Compostela

Som vários os topónimos galegos com etimologia latina que se apressentan formados mediante a preposiçom CUM máis um particípio, um adjectivo ou um substantivo. Hoje o significado original destes topónimos amiúdo nom é já transparente.


1.- Compostela ˂ latim COMPOSITELLAM 'Bem Feitinha'.


Som ao menos quatro as Compostelas galegas:

Compostela (14 hab.- Melide, Crunha)

Compostela (63 hab.- Lóvios, Ourense)

Compostela (6 hab.- Merca, Ourense)

Santiago de Compostela (76840 hab.- Santiago de Compostela, Crunha)




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- Compostela (Lóvios) -


Provém do latim COMPOSITELLAM, diminutivo afectivo de COMPOSITAM 'composta, bem feita, bem disposta', particípio de COMPONERE (com+por). Nada que ver co lendário 'Campo da Estrela', em referência à estrela que teria guiado a descoberta da tumba do apóstolo Santiago. Umha cita documental bem antiga é a seguinte: 'in suburbio patronis nostri beati Iacobi apostoli, loco predicto Compostelle' (Sobrado 955)

No Berço, em área de fala leonesa, hai tamém umha Compostilla.


2.- Comparada (59 hab.- Lousame, Crunha) ˂ latim COMPARATAM 'Reunida, disposta'.


O latim COMPARARE compom-se dum primeiro elemento, a preposiçom CUM, e máis o verbo PARARE 'preparar, fornecer'. Dai deriva a verba comprar.


3.- Conceado (34 hab.- Quiroga, Lugo) ˂ latim CONCELATUM 'Oculto'.


Concelatum é partícipio de CONCELARE 'ocultar', do verbo CELARE 'agachar, esconder'. Aqui CUM actua a jeito de partícula de superlativo.


4.- Conchouso (40 hab.- Peroja, Ourense) ˂ latim CONCLAUSUM 'Inacessível'.


Hai ao menos outro Conchouso na freguesia de Brués, em Boborás. CLAUSUM significa 'inacessível, fechado'. Por outra banda, o termo conchouso / conchouzo é verba viva no galego, co significado de 'cortelho, choupana, choça'. O significado medieval parece fazer simples referência ao cercado que fecha umha propiedade: 'et de ipso agro per ubi est conclauso tercia media integra, et de ipsa carrale tercia media' (Celanova 885)


5.- Condominha ˂ latim CONDOMINIA 'Propiedade em Mam-comum'.


Condominha / Condomiña (59 hab.- Ames, Crunha)

Condominha / Condomiña (48 hab.- Baralha, Lugo)

Condominha / Condomiña (7 hab.- Paradela, Lugo)

Condominha / Condomiña (11 hab.- Irijo, Ourense)

Condominha / Condomiña (12 hab.- Carinho, Coruña)

Condominhas / Condomiñas de Abaixo (5 hab.- Viveiro, Lugo)

Condominhas / Condomiñas de Arriba (15 hab.- Viveiro, Lugo)


Do latim CUM, máis DOMINIA 'propiedades': 'inde ad linares et inde ad illam lamellam de illa condominia de Ilioure' (TA 1020)


6.- Santa Maria de Conforto (freguesia com 330 hab.- Pontenova, Lugo) ˂ latim *CONFORTO 'Lugar bem defendido'.


CONFORTO seria um derivado deverbal *** de CONFORTARE 'fortificar, reforçar'.


7.- Confurco ˂ latim *CUMFURCUM 'Confluência, galho'.


Confurco (12 hab.- Moeche, Crunha)

Confurco (17 hab.- Padrom, Crunha)

Confurco (45 hab.- Sam Cristovo de Cea, Ourense)

Confurco (14 hab.- Ferrol, Crunha)

Confurco (58 hab.- Ponte-Areas, Pontevedra)


'per aquam de corrago; deinde per illas incruziliadas de subtus confurcu et inde ad illam penam de super confurcum' (CODOLGA: Caaveiro s. XII)


8.- Congostra ˂ latim *COANGUSTAM 'Moi estreita'.


Congostra (0 hab.- Ortigueira, Crunha)

Congostra (49 hab.- Covelo, Pontevedra)

Congostra (108 hab.- Vila Garcia de Arousa, Pontevedra)

Congostras (5 hab.- Irijoa, Crunha)

Congostras (47 hab.- Narom, Crunha)

Congostras (13 hab.- Meis, Pontevedra)

Congostro (10 hab.- Aranga, Crunha)

Santa Marinha de Congostro (148 hab.- Rairiz de Veiga, Ourense) ˂ 'in territorio Limie villa Congusto cum domos ab integro' (Celanova 950)


Outra vez tem aquí CUM, na forma CO-, a funciom de partícula de superlativo, reforçando o adjectivo ANGUSTA 'estreita'. Foneticamente deve resenhar-se que a epêntese de r é moi comum na Galiza, por repercussom de líquidas, coa conversom do grupo consonántico ˂ST˃ em ˂STR˃ (como na verba estrela ˂ latim ESTELLAM).


9.- Conguada (4 hab.- Palas de Rei, Lugo) ˂ latim *CONGULATAM 'Garganta, Gorja'


O latim GULATAM significa 'gorja, garganta, colo', e o seu contido semántico ('estreito') ve-se reforçado pola preposiçom CUM- neste topónimo.

A evoluçom do significante da-se por perda geral do l intervocálico.


10.- Convento ˂ latim *CONVENTUM 'Reuniom, juntança'.


CONVENTUM é participio de CONVENIRE 'reunir-se'. Na toponímia galega o seu valor é já o moderno, mosteiro - que é moito máis frequente-.


Convento (24 hab.- Laracha, Crunha)

Convento (1 hab.- Monfero, Crunha)

Convento (44 hab.- Poio, Pontevedra)


11.- Cospeito ˂ latim CONSPECTUM 'Visível, conspícuo'


Cospeito (10 hab.- Fonsagrada, Lugo)

Santa Maria de Cospeito (199 hab.- Cospeito, Lugo) ˂ 'in Montenigro uilla Conspectu' (sobrado s.d.)


CONSPECTUM é particípio pretérito de CONSPICERE 'observar, vigiar; chamar a atençom, ser conspícuo', e Conspeito alça-se num coto da Terra Chá.


O significante evolue da forma latina na galega mediante passos standard: [ns] ˃ [s:] e [ekt] ˃ [eit].



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como curiosidade, o cognato germánico da partícula latina CO- é GA-, que tamém achamos entre a toponímia germánica da Galiza:


12.- Gasalha ˂ protogermánico *ga-saljam 'casa comum'.


Gasalha / Gasalla (15 hab.- Baleira, Lugo)

Gasalha / Gasalla (8 hab.- Frades, Crunha)

Gasalha / Gasalla (25 hab.- Pastoriça, Lugo)


Etimologicamente, gasalha deve proceder directamente de *saljam 'casa', ou vem ser um deverbal de *saljan 'albergar, habitar'. Conhecemos a verba medieval gasalian / gasaliana 'persoa que convive'. Du Cange recolhe a verba do Languedoc gazalha (s.u. gasalia) co significado de 'rebanho de propiedade comunal', que poderia ou nom ter idêntica orige.


13.- Gasamáns (48 hab.- Ames, Crunha) ˂ protogermánico *ga-saman- 'com-reunidos'.


O topónimo penso que está formado por um adjectivo *samanos 'reunidos' (antigo alto alemám saman 'conjuntamente'), modificado e reforçado pola partícula ga-: *gasámanos ˃ *gasamános (o cámbio de tonicidade nom é trivial, mais afectou poderosamente à antroponímia germánica) ˃ *gasamãos ˃ Gasamans. Esta última evoluçom é a normal no ocidente da Galiza, como pode ver-se polo próximo lugar de Asturáns ˂ *Asturianos. Umha evoluçom distinta, e sem cambio de tonicidade, deu-se em Samos ˂ Samoos ˂ Samaos ˂ Sámanos.


Outra opçom, que nom require alteraçom da tonicidade, passa por que Gasamáns provenha dum genitivo *Gasamanis, dum antropónimo *Gasama; mais nom acho este nome na documentaçom galega medieval, ou no Altdeutsches Namenbuch de Förstemann. Si acho, porém, a forma seródia Gazamon: 'Azenda Petri de Baloni, uxor de Martino Pelaz, dictus Gazamon' (Sobrado 1207)


Algo máis sobre os dous últimos topónimos pode consultar-se aqui.



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E tamém hai possíveis celtismos, ou verbas de substrato, que tém originado alguns topónimos:


14.- Cômaro ˂ (?) protocéltico *kom-ar-o 'o que é arado em comum'.

Em galego cômaro, cômbaro e comareiro som terras nom traballadas entre propiedades, sendo verba já bem presente na Idade Média: 'discurrit ad illa ponte; et inde quomodo torna per illo comaro, super agro Donnini' (CODOLGA: Lugo 910). Sarmiento escrevia no século XVIII: 'Son aquellos límites entre dos heredades, o los términos de una, en que nace yerba y se pasta, porque no se labra.' Mais polo feito de non ser trabalhadas podem alcançar a elevar-se sobre os terreos circundantes, chegando a ser sinónimo de sebe e ainda de lomba. A evoluçom do significado é peculiar - si é que estou no certo nesta etimologia -, a terra que separava umhas propiedades passa de ser umha terra de cultivo em comum polos propietários, a nom ser trabalhada em absoluto, deixando-a a jeito de límite e lugar de passo. Na evoluçom do significante deve-se resenhar a epêntese de b polo contacto de m e r, como em Tambre ˂ *Tam're ˂ Tamare. Os meus reparos a esta etimologia devem-se a tonicidade da verba; nom teria eu moitas dúvidas se for **comaro, e nom cômaro, mais emtom tamém haveria dificuldade em explicar a epêntese do b.


Na toponímia maior nom é moi frequente este termo:


Cómaro Gordo (9 hab.- Travada, Lugo)

Combro (324 hab.- Vigo, Pontevedra)

Comareiro (39 hab.- Vimianço, Crunha)


Finalmente, penso que tamém combarro (sinónimo com celeiro, cabaceiro, hórreo e com forte presença toponímica) puidesse ser um composto prelatino *kom-barr- ˂ *kom-bars- 'tope-comum' (?), mais nom acho umha etimologia que resulte autenticamente satisfatória enquanto à evoluçom de significado e significante. A seguinte é a mención máis antiga de este termo da que eu tenha conhecemento: 'usque Maurale de rege, et per fontanum ubi sunt conbarros de fratres Pinne, et deinde in omano ad cellario fratres sancti Adriani' (Celanova 922)



Comentarios

  1. Que disilusión! Toda a vida pensando que Compostela quer dicir "Campo de estrelas"!

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  2. Hola, Anxo. Éche ben certo que as lendas do descobremento e da traslación do corpo do apóstolo son fermosas... Oes, pero que o nome da cidade de Santiago sexa algo así como Churriña. Xeitosiña, Benfeitiña ten o seu aquel :-) Unha aperta, que vai viruxe.

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  3. Agradecido por compartires os teus saberes.
    Queria-che comentar que para mim, para a minha família, os cômaros, som "taludes", nas agras. Depois de talvez milênios, as leiras vam colhendo forma de escaleira pola lomba do monte, esse chanço é um cômaro, separa as fincas a distinto nível, às vezes nem chega a um metro, e doutras pode ser de três ou mais. Aproveitam-se para plantar guindos, pexegueiros, e pertencem ao da propriedade que está por riba.
    Nom se confundem cos valados (separaçons de valos de terra, moi antigos), nem cos arredores, (pequena tira de erva darredor do terreo que permite virar as vacas e o arado sem entrar no alheo).
    Novamente agradecido polo teu blogue que estou debulhando com interesse.

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  4. Agradecido eu, que descubro hoje que sou um péssimo anfitriom! -desculpe a tardança em contestar-. Agradecido, porque reconheço que nom pertence esta verba ao meu repertório, e pouco hai tam agradável como a verba viva (aquele desculpe-me, que nom ouço! que também tenho eu sentido por estas terras barvançás ;-) E agradecido polo seu blogue.

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