Bascos e Vascos


Entre as gentes que no seu tempo vírom a habitar na Galiza, e que consequentemente som tamém os nossos devanceiros, estám os bascos, que tém deixado um bom número de topónimos, alguns máis evidentes que os outros:


  • Sam Martinho de Bascós (freguesia com 106 hab.- Monforte de Lemos, Lugo) ˂ ' Iohan Sutil, morador en na freyguesia de san Martino de Vããscõõs' (Pombeiro 1419) ˂ 'Contra parte orienti pro termino de Sendalizer; contra parte septentrioni per terminus de Basconis; contra occidenti pro terminis de Sancto Vincentio de Pino' (Pombeiro 935);

  • Bascois (23 hab.- Carvalheda de Valdeorras, Ourense)

  • Vascós (6 hab.- Maceda, Ourense)


Os anteriores derivam dumha forma Vascones [bas'kones], tónica na segunda sílaba, com evoluçom standard:


Vascones [bas'kones] ˃

˃ *Vascões (perda de n intervocálico com nasalizaçom da vogal anterior) ˃

˃ Vascõõs (assimilaçom de vocais em hiato) ˃

˃ Vascós (crase de vocais idênticas e desnasalizaçom).


Estranhamente o documento do ano 1419 presenta a grafia Vããscõõs, coa primeira vocal a longa -nom necessariamente nasalizada-, que nom tem bo acomodo co étimo Bascones (o Basconis de 935). Esta forma delata um provável cruze co antropónimo Vasco ˂ Vaasco ˂ Velasco, de orige escura, nem germánica nem greco-latina, e que achamos abondo documentado na Alta Idade Média galega, especialmente entre a nobreza; por isso suspeito que o nome é umha importaçom de Castela ou Álava. Como mostra:


'Sauarigo cum suis filiis et neptis, Velasco cum filiis et neptis, Sisnandus cum filiis et neptis suis' (TA 912)

'Cresconius presbiter ts. Velasco diaconus ts. Zezi diaconus ts.' (Celanova 927)

'Martinus Adrianiz genuit Velascum Martiniz' (Celanova s. X)

'Sisnandus ts., Velascus ts., Hermegildus ts' (sobrado 945)

'Garsea Nugariz. Rudericus Velasconi. Veremudus Hordoni cfr.' (Celanova 959)

'Rudericus prolis Velasconi hoc vere cfr. Pelagius diaconus prolis Ruderici ducis dextera mea' (Celanova 977)

'et que comparavimus in Corvelli villa de Nuno Velasci' (Samos 1026)


Deste nome deriva o nome medieval Vasco, e máis o apelido que, em diverso grado de afastamento etimológico, se escreve Vasques (forma tradicional galega, como pode ler-se por exemplo na documentaçom da sé de Lugo editada aqui) ˃ Vásquez (forma conservada nas Américas) ˃ Vázquez (forma máis comum hoje, baixo as formas ortográficas do espanhol). Ao nome Vasco corresponde-lhe o castelhano-leonês Blasco, e os apelidos Blázquez e Velázquez.


Tamém este nome tem deixado toponímia associada. O primeiro pode vir do genitivo ou locativo Velasconi ˃ Veasconi (perda /l/ intervocálico) ˃ Vaasconi (assimilaçom vocais idênticas em hiato) ˃ Vaascõi (perda /n/ intervocálico) ˃ Vascói (desnasalizaçom), ou tamém do antropónimo latino Vasconius -que nom atopo na documentaçom galega, si na asturiana-, Vasconii ˃ Vasconi ˃ Vascõi ˃ Vascói:


  • Santiago de Vascói / Bascoi (freguesia com 197 hab.- Messia, Crunha) ˂ 'de supra uia de Sadornini, et inde quomodo se diuidit Uascon ermo de Uillanoua, et inde per portum de Griohy' (Sobrado 1173)


O seguinte parte, suspeito, da forma Velasconi ˃ Veasconi ˃ Veascõi ˃ Veascõõ ˃ Veascom ˃ Viascom:


  • Santiago de Viascom / Viascón (freguesia com 406 hab.- Cotobade, Ponte Vedra)


Do genitivo Velasconis, correspondente a um acusativo Velasconem:


  • Santa Marinha de Veascós (freguesia com 142 hab.- Carvalhedo, Lugo) ˂ 'ecclesiam sancte Marine e iuxta montem Fariseo, villa que nuncupatur Vilascones' (CODOLGA: Ramirás 1082)

Do genitivo Velasci, correspondente a um acusativo Velascum, parte o topónimo:


  • Veasque (7 hab.- Ponteareas, Ponte Vedra)


A nom palatalizaçom de /ci/ amossa o tardio do topónimo -ou o errado da minha proposta-, que com todo deve ser anterior à perda do caso genitivo no romance da Galiza.


Finalmente, do acusativo Velasco, com evoluçom ˃ Vaasco ˃ Vasco; ou já na Baixa Idade Média desde a mesma forma Vasco:


  • Cas Vasco / Casvasco (4 hab.- Celanova, Ourense)

  • Muro do Vasco (6 hab.- Ortigueira, Crunha)


Estes topónimos anteriores som de todo alheos ao étnico basco, como tamém o é o seguinte, derivado do acusativo do nome feminino Velasquita ('Veremudus, prolis Ordonius rex; Velasquita uxor ipsius', Samos 981; e 'Veremudus nutu Dei rex confirmo. Velasquida regina confirmo', Samos 988)


  • Vasquida / A Basquida (11 hab.- Salzeda de Caselas, Ponte Vedra)



Voltando aos bascos, os máis dos topónimos que a eles nos remetem tém chegado na Galiza a um aspecto surpreendente e ainda suspeitoso, Báscuas. A evoluçom destes topónimos partem desde um étimo Báscones, tónico na primeira sílaba, idêntico a um bo numero de topónimos de Castela , Leom e Astúrias. Começarei pola exposiçom destes últimos:


  • Báscones (Astúrias)

  • Villabáscones (Burgos)

  • Villabáscones de Bezana (Burgos)

  • Báscones de Zamanzas (Burgos)

  • Báscones del agua (Burgos)

  • Zayas de Báscones (Soria)

  • Báscones de Ojeda (Palencia)

  • Báscones de Ebro (Palencia)

  • Báscones de Valdivia (Palencia)


Tamém na França, sem poder assegurar qual é a tonicidade original:


  • Bascons (Landes, Aquitánia)

  • Bascous (Gers, Pirenéus Centrais)


E em Portugal:


  • Vascões (Paredes de Coura, Viana do Castelo)

  • Bascos (Águeda, Aveiro)

  • Vascos (Vila Nova de Famalicão, Braga)


Co diminutivo afectivo:


  • Vasconcelos (Amares, Braga)


Que na Castela som:


  • Basconcillos (Burgos)

  • Basconcillos del Tozo (Burgos)


Nom podo assegurar em que momento se formárom estes topónimos, mais conhecendo a provável expansom basca da segunda metade do primeiro milénio -desde os Pirenéus e a Aquitánia, onde cita P. Mela um moi basco Eliumberrum 'cidade-nova' dos Ausci- é tentador propor que estes lugares teriam sido fundados por grupos de bascos num lento devagar cara ao oeste. Mais tamém podemos estar ante estabelecimentos bem organizados pola nobreza galego-leonesa. Seja como for, semelha estraordinario o valor dum documento lucense de 1032, editado por Risco no volume XL da España Sagrada, quando as gentes que viviam perto do Castro Lapio (Lábio, Lugo) dérom em se queixar ante o conde Ruderico Romaniz polas malfeitorias que faziam os bascos ali assentados, que de algum modo parece que tinham deixado de o reconhecer como senhor. Em resposta, este moveu os seus homes (barones, um germanismo antigo), junto cumha tropa de normandos, e assaltou e destruiu este castelo e os seus habitantes:


'iterum habuit comes Rudericos Romaniz suprinus ipsius Suarius Gundemariz, consilio agitato cum Vascones Galleciae, & rebellavit nobis, sicut auditur a multis commaneret. in ipsius quoque diebus coadunaverunt se abbates, & monachos, & omnem plebem sanctae Mariae, & querellaverunt se ad ipse comes de Vascones qui sedebant in ipsa penna dicentes, quod habebant de illos grande dampno, & malfacturia in ecclesias, & in meskinos de predas, & disrumptiones, & rausos & homicidios, & erat illa terra herma, & desolata. tunc vero coadunavit se ipse comes cum omnes suos barones, & cum Gens Leodomanorum, & cerravit ipa penna & pressit ea per fortia & cremavit & solavit ea.' (CODOLGA: Lugo 1032)


Claramente, esta Santa Maria é Santa Maria de Báscuas, na vizinhança do monte Lábio, e o tempo passado desde a migraçom deste bascos até o ano 1032 nom tinha apagado a sua etnicidade, polo que deduzo que nom tinha passado moito tempo. Extraordinária é tamém a presença de forzas normandas tam perto da cidade de Lugo.


De volta coa toponímia, o galego, por moito que se escoite outra cousa, é umha língua menos conservadora que o espanhol (metafonia e harmonizaçom vocálica; perda de l, n e d intervocálicos; perda de vogais átonas; epêntese de consoantes nasais em diversos contextos... som forças moi transformadoras, máis que a perda de f ou a reduçom dos ditongos romances) e disso é umha mostra a poderosa evoluçom que amossam os seguintes nomes de lugar:


  • Báscuas (10 hab.- Arçua, Crunha) ˂ 'ego Munnio villas meas in Flamoso, in Abiangos, Villantim, Vascones et Sancta Eolalia' (Celanova 986)

  • Báscuas (54 hab.- Padrom, Crunha)

  • Báscuas (101 hab.- Val do Dubra, Crunha)

  • Báscuas (14 hab.- Guitiriz, Lugo) ˂ 'terra Parrice, Uillanoua, Bacim, Uillar Plano, Sancto Uincentio, Castro Potamio, Uasconos, Sancta Maria' (Sobrado 1037)

  • Báscuas (8 hab.- Castro Verde, Lugo)

  • Santa Maria de Báscuas (freguesia com 82 hab.- Lugo, Lugo) ˂ 'vadit ad Villar Valenti; & inde jussu in Prono ad Vascones: & inde per illa Vereda, quae vadit ad illa Plana:' (CODOLGA: Lugo 1076)

  • Báscuas (60 hab.- Silheda, Ponte Vedra)

  • Santa Marinha de Báscuas (135 hab.- Vila de Cruzes, Ponte Vedra) ˂ 'sancta Marina de Uascones media. Cabeza de Bobus. Casale de Ferrario et Agerei' (Sobrado s.d.)

  • +Vascoes (extinto, por Ponte Vedra) , em 'O Deyan et Cabidoo de Santiago a mia Vina de Vascoes que he a par da villa de Ponte Vedra a qual he dezemo a deus saluo hua quarta de vino que hi ha o moesteyro de lerez cada ano a qual a min perteesce por herança do Cardeal nuno fernandez Et por compras et gaanças que de la fiz pero que mando que dem estes Deyam et Cabidoo de nouidade desta viña cada ano a esteuayña boa muller huun tonel de vino en todo tempo de sua vida.' (CDGH: 1375)


A evoluçom, é:


Váscones ˃

˃ Váscões (perda de /n/ intervocálico) ˃

˃ *Váscues (transformaçom de hiato em ditongo) ˃

˃ Váscuas


E vem confirmada pola historia evolutiva, de todo análoga, dos topónimos Brántuas e Cánduas:


Sam Jiám de Brántuas (freguesia com 172 hab.- Ponte Cesso, Crunha) ˂ 'et da frigresia de San Pero de Variço et de San Johan de Njnoos et de San Giao de Brantoes' (Mens: 1438);'estando eno lugar de Brantoes que he eno alfos da vjla de Malpica' (Mens: 1438) ˂ 'et uozes de vila que eu ajo et a mjn pertesçe enna fregesia de San Gião de Brantões' (Mens: 1391)


Sam Martinho de Cánduas (freguesia com 1107 hab.- Cabana de Bergantinhos, Crunha) ˂ 'aforamos o noso casal et herdades que jaz en San Martino de Candeos a que chaman o casal de Sinde' (Mens: 1473); 'Jtem en Ssaz a meadade da cassa et a meadade da jgleia de Ssant ‘ André et da igleia toda dam cada ano noue teeygas de trijgo ao moesteyro de Candoes' (TMILG: 1390); 'Item mando a Sam Martino de Quandoes quanto herdamento eu ey' (TTO: 1334) ˂ 'sci. Martini de Candones .X. modios de pane et tertiam uacarum' (CDGH: 1199)


Eis a distribuçom geográfica dos topónimos derivados de Bascones, Báscones e Basconcellos. Os topónimos parecem reunir-se em dous clusters, um máis extenso, de Braga até o centro de Astúrias, mais fundamentalmente galego, e outro castelám, no leste da meseta norte e ao abeiro dos montes cantábricos:




Comentarios

  1. Hai en Sober, na parroquia de Arroxos, un lugar con dúas ou tres casas vellas que se chama Bizcaia. Sempre me chamou a atención, non sei se tamén terá algo que ver con asentamentos de vascos.

    Parabéns polo blog, cheguei procurando por Eiré, a miña aldea, e estou lendo os posts atrasados.

    Saúdos

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  2. Un saúdo, Pablo, desculpa a tardanza en contestar.
    Coido que si, que tanto a Bizcaia en Arroxo (Sober), como a Vizcaia de Muro (Láncara) son de orixe vasca, mais probabelmente de non hai tanto tempo. Por unha banda Biscaia en vasco seica puido significar no pasado 'monte' ou 'cima', de xeito que as nosas Bizcaia / Vizcaia poderían ser orónimos postos por xentes de fala vasca. Mais por outra banda, e mais probabelmente, Vizcaia ou Bizcaia pode facer referencia á casa dalgún ou algúns biscaíños asentado entre nos, tal vez un ferreiro, nos últimos cinco séculos: *Casa do Bizcaia > Bizcaia. É unha posibilidade razoábel, penso.
    Que fermoso lugar é Eiré!

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  3. No concelho de Sam Genjo (Galiza) exsite a praia de Báscuas. (praia naturista ou nudista)

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