froi-, e *gaujan
'país, regiom, comarca' > goy/goi-; nos nomes rematados em
-oi/oy; assi como no nome hebreu Moises.
A mesma grafia e empregada para representar os novos ditongos
romances /oy/ derivados da vocalizaçom de consoantes (-Vct- >
-Vit-, por exemplo), ou da leniçom e queda de consoantes oclusivas
(Troyldi/Trudildi).
Segundo:
a alternáncia gráfica //
(eventualmente por perda de w intervocálico, e
ocasionalmente em Astúrias e Leom, por betacismo) na
antroponímia medieval do ocidente da península só se da quando se
está a representar o ditongo crescente /wi/:
- Aldroitus/Aldroytus; Sesoitu/Sesuito
- Eldoigius/Eldigius; Ermoygius/Ermigius; Eruigius/Eroigius/Erbigio; Gontoigio/Guntuigio/Guntigio
- Godoygia/Guduegia
- Odoynus/Odoiniz;
- Geloyra/Giloira/Giluira/Gelbira > Elvira;
- Astruildi/Astroyldi/Astril; Aruildi/Aroildi; Sparuildi/Sparoildi;
Fronte à simples alternáncia / (e nom
///), que revela outras
origes, como em Albinus/Alvinus,
Durabiles/Duraviles;
Sabiniano/Saviniano; Salvatoris/Salbatoris...
As
grafia Albittus/Albitus,
que se dam em Astúrias e Leom, nom som distintas doutras
alternáncias betacistas moi frequentes em Castela, e que só no
século XIV parecem chegar e impor-se na Galiza. Tam só tomando em consideraçom nomes
germánicos:
-
Grafia nom betacistagrafia betacistaTop Gz. (ofic.)AlvarusAlbarusÁlbareGundisaluusGundisalbusGondisalUeremudusBermudusBermui, BermúnGeloyraElbiraXilvirEruigiusErbigiusErvixeBarualdusBarbaldusBarbalde
Por
último, Aluitus,
é um nome
moi abundante na Galiza e Portugal, onde representam entre um 1% e um
2% de todos os antropónimos registados nas fontes anteriores ao ano
1000. É já menos frequentes no oriente da Galiza (~0,40% em
Samos), e ainda menos em Leom (~0,25%), sendo desconhecido na prática
em Castela. Em Catalunha a sua presença é literalmente testemunhal, cumha
frequência de 1:39.000. Um outro nome germánico com similar
distribuiçom (frequente na Galiza, infrequente em Leom, desconhecido
em Catalunha) é Baltarius. Só na Galiza, Aluitus é responsável dumha trintena de topónimos
(Alvite,
Albite,
Vilalvite,
Cachalvite,
Fradalvite...),
e Baltarius doutros vinte (Baltar,
Balteiro).
Comentarios
Publicar un comentario
Deixe o seu comentario: