Barallobre / Baralhovre 'Castro do Parlamento' (?)

Baralhovre / Barallobre é um topónimo composto inequivocamente prelatino que podemos achar repartido e repetido polo norte da Galiza:


  • Baralhovre / Barallobre (18 hab.- Betanços, Crunha)

  • Baralhovre / Barallobre (8 hab.- Friol, Lugo)

  • Santiago de Baralhovre / Barallobre (freguesia com 1859 hab.- Fene, Crunha)

Este último dispom de boa documentaçom medieval:


'in ecclesia Sancti Iacobi de Baralouvre' (CODOLGA: Caaveiro 1107)


'Froyla presbiter ecclesie sancti Iacobi de Baraliobre confirmo. Froyla presbiter ecclesie sancti Mametis de Laragia confirmo. Iohannes presbiter ecclesie sancte Marine de Seliobre confirmo. Ordonius presbiter ecclesie sancti Saluatoris de Seliobre confirmo.' (Historia Compostelana 1110)


'et est ipsa hereditate in terra de Bisaquis, secus flumen Iubia, sub aula Sancti Iacobi de Baralovre' (CODOLGA: Caaveiro 1115)


'in terra Bisauquis de aecclesia sancti Stephani de Herenes, de medietate aecclesia ipsius quinta, et alia medietate sexta, similiter et laycali hereditate. de aeclesia sancti Jacobi de Francia quarta integra. de aecclesia sancti Jacobi de Barallobre porcionem nostram totam.' (CODOLGA: Júvia 1125)


'et de ecclesia Sancti Iacobi de Baralovre et de ecclesia Sancti Salvatoris de Maninos nostras ibi damus integras portiones' (CODOLGA: Caaveiro 1133)


'porcionem eclesie sancti Martini de Aares et meam porccionem de Varaloure' (CODOLGA: Júvia 1125)


'secus flumen Iubie, discurrente ad aulam Sancti Iacobi de Baralovre' (CODOLGA: Caaveiro 1157)


O segundo elemento deste topónimo é provavelmente umha evoluçom do céltico *briga 'altura', especialiçado no significado de 'castro, fortaleça' (Prósper 2002: 357-382) . O primeiro, baralho- ˂ baralio-, é de significado e sentido pouco claro, ou quando menos debatido, e parece inseparável de algumhas verbas pertencentes ao acervo do galego-português e mais do espanhol: vara, varal 'poste, ponla, pau longo e delgado', e baralha / baraja 'conversaçom, disputa, rifa, debate, contenda', que tém a sua própria presença na toponímia:


  • Vara / A Vara (0 hab.- Ribeira de Piquim, Lugo)

  • Vara / A Vara (20 hab.- Jove, Lugo)

  • O Rego das Varas (1 hab.- Ourol, Lugo)

  • Vara / Bara (101 hab.- Outes, Crunha) ˂ 'et hec hereditas est in terra Gentinis in honore opidi Sancti Georgii prope litus Tamaris, sub aula Sancti Cosme et Damiani, in villa uulgata Uara que est inter villam Sarantes et villam Alueydam.' (TTO 1160)


Outros topónimos intrigantes:


  • Baralha / A Baralla (7 hab.- Lama, Pontevedra)

  • Baralha / Baralla (13 hab.- Gondomar, Pontevedra)

  • Baralha / Baralla (11 hab.- Carvalho, Crunha)

  • Baralha / Baralla (673 hab.- Baralha, Lugo) ˂ 'in valle de Pineira, ripa de Neira, villa que vocitant Baralia' (Samos 1025)

  • Baralha / Baralla (25 hab.- Viveiro, Lugo)

  • Baralháns / Baralláns (2 hab.- Cabana de Bergantinhos, Crunha)

Em Ourense houvo um lugar de nome Baralhoaa, procedente provavelmente do diminutivo romanço *Baraliola: 'deinde quomodo partitur cum termino de Baraloaa' (CODOLGA: Ramirás 1246)


E os seguintes, linguisticamente prelatinos:


  • Varaio / Baraio (16 hab.- Cessuras, Crunha) ˂ 'pernominatas, Carrais, Anderici, Crementi, Uaraiu, Ueis, Bauio' (sobrado 989)


  • Sam Joám de Barantes (freguesia com 66 hab.- Sober, Lugo)


  • Vareango (sd.- Malpica de Bergantinhos, Crunha) ˂ 'uilla Uaralango. uilla Sala. uila Genesio. hereditates in Nidones. uilla Lanqueiron.' (CODOLGA: Santiago 1105)


  • Santa Maria de Varaçom / Barazón (167 hab.- Sam Tisso, Crunha) ˂ 'et inde ad Melidi, et inde ad riuulo de Uarazon, ipso rio Infesto' (Sobrado sd); 'et est territorio Auiancos, concurrente riuulo Uarazum' (Sobrado 1165)



Quero explorar agora as possíveis implicaçons da relaçom que poida existir entre os topónimos Baralhovre e as verbas vara / varal e baralha, si é que a hai.




A.- Baralhovre / Barallobre 'Castro da Paliçada'


Du Cange sinala, tardiamente (1493), a apariçom da verba baralia co significado de paliçada ou estacada. Mais já no século XIII Lucas de Tui recolhia umha notícia mais notável, ao falar dum calçado rústico confeccionado com peles cruas e vímios tecidos, 'que o vulgo chama abarcas e baraliones', veba ainda viva em espanhol: 'Barajón. Bastidor de madera que sujeta un tejido de varas y se ata debajo del pie para que este no se hunda al andar sobre la nieve. Se hace también de una tabla con tres agujeros en los cuales entran los tarugos de las almadreñas. U. m. en pl.' (RAE 22º ed.) Interessa esta cita, por quanto o emprego da verba vara é moi tardia tanto em fontes espanholas como em fontes galego-portuguesas, e ainda o é máis a verba varal. Assi, acho vara na Galiza no Tombo de Toxos Outos, em 1229, como medida de longitude para tecidos:


'Omnes coniugati tenentur dare annuatim abbati singulas fogazas bonas cum uino et singulas teeygas de ceuada in mense januarii; in Pasca singulas mundas cun Ve ouis; in maio IIIIor varas de bragal et singulas fogazas;' (TTO 1229)


Em Castela, antes, no Fuero de Soria, de 1196:


'El sayon deue conplir alos que uenden la sal de almudes & de medios almudes & de quartas & de medias quartas, & de todas las otras medidas que asu ofiçio perteneçen. Et quelas tenga ferradas, buenas & derechas. Et si tales non las toujere, quantas uegadas le fueren falladas falsas, que peche por cada una .v. ss. & quegela quebranten. Esta mjsma pena ayan todos aquellos que toujeren falssas medidas de çiuera & de ujno & de olio, & de todas las otras cosas que se uenden por medida, o pelos falsos o uaras falsas; & desta calonna aya la meatat el conçejo, & la meatad aquellos omnes buenos a quien el conçeio pusieren por recabdar lo'. (CORDE: Fuero de Sória, 1196)


Mais tarda ainda a verba varal, que nom se da em Castela até quase o 1500:


'El qual entendiendo este consejo delos mures: fingio & simulo que era muerto. & colgo se delos pies de vn varal que estava junto con vna pared.' (CORDE: 1482)


E em Portugal só no século XVI, glossado como pértiga. É dizer, vara e varal som verbas provavelmente derivadas do latim VARAM 'trave em forma de ponte', palavra técnica de pouco uso derivada do verbo VARAR 'dobrar'. E nom parece que puidesse existir umha forma antiga varalia, derivada da verba serôdia varal, e co sentido de 'conjunto de varais'; ainda máis, quando achamos nas fontes antigas formas similares, quase sempre vam grafiados com b, baralia, como havemos ver. Assi pois, nom penso que os topónimos galegos Baralha ou Baralhovre, anteriores com seguridade ao ano mil, fagan referência a um conjunto de varas, ou similar. Ainda que nom podo senom me perguntar pola possível relaçom entre as verba vara e varal, e máis as verbas, aparentemente prelatinas, varanda, baranca 'paliçada' e varanza 'varal de carro'. Neste último particular veja-se lituano varanda 'tecido de vímios', da raiz PIE *wer- 'juntar, ligar' (IEW: 1150-1151).



B.- Barallobre / Baralhovre 'Castro do Parlamento'


A mención máis antiga que eu conheça da verba baralia em Castela é do 1090:


'Qui in baralla cum suo vicino sakaverit lanzam pariat suo concilio centum solidos.' (CORDE: Fuero de Villavicencio, 1090: 'Quem em baralha co seu vizinho sacare lança pague ao seu concelho cem soldos'.)


Na Galiza é anterior. Vexamos os seguintes fragmentos, com traduçom aproximada, mais nom sem antes recalcar o feito de nom serem baralia e baraliare verbas latinas ou germánicas, senom que devem pertencer ás linguas faladas no quarto noroeste da península à chegada dos romanos:


1.- Lugo 910: neste a palavra baralha tem, penso, o valor de 'pleito':

'venerit vel venero contra hunc factum scriptum, ad tibi, et baralia suposuerit in primiter, sedeat scomunicatus, et condenatus, et perpetua ultione' (Lugo 910: 'quem vir contra o escrito, a ti, e de primeiras supor baralha, seja excomungado e condenado')


    2.- Celanova 936: aqui parece que baralha ter o valor de 'banda, grupo, companhia':

'Ego Repparatus et uxor mea Trasuinda (…) elegissemus de prosapia nostra suprinos nostros nominibus Adericus et Sesina (…) Fecimus eis kartam perfiliationis de omnia nostra (…) Quumque habuissent iam ipsam scripturam aput se, seurrexerunt elati in oprobria, contumeliauerunt nos, inmisereque super nos baralia cum arma rustica et rapinauerunt nos et nostrum ganatum, atque desuper per eorum inmissionem prehendiderunt nos et eicierunt de proprios domos nostros et mancipaverunt nos et anteposuerunt de kintana nostra usque in domo illius unde ipsi inimici illa guardia eicierant quod super nos inmiserant.' (Celanova 936: 'Eu Reparado e minha esposa Trasuinda (...) escolhêramos da nossa família os nosso sobrinhos Aderico e Sesina (…) Fixemos-lhes herdeiros de todo o nosso (…) Assi que tiverom essa carta alçarom-se contra nos com opróbrio, insultarom-nos, enviarom contra nos baralia com armas rústicas e nos roubarom a nos e ao nosso gando...')


    3.- Celanova 1007: aqui baralhar significa simplesmente 'falar, dar um discurso':

'Et dicente Nausti Didaci quia sunt de mandamento et non dabat avolentia unde servissent ab ipso mandamento nisi potestative querebat illos oprimere. Et sedente princeps Adefonsus hic in Congosto, et ducis Rodericus Ordoniz qui illa terra tenebat sub ipse, et venerunt ipsus infancones ante illex nomine Nausti Didaz et Velasco Nuniz et Aloitus abba, et baraliaverunt ipsos homines quomodo superius resonat. et iudicavit ipse rex iudicium rectum' (Celanova 1007: 'E dixo Nausti Dias que porque eles eram de mandamento nom pagavam impostos por motivo de serviço, e que os poderosos queriam-nos oprimir (…) E baralharom esses homes como arriba se diz, e julgou o rei por juízo recto.')


4.- Celanova 1056: baralha = 'juntança, assemblea, tumulto', baralhar = 'falar, pleitear':


'Dubium quidem non est, sed multis manet cognitum atque compertum eo qum essent omnes adunati una dominica die ad ecclesiam nunccupatam vocabulo Sancto Iacobo in villa Mortaria, prope fluvio Arnogie. Accidit ibi occasio sicut mos est in orbem Terrarum. Postquam se inhebriarunt commiscuerunt baralia et ibi percusserunt uno homine de lancea nomine Baldemaro, homine próprio de Monasterio Cellenove, unde cicius venit ad mortem. Ut viderunt filii ecclesie tam grave scelus inruerunt super illos omizianes nomine Federicus et sua mulier Egilo qui illo homine tenuerunt ad verticem capitis sui, quando illo percusserunt lancea, et sic perrexerunt eum illo uno omicidiane ad monasterii Cellenove, et iactaverunt eum in carcere et in vincula ferreis quomodo dignus erat supplicio pati (…) Sed arripuerunt iter sub unum et fuerunt ante illo comite, et baraliaverunt de ista actio non modica sed multa causa.' (Celanova 1056: 'Nom cabe duvidar, senom que moitos sabem e tém por certo isto, reunidos todos um domingo na igreja de Santiago na vila Mortaria, polo rio Arnoia, sucedeu naquela ocasiom segundo é costume no inteiro mundo. Despois de se emborrachar juntarom baralha, que foi quando malharom num home de lança de nome Baldomaro, home próprio do mosteiro de Celanova, que logo morreu. Assi que virom os fregueses tam grave crime, atacarom aos homicidas chamados Federico e sua mulher Egilo, que o home tinha junto à sua cabeça quando fora golpeado com lança, e assi o levarom ao homicida ao mosteiro de Celanova, e o botarom no cárcere e o atarom com cadeas de ferro, como é apropriado. (…) Mais arrestarom a algum e forom ante o conde, e baralharom de esta acçom... ')


5.-Braga 1057: baralia = 'conflito, pleito, litígio':


'et inde fere in carraria. do vobis illas pro illa baralia que habuimus super illas terras et super illa carta' (Braga 1057: 'e como da na carreira, dou-vo-las pola baralha que tivemos sobre as terras e a título de propriedade'.)


6.- Samos 1058: baralhar = 'pleitear, procurar, intervir em juízo':


'Et erexit ille Rex et aepiscopus Petrus de lucense sedis, que illos iudicare, et Guterre Egaredizi qui baraliare voce de ipse Todulfus et de suos filios et de sua mulier Ninna, sicut et baraliavit, dicente ipse Gutierre Egaredizi in voce de ipse Todiulfus et de suos filios in sua asertionem, quia fuerat ipse Todulfus de alia terra de Valdaria ingenuo' (Samos 1058: 'E erigiu o Rei e bispo Pedro da sé Lucense aos que haviam de julgar, e Guterre Egarediz que baralhar voz desse Todulfo e de seus filhos e de sua mulher Ninna, e asi baralhou, dizendo esse Gutierre Egarediz...')


7.- Celanova 1058: baralha = 'conflito'


'Dubium quidem non est sed multis manet cognitum atque conpertum, eo quod inimicus humani generis suscitavit baraliam et alfetenam inter duos congermanos sicut mos est ab antiquis patribus.' (Celanova 1058: 'Nom hai dúvida senom que moitos sabem e descobrem isto, que o inimigo do género humano suscitou baralha entre dous curmaos'.)


8.- Sobrado 1063: baralha = 'conflito':


'orta fuit intentio inter Fernando Uistrimiriz et heredibus suis, et de alia parte Pelagio Menendiz et Osorio Iohannis et heredibus suis, super illas hereditates que iacent inter Castelo et Sonario, unde baralia inter nos uertitur et uenimus inde in concilio ante comitem domnus Rodericus Ouequiz' (Sobrado 1063: 'Xurdiu tensom entre Fernando Vistrimires e os seus herdeiros e Paio Mendes e Osoiro Eanes e os seus herdeiros, sobre as herdades que jazem entre Castelo e Sonario, do que viu baralha entre nos e vimos pois em conselho ante o conde Dom Rodrigo Oveques.')


9.- Celanova 1063: baralhar = 'expor, argumentar, promover um pleito':


'et per tale actio fuimos en presentia de ille rex in ripa de Orbigo hic in Palacios et baraliamus istam causam superius nominatam.' (Celanova 1063 : 'E por tal acçom fumos em presença do Rei nas ribeiras do Órbigo, aqui em Palacios, e baralhamos esta causa devandita'.)


10.- Samos 1064: baralhar = 'litigar, argumentar, defender':


'hominibus de Lauzara, id sunt: Cardolfe cum sua muliere (…) et de Riquilo qui ibidem baraliavit Gundesindus confessus et fratres de Samanos agnovisset Ordonius Arias in concilio' (Samos 1064: Num litigio entre os mosteiros de Destriana e Samos por alguns homes de Lôuçara e de Oinço 'persoas de Lôuçara, que som: Cardulfo coa sua mulher (…) e de Ríquilo que assi mesmo baralhou Gundesindo confesso e os frades de Samos, como reconhecera Ordónio Ares em conselho'.)


11.- Sobrado 1071: baralha = 'conflito, juízo, pleito':


'orta fuit intentio inter filios de domno Cresconio et de Fulgentio, sendit Fulgentio in casa de don Cresconio et de domna Eldara in Sendane, comparauit hereditatem in Placenti et in Isula et deuenerunt inde ad baraliam et ad concilium ante dona Eldara, et elegerunt in ipso concilio homines bonos inter illos, et ipsi boni homines dixerunt quod...' (Sobrado 1071: 'Xurdiu conflito entre filhos de Dom Crescónio e de Fulgêncio (…) Fulgêncio comprou herdade em Chacente e em Ínsua, e chegarom entom a baralha e a conselho ante dona Eldara, e elegerom nesse conselho homes bos de entre eles, e esses homes bos dixerom que...')


12 .- Samos 1075: baralhar = 'reclamar'.


'contigit itaque quod ipsa soror mea et filius eius transierunt ex hoc seculo et non reliquerunt semen super terram, et remanserunt ipsas villas et ipsas hereditates in iure meo, sicut ipsum benefactum docebat; et postea venit Trodilli Ovequiz, que fuit uxor suprini mei Nunonis Ordonii et baraliavit ipsas hereditates post partem viri sui, et devenimus inde in concilio ex genealogia nostra et sua, et vindicavi ego ipsas hereditates per meum benefactum' (Samos 1075: 'E foi assi que essa minha irmá e seu filho morrerom sem deixar descendência sobre da Terra, e permanecerom essas vilas e herdades na minha propriedade, segundo indica esse benefício; e despois veu Trodilli Oveques , que foi mulher do meu sobrinho Nuno Ordonhes e baralhou essas herdades por parte do seu home, e vimos entom em concílio por motivo da nossa genealogia, e reivindiquei eu essas herdades polo meu beneficio.' )


13 .- Celanova 1078: baralha = 'reclamaçom, discussom, conflito'.


'Obinde ego Velasco Fernandiz et uxor mea domna Lupa cum filiis nostris confirmamus et protestamus ut alia baralia vel controversia ex nobis contra monasterium Cellenove exeat super ipsas hereditates et homines nec de nos nec de nostra auctoritate (Celanova 1078: 'Assi eu Vasco Fernandes e minha esposa dona Lupa com nosso filhos confirmamos, e protestamos de outra baralha ou controvérsia de nossa parte contra o mosteiro de Celanova sobre essas herdades e homes...')


14.- Samos 1082: baralhar = 'discutir, debater'


'et venit ille episcopus in illam terram et iunctavit se cum ipsum Eita Gosendiz et baraliarunt super omnia suprataxata et non accepit Eita Gosendiz ipsam veritatem quam ille episcopus invenit et iudicavit.' (Samos 1082: 'E viu o bispo [Gonçalo de Dume] naquela terra e juntou-se com Eita Gosendes e baralharom sobre todos os aspectos do tema e nom aceitou Eita Gosendes essa verdade à que chegou o bispo e foi a juízo.')


15.- Caaveiro 1152: baralha = 'conflito, escándalo'


'et cum omni isto pacto in quo tempore vel in qua qua hora sibi peterent ipsam hereditatem daret im pace sine baralia et sine rugio' (Caaveiro 1152: 'e com este pacto, quando lhe a el petar, daria em paz essa herdade sem baralha nem ruído.')


16.- Sobrado 1176: baralha = 'conflito'.


'ego Iohannes Cornelius et omnis uox mea tibi fratri Petro Pelagii et aliis fratribus Superaddi et omni uoci uestre, facio pactum et placitum annuntiationis in solidos CC roboratum, super ipsa hereditate per quam deueneramus ad baraliam, et per constrictionem domni Nuni Pelagii qui posuit ibi homines bonos' (Sobrado 1176: 'Eu Joám Cornélio (…) fago pacto (…) sobre essa herdade pola que chegamos a baralha...')



E umha escolma de citas já em galego:


    17.- baralha = 'batalha' (encobrindo aqui o encontro sexual):

'Domingas Eanes ouve sa baralha

con ũu genet ' , e foi mal ferida;

empero foi ela i tan ardida,

que ouve depois a vencer, sen falha,

e, de pran, venceu bõo cavaleiro;

mais empero é -x ' el tan braceiro,

que ouv ' end ' ela de ficar colpada.' (TMILG: Afonso X, s XIII)


18.- Baralha = 'bandos, confrontamento entre dous bandos'


'Et por aquel que for morto in baralla os mays prouincos parentes un daquelles que en elle firiren per directa inquisicion escollan el por homician, et se aquelle fettor per inquisicion non acharen in quen suspeto oueren per sy iuramento sõo faça e non seya hy torna.' (Foro Castro Caldelas ~1250)


'Treguas por lo foro da uilla seyan taes de una parte e de otra da baralla dem fiadores in mill solidos, e qui mas britar, tallenle o pugno destro, e destes mill solidos haya o senor do Burgo os Dos solidos, e o concello os outros Dos solidos, dos quaes den ende C solidos a o firido, e o pugno seya in poder do concello.' (Foro Castro Caldelas ~1250)


19.- Baralha = 'bronca, tumulto'


'ũu de nos queiran ou procuren de nos dar arroydo, baralla, desastre ou outro qualquer dapno porque a nos poderia vĩir' (TMILG: Livro do Concelho de Pontevedra 1444).




Logo de este extenso repasso, penso que baralhar e baralha som verbas que levabam implícitas varias idéas:


i.- Debate, discussom, argumentaçom, exposiçom, arenga.

ii.- Pleito, competiçom ou confrontaçom entre dous bandos, conflito, reclamaçom.

iii.- Ruído, escándalo.


E logo, como extensom disto pode chegar a significar autêntico confronto físico, tumulto ou batalha, dum jeito similar ao que se deu no passo do germánico *werzaz 'confusom, discórdia, conflito' ao romanço guerra. Mais, qual é o significado moderno destas verbas? Em espanhol (segundo a RAE) som rifa, bronca, ou, numha frase feita, contar, relatar. Lembremos tamém que em espanhol o grupo [ly] da [x], escrito ˂j˃, no entanto que em galego da [λ], escrito ˂ll˃ ou ˂lh˃:


Baraja:

'1. Conjunto de cartas o naipes que sirven para juegos de azar.

2. Gama amplia de posibilidades u opciones.

3. Riña, contienda o reyerta entre varias personas. U. m. en pl.'


Barajador:

'1. Pendenciero, pleiteador. '


Barajar:

'13. intr. Reñir, altercar o contender con otros.'


Barajear:

tr. Cuba y Méx.

'1. barajar (ǁ mezclar los naipes).barajar

barajeársela a alguien más despacio. fr. coloq. Repetir lo dicho, generalmente aportando más detalles.'


Vejamos umha escolha do que recolhe o Dicionário de Dicionários. Adianto que o significado primeiro em galego é 'verborrea, verbosidade inútil':


Baralla:

'Charla sin provecho:

Con gente que non conozas

non gastes moita baralla;

pórque, se a gastas, dirá

qu'algo de juicio che marra -Cant. Pop.- (Valladares 1884)


's. f. Palabrería, locuacidad, charla huera e insustancial.

Baraja, conjunto de cartas de que consta el juego de naipes.

Riña, alboroto, altercado; rifa.' (Franco Grande 1972)


Barallada:

's. f. Conversación insulsa, palabrería superficial y huera.' (Franco Grande 1972)


Barallán:

' s. m. Lo mismo que baralleyro. El que hablando miente mucho o confunde las razones por defecto o por malicia, y el que hace diligencias para confundir un negocio a fin de que nunca se vea la verdad.' (Sobreira ~1800)


Os dicionários repetem no essencial esta definiçom para as formas barallas, baralleiro, barallante, barallocas e barallouzas. Alem disso, é interessante o emprego de sufixos prelatinos como -as, -ouço- e -oco-/-ouco-.



Barallar:

'v. a. Garallar, Gralear. En Ribadavia, hablar todas y cualesquier cosas por solo hablar, y sin necesidad y sin elección.

v. n. Ribadavia. Confundir y obscurecer la verdad con diligencias y amaños.

v. n. Hablar mintiendo o confundiendo sus propias razones, cual por defecto, cual por malicia. Baralla baralleyro. Modo de hablar con que se nota al que miente o embrolla mucho.' (Sobreira ~1800)


Barallar:

'v. a. Hablar. Charlar; hablar mucho y ociosamente.

Aquí vejo eu, filla, o voss'amigo,

o por que vos barallades migo,

delgada.

Aqui vejo, filla o que amades,

o por que vos migo barallades,

delgada.

PAYO SUÁREZ Canc. V. núm. 243.


2. Barajar. En el juego de naipes es mezclarlos unos con otros antes de repartirlos.

3. Mezclar y revolver unas cosas con otras; poner en desorden o confusión.

4. Gobernar, manejar, dirigir.

De Sueyr' Eanes vos direy

como lle de trobar aven,

non o baralla el mui ben

nen ar quer hy mentes meter;

mays d' esto se pod ' el gabar

que se m'eu faço bon cantar

a el mh'o soyo fazer.

PERO DA PONTE. Canc. V., núm. 1.179.


5. Reñir, altercar, contender unos con otros: perturbar el orden.' (RAG ~1920)


Mais as seguintes som ao meu ver os derivados e acepçons máis interessantes, sendo como som os nomes internos de senlhas falas ou gírias gremiais:


Barallado:

's. m. de Ribasil. El idioma obscuro particular de los córdeyros o cordeleros de tierra deRocas' (Sobreira ~1800)


Barallete:

s. m. Jerga tradicional que emplean entre sí los paragüeros ambulantes de Nogueira de Ramuín, en la prov. de Ourense. La estructura gramatical de este argot de germanía es gallega, como la de los ARXINAS de Cotovad, la de los CESTEIROS de Mondariz y otras, y el léxico viene a ser en parte inventado y en parte tomado de otros idiomas. Se llama BARALLETE no se sabe por qué, y hasta ahora sólo ha sido objeto de estudios parciales, se ha recogido algo de su léxico, que ofrece aspectos curiosos a los filólogos. Los PARAGÜEIROS de Nogueira de Ramuín recorren toda Galicia y toda España y Portugal ejerciendo al aire libre su profesión ambulante: componer platos, fuentes y paraguas; y este modo de ganarse la vida por las aldeas, villas y ciudades, y la necesidad de entenderse ellos solos sin que los demás los entiendan, les ha hecho formar un medio especial de expresión. (Eládio Rodíguez 1960)


Ainda que é atractiva a idea de supor baralhado, baralhete = 'confundido, revolto', penso que nom é o caso. Moitas dos argots e gírias e falas gremiais da Galiza e Portugal empregam como nome umha palavra da própria gíria que simplesmente significa fala ou similar:


Na Galiza:


Verbo dos cabaqueiros, Verbo dos Arguinas, Verbo dos Chafoutas, Verbo dos Xingreiros: de verbo, 'fala, linguage'.

Lafrada: de lafrar ˂ falar 'falar'.


Em Portugal:


Verbo dos Arguinas: de verbo, 'fala, linguage'.

Latim dos Canhoteiros: de latim, 'gíria, argot'.

Lainte ˂ Latine 'giria, argot'.

Galramento: de galrar ˂ garlar 'falar', do latim GARRULARE 'falar com loquacidade'.

Piação: de piar 'falar'.


No visto até acô, lafrada = 'falada' é formal e semanticamente idêntico, a baralhado, nome antigo ou paralelo do baralhete. Dum jeito moi natural, para o verbo desusual baralhar, como gerador do próprio nome interno desta fala gremial, pode-se propor o próprio significado que achamos nos dicionários: 'falar' (tamém garlar está nos dicionários, incluído o castelhano da RAE).


Sobre o apaixonante mundo da gírias e falas gremiais remeto-me à obra 'Falas Secretas. Estudo das Gírias Gremiais Galego-Portuguesas e Ibéricas' de Jorge Rodrigues Gomes (AGAL, Ourense, 2008. ISBN: 13-978-84-87305-27-X).




É dizer, baralhar é 'falar' ou 'debater'. É qual é a sua procedência etimológica?


1º.- É prelatina, pois nom tem boa etimologia nem desde o latim nem desde o germánico.

2º.- O céltico comum possuiu umha palavra, *labara, e *labar-ayo, procedente à sua vez do proto-indoeuropeu *plab- 'balbuciar' (IEW: 831), de onde:


antigo irlandês labar 'loquaz' galês llafar 'som, fala' lleferydd 'voz' córnico lauar bretom lavar 'verba'.

irlandês amlabar 'mudo', cymr. aflafar, acorn. aflauar `infante'.

antigo irlandês labraid, rel. labrathar `falar', galês llafaru 'dizer', corn. lauaraf `digo'.


3º.- Umha forma céltica comum *labara puido dar por dupla metátese orige a umha forma *barala com derivaçom *baralya:


*labara, *labarya ˃ *balara, *balarya ˃ *barala, *baralya


E sem esquecer que a nossa verba palavra provem do latim PARAVOLAM ˃ parola / palavra. Puido o aspecto fonético de parola atrair a forma prelatina? Provavelmente nom, mais...



Em síntese:


baralia 'falar' pode proceder do céltico comum *labarya, por metátese das suas consoantes ajudada polo feito de contar com três vocais iguais:

*labarya ˃ *balarya ˃ baralya ˃ gall. baralha, cast. baraja.

No romanço, o verbo baraliare especializou-se como 'debater', com certo matiz negativo, donde 'verborrea' por um lado, e por outra banda, em contextos assembleares máis formais, deu 'debate, rifa' ˃ 'pleito, conflito, competência' ˃ 'bronca, tumulto, batalha'. Os termos baralha e baraja (de cartas) parte máis bem da idea do 'conflito, competiçom entre partes', até ficar restrito ao maço de cartas de jogo.

E Baralhovre (Barallobre) nom é, coido, um híbrido latino-céltico, um mui hipotético e incerto 'Castro da Paliçada', sem apoio romanço ou documental, mais um simples e direito 'Castro do Parlamento', ali onde se juntariam os representantes dos castros dependentes para tratar temas políticos e jurídicos.


Comentarios

  1. Interesantísimo blog. Noraboa. Achego algo sobre o alcume BARRAZ que debe estar relacionado:
    "BARRAZ (Barraz). Interesantísimo este sobrenome de Barraz, que, segundo a CAG, soamente leva, como apelido, un galego. Un caso único, igual que o que rexistraba o padrón de San Clodio para Gabriel Perez Barraz, veciño de Bieite. Foi alcume utilizado desde moi antigo, así rexistramos, en documento de Toxosoutos, a un Iohannes Martini Barraz, en 1247. Escribe don Ramón Menéndez Pidal na súa edición do Cantar do Mio Cid:
    «tomado por los españoles de los árabes: cuando dos ejércitos estaban á la vista, algún valiente salía de filas para desafiar a otro del enemigo; esto se llamaba “baraza”, y el que hacía por oficio tales desafios “barraz”» (Menéndez Pidal 1911: 526).

    Un antepasado debeu ter este Gabriel Pérez con ese oficio, pois a verdade xa non imaxino tal perigosa ocupación en pleno século XVI.".
    Tomado do libro "O padrón de San Clodio de 1580" de Frutos Fernández González.
    Podería ter algo que ver o enigmático apelido Varela?
    Outra consulta: de onde sacas a poboación das freguesías?

    Grazas Cossue por estes agasallos sen prezo que nos fas a todos.
    Chuquilo

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  2. Concho, que sorpresa! Primeiro, grazas polas grazas (non sei se merecidas, que hai cousas que se fan por vicio e gosto; eu si que llas debo á miña compañeira polo tempo que me permite dedicar ao esbardalle :-)

    Moi interesante e suxerinte a baraza, que descoñecía. Coido que si se debe corresponder co mesmo concepto... Grazas por me poñer na pista del.

    Os datos da poboación das freguesías, parroquias, anexos... son do Instituto galego de estatística (algo atrasada a que eu dou, do ano 2006, penso): desde aquí http://www.ige.eu/igebdt/esq.jsp?paxina=002001&ruta=nomenclator/nomenclator.jsp, e probando logo a buscar por entidades colectivas. Os datos poden baixarse en formato excell (e desde estes datos, con buscas filtradas, ben se poden facer virguerias').

    E grazas e parabéns por ese libro excelente e fermoso que é Os Nomes do Ribeiro:-)

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  3. Moitas grazas, sempre quixen saber a etimoloxía de Barallobre, porque a miña familia e de alí ( o de Fene ), da zona do Castro de Barallobre, dentro da parroquia de Santiago de Barallobre.

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