Somoça, Muimenta, Tribá, Triacastela
(mod. 8/10/2008)
Abstract: In Galicia there are found several toponyms expressed as ancient Latin neuter plurals, flexion lost in general to the western romances, including Galician language. Thus, they are evidences for a previous state of the local tongue:
Somoça/Somoza ‹ Submontia 'Under/By the Mounts',
Triacastela ‹ Tria Castella 'Three Castles',
Triabá/Terbá/Tirabá ‹ Tria Vada 'Three Fords',
Moimenta ‹ Monimenta 'Monuments, Tombs'.
No passo do latim ao galego-português, perdeu-se o inteiro sistema de declinaçons do primeiro em favor dum único casso, o acusativo, que passou a ocupar todas as funçons própias de outros casos, como podia ser o genitivo, que indicava relaçons de pertença, ou do nominativo, agente e sujeito da acçom. E se bem semelha que o genitivo na Galiza nom se perdeu até o século X (isso sugerem as fontes medievais), os outros casos extinguirom-se deixando bem poucos restos, como podem ser Deus, do nominativo DEUS 'God' e nom do acusativo DEUM; ou grando 'saraiva; hail', do nominativo GRANDO 'saraiva; hail' e nom do acusativo GRANDINEM.
Nom obstante, um pequeno conjunto de verbas, hoje singulares e femininas, provem dum acusativo de plural, a miúdo cum valor colectivo: froita 'fruit' ‹ FRUCTA 'os productos; the products', lenha 'wood' ‹ LIGNA 'os lenhos; the logs', ou boda 'wedding' ‹ VOTA 'os votos; the votes'... Formas semelhantes acham-se ou achavam-se em toda a geografia do noroeste ibérico: a Galiza, norte de Portugal, e máis Leom, disfarçados de falsos femininos.
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1.- Somoça (ortografia RAG: Somoza) ‹ submoncia (~570 AD) ‹ latim *Submontia 'Baixo os Montes; under the mounts'
A Somoça (36 hab.- Antas De Ulha, Lugo) ‹ 'in loco qui vocatur Sumoza' (Oseira, 1245)
A Somoça (4 hab.- Sober, Lugo)
Castelo de Somoça (San Tomé) (39 hab.- O Inço, Lugo) 'na Somoça de Lemos' (Lugo XIV, 1302) ‹ 'mediam ecclesiam sancti Thome de Sumoza' (Samos, 1175) ‹ 'villa in Sumoza de Lemabus' (Samos, 1074)
Somoça (140 hab.- Rianjo, A Crunha)
As Somoças (concelho da província da Crunha, com 1.411 habitantes)
A Somoça (Santo André) (228 hab.- A Estrada, Pontevedra) ‹ 'terça da jgleia de Santãdré da Somoça' (TMILG, 1390)
Somoça (44 hab.- Lalim, Pontevedra)
Somoça (12 hab.- Maceda, Ourense)
Somoça (69 hab.- A Rua, Ourense)
Somoça (Sam Miguel) (41 hab.- Póvoa de Trives, Ourense)
No Berzo galego-falante:
Povoadura de Somoça (Vilafranca do Berzo, Leom) ‹ 'in Sumoza de Cervantes' (Samos, 1087)
Em ámbito linguístico leonês, temos a comarca da Somoza, ao abeiro do monte Teleno, nom longe de Astorga.
Em Portugal nom achara este topónimo, mais logo do apontamento feito nos coméntarios, dei com ao menos tres deles, na forma Samoça (graças!):
Samoça (Santo Tirso, Porto)
Samoça (Fafe, Braga)
Samoça de Baixo (Guimarães, Braga)
Das Beiras provem o máis antigo testemunho da nosso topónimo, no Parochiale Suevorum, como igreja dependente da sé de Viseu, nas formas submontio/ submoncio/ submoncia/ submontia.
A evoluçom fonética teria sido assi:
Submontia 'baixo os montes' ›
› *Summontia (assimilaçom [bm] › [mm])
› *Summonça ([nty] › [nts])
› Sumoça (reduçom [m:] › [m] máis processo irregular -nç- › -ç-, paralelo do comum -ns- › -ss-: MENSEM › mês, DEFENSA › Devessa...)
› Somoça (resultado moderno, com abertura de u breve latina em o; nom obstante, na Idade Média, e já nos documentos em galego, é ainda forma comum Sumoça).
Como dixem, este topónimo é exclusivo do NW ibérico, e suspeito que se origina no calco dum topónimo pre-latino de idêntico ou semelhante significado, como pode ser Amoeja 'Xunto ao Montes'.
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2.- Triacastela ‹ Triacastella (Tombo A, 922) = latim Tria Castella 'Tres Castelos; Three Castles'
Este topónimo é tam latino que nom precissa maior aclaraçom. No seu dia foi território, e é hoje concelho luguês coa capital do termo municipal, que possue 51 km^2 e 811 habitantes. A forma actual, com [l:] ˃ [l] já está testemunhada no 1211, no Tombo B da catedral de Santiago.
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3.- Triabá ‹ Triavada (Lourenzá, 969) = Tria Vada 'Tres Vaos; Three Fords'
Outro claro latinismo que se refere, coido, a presença no lugar dumha juntança de rios de doado passo. É topónimo repetido na Galiza:
Triabá (San Pedro) (619 hab.- Castro de Rei, Lugo) ‹ 'in Triauada hereditate et ecclesia sancta Maria integra' (Lourençá, 969)
Triabá (81 hab.- Barro, Pontevedra)
Terbá (4 hab.- Pontes de Garcia Rodrigues, A Crunha) ‹ *Trebá, de Triabá, com [ja] › [e], como em Oitavém ‹ *Octaviani, Chorém ‹ *Floriani, Labacengos ‹ *Lapatianicos...)
Tirabá (46 hab.- Vila de Cruces, Pontevedra), de Triabá.
Etimológicamente deveram escrever-se com -v- em quaisquer norma ortográfica.
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4.- Moimenta ‹ Monimenta (Tombo A, 958) 'Os monumentos, As tombas; The Monuments, The Tombs'
A referência parece clara a um lugar com abundáncia de tombas, provavelmente arcas megalíticas, de jeito que seria verba sinónima de Arcas, Antas ou Medorras, e procede do latim MONIMENTA, com I, que contrasta com o máis conhecido monumento, com U. Na sua evoluçom da-se a esperada perda do /n/ entre vogais.
Eis os casos galegos. Os dous primeiros levam artigo, por interpretaçom como feminino do plural neutro.
A Moimenta (47 hab.- Vilardevós, Ourense)
A Muimenta (16 hab.- Pontevedra, Pontevedra)
Moimenta (184 hab.- Boiro, Crunha) ‹ Monimenta (Tojos Outos, 1154)
Moimenta (19 hab.- Celanova, Ourense)
Moimenta (8 hab.- Qualedro, Ourense)
Muimenta (San Jiao) (102 hab.- Carvalheda de Ávia, Ourense)
Moimenta (43 hab.- A Estrada, Pontevedra)
Moimenta (San Lourenço) (171 hab.- Lalim, Pontevedra)
Moimenta (Santa Maria) (294 hab.- Campo Lameiro, Pontevedra)
Muimenta (Santa Marinha) (918 hab.- Cospeito, Lugo) ‹ Monimenta (Meira, 1187)
Em Portugal:
Moimenta (Braga, BR)
Moimenta (Cabeceira de Basto, BR)
Moimenta (Terras de Bouro, BR)
Moimenta (Vila do Conde, PO)
Moimenta (Lousada, PO)
Moimenta (Vinháis, BÇ)
Moimenta (Castro Daire, VI)
Moimenta (Cinfães, VI)
Moimenta (Viseu, VI)
Moimenta da Beira (Vila) (Moimenta da Beira, VI)
Moimenta de Maceira Dão (Mangualde, VI)
Moimenta (Castelo de Paiva, AV)
Nom se da, que eu saiba, em Leom ou Astúrias.
Lugar de Samoça, freguesia de Roriz, concelho de Santo Tirso, distrito do Porto.
ResponderEliminarMoito obrigado e graças! Nom reparara nesta forma, e logo dumha pesquisa acho tamém o mesmo topónimo nos concelhos de Fafe e Guimarães :-) Hei-no de engadir ao post.
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