Frei Beringel e Joham Tuorum

E vém aqui duas lembranças: a primeira pra o infame Berenguel de Landoira, francês, arcebispo de Santiago de 1318 a 1330, imposto por Roma para acalmar e controlar a irredutível Terra de Santiago. Nom poidendo entrar na cidade, ante a oposiçom do concelho e das forças senhoriais, residiu um tempo na cidade de Noia, que junto com Pontevedra era a máis importante dos seus domínios, à marge de Compostela. Nesse tempo dotou-na de muralha e projectou a igreja de Santa Maria, rematada máis tarde e bem conhecida hoje polas suas laudas gremiais:

'ESTA : IGL
(ES)IA : EDIFICOU : (E)T : SA 
GROU : DÕ : FR(EI) : BERĨGEL : 
ARCIB(IS)PO : DE : S(AN)TIAGO : EN : XXVIII : 
DIAS : D(E) : JAN(EI)RO : ERA : M : CCC : LXV : II? : F
OI : P(RO)C(UR)ADOR : P(EDRO) : BOCHÕ DESTA : OBRA :'

Ano de 1362 – 38 = 1324. Antes, no ano 1320, poido entrar Berengel na cidade de Santiago, despóis de provocar umha matança entre os concelheiros composteláns aos que atraíra ao castelo da Rocha numha pretendida juntança de negociaçom. Mais seguiu ainda em perene conflito coa gente da cidade, entre eles cum ferreiro da Porta do Caminho, de nome Joam Tuorum, que mandado matar polo arcebispo, e caminho da forca no monte da Almáciga (o meu bárrio!), morreu ao berro 'Pois padeço inocentemente e non hai quem me favoreça na terra, Virgem, vem e valme' (Antonio de la Iglesia, EL IDIOMA GALLEGO v. II, p. 116). Tempo máis tarde, e na sua memória, fixo-se em Bonaval esta image (IMAGEE, do latim IMAGINEM):

'ESTA : IMAGEE : HE : AQVI : POS
TA : POR: ALMA : D(E) : I(O)HA(N) : TVORUM'





À dereita da image, em renque co anterior:

'E(RA) M
CCCLX
VIII'

Que é o ano de 1368 – 38 = 1330. Outra vez, é interessante o emprego etimológico de G/J: IMAGEE do latim IMAGINEM, JOHAM do latim eclesiástico IOHANNEM, e arriba JANEIRO do latim IANUARIUM. Para os amantes de categorizar aos que nom pensam coma um mesmo isso há significar que os nossos devanceiros eram 'reintegratas' e falavam português, porém nom ser esse o caso: eles falavam galego e escreviam na própia ortografia histórica da nossa língua, travalhada ao longo dos séculos. Se a este meu blogue lhe trocamos lh por l e nh por n, teríamos umha aceitável continuaçom daquela ortografia nossa e própia:

'Sabiam quantos esta carta viren commo eu Domingo Peres de Sestello dito Manchon de boo curaçon et de boa voontade, vendo a vos Garcya Ferrnandes de Santa Maria Alta et a vossa muler Aldara Eanes, quatro leyras; a hunna ias sobrella ayra que foy de Domingo Pelaez de Matello et fer no regeyro da huna parte, et a outra leyra ias sobrel-los cassaes de Pedrouço, et iaz a par conna leyra que foy de Iohan Baluga et de seus hirmaos, et do outro cabo fer no orto que foy de Marina Pelaes; et as outras duas leyras iaçen a o Quintaal et partensse con Migeel Carvallo, feren no regeyro, con suas pertenenças, sub signo de Santa Maria Alta, et reçebo de vos en preço quatroçentos soldos da moneda del rey don Fernando de que soo ben pagado et entrego. Et obligo todos meus bees a vos faser senpre esta vençon sobredita de pas, des oye mays avedea senpre en pas vos et a vossa voz pus vos o meu senorio removudo et o poder. Feyta a carta da vençon XV dias de febreiro. Era de mill et CCC XLVI annos.
Testemoyas: Domingo Ferrnandes de Santa Maria Alta, Iohan Fernandes de d'Amyr ts.; Affonso Peres de Felmir; Maria Peres de Coesses ts.'
(Em BIBLIOGRAFÍA, Lugo XIV: 93, doc. 59 e aqui.)

Mais estando num mundo global e globalizado, ha-se-me perdoar empregar estes dous grafemas tirados da nossa língua irmá. Desculpem-me por esta incursom no
reverso tenebroso.

Se ides por Compostela, lembrade que a rua do Home Santo chama-se assi por um ferreiro, Joham Tuorum, que se ergueu com outros composteláns contra um senhor imposto e ruim, amoroso das obras públicas, mais de cativa memória.

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